domingo, 12 de março de 2023

APITO DESCARADAMENTE AMIGO


  

 

José Lima Santana*

 

 

Não é de hoje, nem de ontem, que o futebol tem excrescências inomináveis. O famoso “apito amigo”, no dizer de comentaristas, dirigentes, atletas e torcedores tem favorecido estes ou aqueles clubes. Invariavelmente, todos, ou quase todos, têm o que reclamar nesse sentido. No mundo, no Brasil, em Sergipe, seja lá onde for.

Em abril de 2019, foi a vez de o Dorense Futebol Clube, do qual eu fui presidente por três vezes, ser garfado, em Itabaiana. Na época, publiquei o artigo “Dorense Futebol Clube: garfado em campo”? E dizia que: “A torcida do Dorense Futebol Clube está na bronca com a arbitragem da última peleja contra o Itabaiana, pela quarta rodada do hexagonal.

Um gol absurdamente anulado, que daria o empate ao Dorense, é a causa da bronca. Deveras, um erro crasso da arbitragem, como se pôde ver através de filmagens feitas e que rolam no YouTube. Ainda por cima, o árbitro auxiliar assinalou a validade do gol, correndo para o meio do campo, para, depois, recuar, ao ver que o árbitro invalidara o gol salvador do Dorense, sob pressão da comissão técnica do Itabaiana [ou seja, interferência externa, que é proibido]. As gravações mostram isso”.

O “apito amigo”, via de regra, favorece os clubes de maior expressão. Não se deve deixar de considerar que há erros de arbitragem involuntários. Não é o caso do “apito amigo”. Esse é aquele que ninguém, em sã consciência, deixa de vislumbrar um erro crasso, gravíssimo, com intenção de “ajudar”.

Na quinta-feira, dia 2, próximo passado, a vítima do “apito amigo”, descaradamente amigo, foi o Club Sportivo Sergipe, no jogo contra o Botafogo do Rio de Janeiro. O chamado “Glorioso” não perdeu a glória na atual Copa do Brasil, quando deveria ser, mais uma vez eliminado, na primeira fase, porque um árbitro mal-intencionado, para dizer o mínimo, solapou o Vermelhinho, primeiro ao prorrogar o segundo tempo por oito minutos, quando, na verdade, as interrupções não dariam cancha para tamanha prorrogação, além de acrescer mais um minuto, chegando a nove minutos de prorrogação, com três escanteios contra o Sergipe, em sequência, quando o último deles, provavelmente, não o teria sido.

E o gol salvador do Botafogo ocorreria passados os nove minutos determinados, aos nove minutos e trinta e alguns segundos. Empatado o jogo, o árbitro, inopinadamente, encerrou-o. Queria dar o empate classificatório ao clube carioca? Clube “grande” contra clube “pequeno”. Uma vergonha!

O resultado almejado acabou acabrunhando muitos torcedores do Botafogo. Muitos! Um deles, o governador do Estado, Fábio Mitidieri, proclamou a sua indignação, como sergipano, ao ver o nosso futebol garfado de forma aviltante e vergonhosa pelo árbitro, que fez uso descarado do “apito amigo”.

O Botafogo, claro, não tem nada a ver com isso.

Eis a lúcida e coerente fala do governador sergipano, botafoguense de raiz: “Eu espero que a Federação Sergipana de Futebol (FSF) entre com uma representação contra a CBF. Eu sou torcedor do Botafogo, mas o que a gente viu aqui hoje foi um roubo, roubaram o futebol sergipano.

É um escândalo, o Batistão estava bonito e não merecia isso. O Botafogo, pela sua grandeza não merecia isso, não merecia passar dessa forma, não precisa disso. Foi feio. A Federação tem que se manifestar. O que a gente viu hoje foi um escândalo no futebol sergipano [...]. Tirou o brilho do futebol e tirou o brilho da Copa do Brasil. Eu acho, inclusive, que diminuiu o tamanho do Botafogo com isso aqui”.

Já o presidente da FSF, Milton Dantas, afirmou: “Estamos pedindo a CBF apuração dos fatos e que os responsáveis sejam punidos. Ontem mesmo fizemos contato com a Diretoria da CBF para manifestar nossa indignação pela desastrosa atuação do trio de arbitragem e principalmente do árbitro-central. A arbitragem foi tendenciosa e trouxe um prejuízo irreparável para o Sergipe”. No dia 3, Dantas enviou o Ofício DCO 0303/2023 à Comissão de Arbitragem, dizendo que o árbitro “Cometeu equívoco, provado em áudio visual, na marcação do escanteio que ocasionou o gol de empate da equipe visitante”.

Segundo as regras da Copa do Brasil, e conforme consta, o Sergipe, assim garfado, perdeu R$ 900.000,00 (novecentos mil reais). Que falta fará aos seus cofres! Quem ressarcirá o Club Sportivo Sergipe dessa perda tão lamentável? Quem porá freio ao “apito amigo”, mormente contra os clubes “pequenos”? O que acontecerá com o tal árbitro? Talvez, nenhuma punição por parte da Comissão de Arbitragem da CBF. Deixá-lo sem apitar por uns poucos dias, somente isso. E olhe lá!

Não há, em tese, como respaldar a ação impensada do presidente do Sergipe, ao agredir o árbitro. Foi ruim. Inconcebível. Todavia, o “apito amigo”, dessa vez, deveria ser engolido. Não na porrada, claro. Mas, quem sabe, doravante, por causa da ação do presidente, os árbitros de fora pensem duas vezes em agir, aqui, como agiu o tal árbitro daquela malfadada quinta-feira. Contudo, o mal feito foi feito.

 

 

*Padre, desportista, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras, da Academia Dorense de Letras, da Academia Sergipana de Letras Jurídicas, da Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

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