Antônio
Carlos Sobral Sousa*
Apesar de a
Covid-19 geralmente apresentar um caráter benigno em crianças menores de cinco
anos de idade, podem ocorrer casos graves, necessitando hospitalizações e
causando mortes, além das complicações pós agudas, incluindo a temida síndrome
inflamatória multissistêmica.
Segundo
dados emitidos pela equipe Observa Infância da Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ),
no ano de 2022 o Brasil registrou uma morte por dia em crianças de 6 meses a 5
anos de idade, diagnosticadas com a Covid-19. Nos Estados Unidos, o cenário não
foi diferente, já que em janeiro de 2022, durante o período inicial de
predominância da contaminação com a variante B.1.1.529 (Ômicron) do SARS-Cov-2,
a taxa de hospitalizações entre crianças menores do que cinco anos de idade foi
cinco vezes maior do que no período de predominância da cepa B.1.617.2 (delta)
do referido vírus.
Vale
ressaltar, ainda, que a maioria (63%) das crianças hospitalizadas por Covid-19
no ano passado naquele país, não exibiam comorbidades. Tem sido alertado,
também, que crianças podem desempenhar papel significativo na disseminação de
variantes altamente transmissíveis.
No entanto,
a imunização de crianças contra a Covid-19 avança em ritmo lento no Brasil.
Segundo dados do Vacinômetro Covid-19 (Ministério da Saúde) analisados pelo
Observa Infância em 28 de novembro, apenas 7 de cada 100 crianças de 3 e 4 anos
receberam as duas doses da vacina.
Do total de
5,9 milhões de crianças nessa faixa etária, somente 1.083.958 tomaram a
primeira dose da vacina contra a virose, enquanto 403.858 completaram a
imunização com a segunda dose. A situação é mais preocupante, porque também tem
sido registrada perigosa queda da cobertura vacinal contra outras viroses que
também acometem a população infantil.
Segundo
dados divulgados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a taxa
de vacinação infantil no Brasil vem sofrendo uma queda significativa, colocando
o país entre os dez com pior desempenho no mundo. De acordo com o Ministério da
Saúde, essa queda foi de 97%, em 2015, para 75% em 2020, sendo a BCG a menos
utilizada entre 9 vacinas analisadas pelo DataSUS.
Diferentemente
da Coronavac, que utiliza o vírus inativado em sua composição, e do imunizante
da AstraZeneca/Oxford, que utiliza o chamado “vetor viral”, a vacina da
Pfizer/BioNtech utiliza outra biotecnologia: o mRNA (ácido
ribonucleico mensageiro). As vacinas contra a Covid-19 têm apresentado, de
forma geral, o decaimento dos anticorpos com o tempo, justificando a avaliação
periódica da necessidade de aplicação de doses de reforço, com o objetivo de
manter níveis adequados de anticorpos capazes de neutralizar o vírus causador
da doença.
A
vacina “Comirnaty” produzida pela farmacêutica norte-americana Pfizer, em
parceria com o laboratório de biotecnologia alemã BioNTech, em uso no Brasil
está registrada junto à Anvisa desde 23 de fevereiro de 2021, com indicação
para imunização de ampla faixa etária, iniciando-se a partir de 6 meses de
idade. No final do ano passado, o referido órgão regulatório autorizou a
aplicação de uma dose de reforço ao esquema vacinal primário em crianças a
partir de 5 anos e adolescentes.
Foi
recém-publicado, no prestigiado periódico New England Journal of Medicine (DOI:
10.1056/NEJMoa2211031), um artigo que aborda o uso da terceira dose (reforço)
da vacina BNT162b2 (Pfizer–BioNTech), 8 semanas após a segunda dose em crianças
de 6 meses a 4 anos de idade.
Os
autores concluíram que o produto é seguro, imunogênico e eficaz também nesta
faixa etária. Vale frisar que, durante o período da investigação, não foi
relatado nenhum caso de miocardite, pericardite ou de anafilaxia promovido pelo
imunizante. Finalizo citando o professor e estatístico estadunidense William
Edwards Deming: “In God we trust; all others must bring data” (“em Deus nós
confiamos; todos os outros devem trazer dados”).
* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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