Antônio
Carlos Sobral Sousa*
Quando
a Covid-19 surgiu, na longínqua cidade de Wuhan, capital da província de Hubei,
na China Central, muitos acreditavam que ela teria o mesmo fim das epidemias
causadas por outros agentes da família “Coronavírus”, a SARS (2003) e a MERS
(2012), ou seja, que seria facilmente controlada e, portanto, não atravessaria
o Atlântico.
Mesmo
quando começou a pipocar o crescente número de contaminados e de mortes Brasil
afora, provavelmente poucos seriam capazes de prever que, um dia uma população
maior do que a da atual capital de Sergipe, Aracaju, iria sucumbir por obra da
malquista peste.
Todavia,
na última semana de abril, precisamente no dia 28, o Brasil atingiu a triste
marca de 700.000 mortes causadas pelo impiedoso SARS-Cov-2. Curiosamente, este
inimaginável acontecimento causou menos alarde do que quando foi ultrapassada a
barreira das 100.000 vítimas, em 8 de agosto de 2020.
Já
se passaram três anos da decretação da pandemia da Covid-19 e o ardiloso
SARS-Cov-2 continua a circular entre nós, com “roupagem” diferente da cepa
original, atualmente caracterizada pela variante Ômicron. Apesar dessa
constatação, a queda progressiva do número de casos e de mortes causados pela
virose, protagonizada pelas vacinas, e aliada ao cansaço da população às
medidas preventivas, tem provocado um relaxamento natural e a sensação de que
conseguimos voltar a uma vida próximo do normal.
As
vacinas, portanto, foram vítimas de seu próprio sucesso, já que a percepção de
risco diminuiu e muita gente acredita que a pandemia é coisa do passado. A
vacinação continua a ser o principal armamento no combate a essa crise
sanitária que reluta em desaparecer e o Ministério da Saúde tem recomendado que
todos os integrantes dos grupos prioritários (idosos com 60 anos ou mais,
imunodeprimidos, indígenas, pessoas com deficiência permanente, dentre outros),
recebam o reforço com a vacina bivalente contra o novo coronavírus, já que a
mesma oferece proteção contra a cepa original do vírus e contra as variantes
que surgiram posteriormente, incluindo a Ômicron.
O
referido Órgão ressalta ainda que, para receber o imunizante, é preciso ter
completado o esquema primário com as vacinas monovalentes e respeitar um prazo
mínimo de quatro meses desde a última dose recebida. Merece enfatizar, também,
que a segurança e a eficácia dos imunizantes monovalentes e bivalentes, na
redução de casos graves e mortes pela virose, estão respaldadas por
investigações sérias e metodologicamente bem conduzidas.
Vale
ressaltar que, uma parcela significativa dos pacientes que sobrevivem à fase
aguda da Covid-19 apresenta uma constelação de sintomas, sobretudo dispneia,
fadiga, palpitação, dentre outros, que duram pelo menos dois meses, podendo
ultrapassar um ano. Este quadro clínico é conhecido como Covid Longa, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), Condição Pós Covid-19 (CPC).
Foi
recém publicada, no prestigiado periódico JAMA (DOI:
10.1001/jamainternmed.2023.0750), uma revisão sistemática e meta-análise que
incluiu 41 artigos científicos e 860.783 pacientes, visando identificar fatores
de risco ou preditores de CPC.
Os
autores concluíram que aqueles do sexo feminino, idosos, obesos, tabagistas e
os que apresentavam algumas comorbidades (asma, DPOC, diabetes, ansiedade /
depressão e imunodepressão), eram significativamente mais propensos a
desenvolver CPC. Por outro lado, os indivíduos que foram vacinados contra o
SARS-Cov-2 com duas doses, tiveram proteção contra as sequelas da CPC.
Este
último achado, está em consonância com o relatório do Escritório Nacional de
Estatística do Reino Unido (DOI:10.1016/S1473-3099(21)00460-6), que encontraram
um risco 42% menor de CPC após 2 doses de vacina contra Covid-19.
Finalizo citando o físico alemão, Albert Einstein: “Triste época.
É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.
* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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