Antônio Carlos Sobral Sousa*
A Lei de Cotas (art. 93 da Lei nº 8.213/91) foi promulgada
há três décadas para assegurar a inclusão no mercado de trabalho brasileiro.
Ela estabelece que empresas com cem ou mais empregados devem preencher uma
parte dos seus cargos com pessoas com deficiência. Todavia, ainda enfrenta
desafios para ser amplamente cumprida.
Nos municípios pequenos, por exemplo, as chances de postos
formais são mais reduzidas, porque os pequenos negócios da economia local não
estão sujeitos à obrigatoriedade de reserva de vagas. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 28,3% dos deficientes
brasileiros estão trabalhando. Taxa significativamente inferior à daqueles sem
deficiência, 66,3%. Além disso, os deficientes exibem rendimento médio mensal também
inferior.
Ainda, segundo o referido Órgão Federal, a taxa de
participação no mercado de trabalho varia de acordo com o tipo de deficiência
apresentada: visual 37%; auditiva 28%; física (membros superiores) 17,9%;
física (membros inferiores) 16,9%; mental 5,3% e, mais de uma deficiência
12,9%.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua do IBGE, realizada durante a pandemia, evidenciou que 13,2% dos
brasileiros estavam desempregados no ano de 2021, caindo para 9,3% no ano
seguinte. Estes dados refletem uma tendência mundial, contudo, segundo a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), a recuperação na América Latina
tem sido mais lenta do que o restante do mundo, refletindo, provavelmente, a
continuidade da virose, agora protagonizada pela variante Ômicron do
SARS-Cov-2.
Foi recém-publicada, no prestigiado periódico JAMA (DOI:
10.1001/jamanetworkopen.2023.3364), uma pesquisa que visou avaliar a perda de
emprego e a dificuldade financeira de portadores de deficiência, durante a
Covid-19 nos Estados Unidos.
Em uma amostra de, aproximadamente, 223 milhões de adultos
(mulheres 51,4% e hispânicos ou latinos 16,9%), 10,9% apresenta algum grau de
deficiência: visual, auditiva, física ou cognitiva. Destes, 17,1% relataram
perda do emprego e 26,1% admitiram dificuldade financeira doméstica. Após os
ajustes adequados, os autores concluíram que os portadores de deficiência,
sobretudo múltiplas, apresentavam quase duas vezes mais chance de perder o
emprego e eram mais propensos a relatar dificuldades financeiras em comparação
com aqueles sem deficiência.
Portanto, a Covid-19 além da perda de vidas preciosas, trouxe
inúmeras consequências negativas para a população, sendo mais impiedosa com as
classes menos favorecidas, como a dos deficientes. Cabe aos gestores públicos
lançarem mão de artifícios para ajudar as pessoas com deficiência a recuperar e
manter seus empregos, como mecanismo para reduzir as dificuldades financeiras
dessa população.
Finalizo citando o icônico cantor e compositor
britânico, John Lennon: “É uma falta de responsabilidade esperarmos que alguém
faça as coisas por nós”.
*Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro
das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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