Antônio Carlos Sobral
Sousa*
A estrada percorrida,
desde o anuncio da Peste, até o momento atual, foi longa, sofrida e insegura.
Sem mencionar, as “muitas pedras encontradas no meio deste caminho”, promovidas
por uma legião de negacionista que incentivava a não adoção das medidas
comprovadamente protetoras, como o uso de máscaras e as vacinas, se valendo das
poderosas redes sociais, para disseminar suas Fake News, baseadas em relatos de
pseudocientistas.
Por outro lado, a
comunidade científica procurava entender o comportamento do ardiloso novo
coronavírus, com o intuito de gerar subsídios para a escolha do melhor caminho
de combate e de prevenção desse inimigo. A pandemia expôs a necessidade de o aprimoramento
do pensamento médico, com treinamento adequado, para evitar heurísticas e
vieses. O talento é imprescindível, mas não é suficiente. A carência de
pensamento refinado prejudica o julgamento clínico do médico, implicando,
consequentemente, em prejuízo na implementação das evidências científicas.
Apesar de os registros
diários de pessoas infectadas pelo SARS-Cov-2 e dos eventuais incrementos na
sua transmissibilidade, para muitos, a virose tornou-se um inconveniente
transitório, que promove alguns dias de sintomas e um curto período de
isolamento, o qual nem sempre é respeitado.
Para a maioria da
população, a temida doença não assusta como outrora e as máscaras deixaram de
ser vistas, mesmo em ambientes fechados, e é provável que também sejam peças
raras até nos atuais bailes de carnaval. Segundo interessante reflexão, recém
publicada no New England Journal of Medicine (DOI: 10.1056/NEJMp2213920), por
professores da Universidade Columbia, Nova York, as referidas mudanças,
alimentadas por prioridades econômicas e políticas, levaram à suposição geral
de que a pandemia ficou para trás e já é hora de baixar a guarda e de retomar a
vida pré-pandêmica.
A realidade, todavia,
contradiz a referida crença já que o impiedoso vírus ainda ceifa,
aproximadamente, 50 vidas de brasileiros, diariamente. Além disso, muitos ainda
apresentam complicações a curto e longo prazo da doença, sobretudo os
portadores de comorbidades que prejudicam sua resposta imune às vacinas ou que
os tornam especialmente vulneráveis às complicações da Covid-19.
Vale ressaltar, ainda,
que a ameaça do surgimento de uma nova variante do vírus que eventualmente
possa driblar as nossas defesas e a imunidade induzida pelas vacinas, não pode
ser desconsiderada. Estes fatos sinalizam que ainda vamos ter que conviver com
o intruso SARS-Cov-2 por um tempo imprevisível.
Os autores do citado
artigo ressaltam que estamos navegando em condições mais complexas do ponto de
vista social, econômico, político e clínico, além da necessidade de considerarmos
as lições aprendidas até o momento, com o enfrentamento da virose. A
politização da Covid-19, semeando desconfiança, proporcionando a disseminação
de desinformações, causando divisão profunda da população na percepção da
doença e na disposição de adotar as medidas protetoras, foi um lamentável erro.
É inegável que a
cobertura vacinal e as medidas protetoras têm nos proporcionado uma situação
bem mais confortável do que a do início da pandemia. Portanto, essa nova
realidade nos obriga a evitar o uso de linguagem alarmista e oferecer soluções
válidas e viáveis para trazer as pessoas para a nova fase não emergencial da
pandemia.
Finalizo, citando Mohandas Karamchand Gandhi: “A força não provém
da capacidade física. Provém de uma vontade indomável.
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