Jamile Oliveira
Costa*
Antônio Carlos
Sobral Sousa**
A
Insuficiência Cardíaca (IC) constitui uma síndrome clínica complexa,
caracterizada pela incapacidade de o coração bombear sangue no volume
necessário para atender às necessidades metabólicas do organismo, apresentando
sintomas recorrentes que comprometem, significativamente, a qualidade de vida
dos doentes e familiares próximos.
Apesar
dos avanços terapêuticos, a sobrevida após o diagnóstico de IC, aumentou
modestamente nas últimas décadas, ficando atrás de outras condições graves como
o câncer, abrindo espaço, portanto, para novas estratégias de tratamento. A
desnutrição é uma condição clínica negligenciada, que afeta parcela
significativa de portadores da referida doença e esta associação pode decorrer,
também, de dieta inadequada. Estima-se que a IC seja responsável por 21% das
internações e por 10,8% das causas de morte por doença cardiovascular no Brasil.
Entre
os principais fatores etiológicos da IC, destacam-se as síndromes coronarianas,
a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), as valvopatias, as cardiopatias
congênitas e as miocardiopatias (alcoólica, doença de Chagas, certas drogas
oncológicas, doenças endócrinas e nutricionais, dentre outras).
As
principais Diretrizes para o tratamento de IC, recomendam, além do uso dos medicamentos
preconizados, a adoção de medidas de mudança do estilo de vida, tais como,
abolir o uso de tabaco e de álcool, praticar exercícios físicos regulares, de
acordo com a condição clínica do enfermo e ter uma dieta adequada.
O
foco central da alimentação é evitar a ingestão excessiva de carboidrato
simples, de gordura (saturada e trans) e de sódio, priorizando as fontes de
carboidratos complexos e as gorduras inofensivas (mono e poli-insaturadas). Tais
medidas visam aumentar a capacidade funcional e qualidade de vida do paciente.
Porém,
de acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar (2017-2018) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente, a dieta da população
brasileira apresenta alto teor calórico, maior consumo de carnes, de leite e de
derivados ricos em gorduras, e baixo consumo de frutas, cereais, verdura e
legumes.
Com
o objetivo de identificar o padrão alimentar de pacientes internados com IC, tanto
entre os usuários do SUS e como os da Rede Suplementar (RS) de saúde, a
orientanda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Sergipe (PPGCS-UFS), Jamile Oliveira Costa, realizou a sua Tese de
Doutorado, cujo produto foi recém-publicado no periódico Nutrients (DOI:
10.3390/nu14050987).
A
investigação faz parte do Registro de Insuficiência Cardíaca (VICTIM-CHF) de
Sergipe e constou de 240 voluntários hospitalizados em 03 unidades referência
em cardiologia em Aracaju, sendo 67,5% assistidos pelo SUS. Foram identificados
três padrões alimentares: o “Tradicional”, típico da população nordestina (feijão,
arroz, massas, cuscuz de milho, raízes e tubérculos, ovos e farinha de mandioca
somados a alimentos ultra processados como doces, sobremesas, lanches e
embutidos); o “Mediterrâneo”, composto por alimentos ricos em nutrientes mais
saudáveis como carboidrato complexo, vitaminas e minerais, gordura
poli-insaturada e proteínas e rejeita o consumo de açúcar simples, dos
refrigerantes e da gordura saturada.
Este
padrão, semelhante à dieta Mediterrânea, é rico em elemento cardioprotetores e
tem sido associado não apenas à diminuição na incidência de IC, como, também,
nos seus desfechos indesejáveis; e o “Dual”, composto por alimentos de fácil
preparo como os lanches, pães, doces e sobremesas, ricos em carboidrato
simples, mas também em açúcares complexos e gorduras boas oriundas da sopa e
azeite de oliva.
A
adesão ao padrão “Tradicional” foi mais frequente entre os homens e os não
diabéticos. Já o “Mediterrâneo” foi o mais consumido pelos idosos, os casados,
os com menor renda e aqueles não portadores de HAS. Finalmente, o padrão
alimentar “duplo” teve maior adesão pelos idosos, os que se autodeclararam não
negros, os com maior renda, os atendidos no setor privado e os que apresentavam
capacidade funcional menos prejudicada. Todavia,
independentemente da assistência de saúde utilizada, foi observada baixa adesão
aos elementos cardioprotetores nas dietas utilizadas.
Portanto,
o conhecimento do padrão alimentar da referida população, deixa patente a
necessidade de implementação de estratégias de educação alimentar e nutricional
que incentivem a adoção de ingredientes mais saudáveis, semelhante aos encontrados
na dieta do Mediterrâneo, com elementos potencialmente protetores dos agravos e
limitações na qualidade de vida que a IC pode causar.
* Nutricionista e participante do Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Sergipe (PPGCS-UFS).
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