José Lima Santana*
Não é de hoje, nem de ontem, que o
futebol tem excrescências inomináveis. O famoso “apito amigo”, no dizer de
comentaristas, dirigentes, atletas e torcedores tem favorecido estes ou aqueles
clubes. Invariavelmente, todos, ou quase todos, têm o que reclamar nesse
sentido. No mundo, no Brasil, em Sergipe, seja lá onde for.
Em abril de 2019, foi a vez de o
Dorense Futebol Clube, do qual eu fui presidente por três vezes, ser garfado,
em Itabaiana. Na época, publiquei o artigo “Dorense Futebol Clube: garfado em
campo”? E dizia que: “A torcida do Dorense Futebol Clube está na bronca com a
arbitragem da última peleja contra o Itabaiana, pela quarta rodada do
hexagonal.
Um gol absurdamente anulado, que
daria o empate ao Dorense, é a causa da bronca. Deveras, um erro crasso da
arbitragem, como se pôde ver através de filmagens feitas e que rolam no
YouTube. Ainda por cima, o árbitro auxiliar assinalou a validade do gol,
correndo para o meio do campo, para, depois, recuar, ao ver que o árbitro
invalidara o gol salvador do Dorense, sob pressão da comissão técnica do
Itabaiana [ou seja, interferência externa, que é proibido]. As gravações
mostram isso”.
O “apito amigo”, via de regra,
favorece os clubes de maior expressão. Não se deve deixar de considerar que há
erros de arbitragem involuntários. Não é o caso do “apito amigo”. Esse é aquele
que ninguém, em sã consciência, deixa de vislumbrar um erro crasso, gravíssimo,
com intenção de “ajudar”.
Na quinta-feira, dia 2, próximo
passado, a vítima do “apito amigo”, descaradamente amigo, foi o Club Sportivo
Sergipe, no jogo contra o Botafogo do Rio de Janeiro. O chamado “Glorioso” não
perdeu a glória na atual Copa do Brasil, quando deveria ser, mais uma vez
eliminado, na primeira fase, porque um árbitro mal-intencionado, para dizer o
mínimo, solapou o Vermelhinho, primeiro ao prorrogar o segundo tempo por oito
minutos, quando, na verdade, as interrupções não dariam cancha para tamanha
prorrogação, além de acrescer mais um minuto, chegando a nove minutos de
prorrogação, com três escanteios contra o Sergipe, em sequência, quando o
último deles, provavelmente, não o teria sido.
E o gol salvador do Botafogo
ocorreria passados os nove minutos determinados, aos nove minutos e trinta e
alguns segundos. Empatado o jogo, o árbitro, inopinadamente, encerrou-o. Queria
dar o empate classificatório ao clube carioca? Clube “grande” contra clube
“pequeno”. Uma vergonha!
O resultado almejado acabou
acabrunhando muitos torcedores do Botafogo. Muitos! Um deles, o governador do
Estado, Fábio Mitidieri, proclamou a sua indignação, como sergipano, ao ver o
nosso futebol garfado de forma aviltante e vergonhosa pelo árbitro, que fez uso
descarado do “apito amigo”.
O Botafogo, claro, não tem nada a ver
com isso.
Eis a lúcida e coerente fala do
governador sergipano, botafoguense de raiz: “Eu espero que a Federação
Sergipana de Futebol (FSF) entre com uma representação contra a CBF. Eu sou
torcedor do Botafogo, mas o que a gente viu aqui hoje foi um roubo, roubaram o
futebol sergipano.
É um escândalo, o Batistão estava
bonito e não merecia isso. O Botafogo, pela sua grandeza não merecia isso, não
merecia passar dessa forma, não precisa disso. Foi feio. A Federação tem que se
manifestar. O que a gente viu hoje foi um escândalo no futebol sergipano [...].
Tirou o brilho do futebol e tirou o brilho da Copa do Brasil. Eu acho,
inclusive, que diminuiu o tamanho do Botafogo com isso aqui”.
Já o presidente da FSF, Milton
Dantas, afirmou: “Estamos pedindo a CBF apuração dos fatos e que os
responsáveis sejam punidos. Ontem mesmo fizemos contato com a Diretoria da CBF
para manifestar nossa indignação pela desastrosa atuação do trio de arbitragem
e principalmente do árbitro-central. A arbitragem foi tendenciosa e trouxe um
prejuízo irreparável para o Sergipe”. No dia 3, Dantas enviou o Ofício DCO
0303/2023 à Comissão de Arbitragem, dizendo que o árbitro “Cometeu equívoco,
provado em áudio visual, na marcação do escanteio que ocasionou o gol de empate
da equipe visitante”.
Segundo as regras da Copa do Brasil,
e conforme consta, o Sergipe, assim garfado, perdeu R$ 900.000,00 (novecentos
mil reais). Que falta fará aos seus cofres! Quem ressarcirá o Club Sportivo
Sergipe dessa perda tão lamentável? Quem porá freio ao “apito amigo”, mormente
contra os clubes “pequenos”? O que acontecerá com o tal árbitro? Talvez,
nenhuma punição por parte da Comissão de Arbitragem da CBF. Deixá-lo sem apitar
por uns poucos dias, somente isso. E olhe lá!
Não há, em tese, como respaldar a
ação impensada do presidente do Sergipe, ao agredir o árbitro. Foi ruim.
Inconcebível. Todavia, o “apito amigo”, dessa vez, deveria ser engolido. Não na
porrada, claro. Mas, quem sabe, doravante, por causa da ação do presidente, os
árbitros de fora pensem duas vezes em agir, aqui, como agiu o tal árbitro daquela
malfadada quinta-feira. Contudo, o mal feito foi feito.
*Padre, desportista, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras, da Academia Dorense de Letras, da Academia Sergipana de Letras Jurídicas, da Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
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