José Lima Santana*
Na década
de 1970, os estudantes universitários eram obrigados a cumprir dois períodos de
Educação Física. No primeiro período, em março de 1977, como todo calouro, lá
estava eu de calção azul e camiseta branca, para Educação Física I. Professor
Pedro Jorge, muito jovem. Noutra turma, o professor Sérgio Giansanti.
Fomos
fazer exercícios no matagal do atual Campus do Rosa Elze. Como chegar lá? Só
quem tinha carro. A estrada era de terra. A ponte sobre o Rio Poxim era de
madeira. Um colega, Rui Penalva, tinha carro. Peguei carona. Correr no matagal.
Fazer uns poucos exercícios de alongamento num cimentado retangular, onde,
agora, se situa a pista de alta resistência, construída na gestão do reitor
Angelo Roberto Antoniolli. Ir para aquele matagal, era um sacrifício para todo
mundo que não tinha carro.
Para a
sorte de todos os calouros, na segunda semana, uma menina viu uma cobra.
Escândalo! Nunca mais fomos para lá. Passamos a nos exercitar na Praça
Camerino. De um lado, os meninos; do outro, onde se situa a sede do SEPUMA, as
meninas. Às vezes, alguns meninos não conseguiam se concentrar. O professor
Pedro Jorge fazia a turma correr, descendo a Barão de Maruim e seguindo pela
antiga Beira Mar. Eu nunca fiz esse percurso. Quando a turma, com o professor à
frente, entrava na Beira Mar, eu me sentava debaixo de um oitizeiro da Barão e
ali ficava, aguardando a turma voltar. Correr? Não era comigo.
Um
tormento, era a tal educação física. Ao menos, para mim. No segundo semestre,
matriculei-me em Natação. As aulas eram dadas no complexo aquático do Batistão.
Fiquei sabendo por um colega, que o professor, que eu nem sabia quem era, só
aceitava alunos que soubessem nadar. Não era comigo. Nunca aprendi a nadar. Até
que tentei, ou melhor, meu pai até que tentou me ensinar no açude de Dores.
Bebi muita água, achei que ia morrer. Trauma. Água boa é a de chuveiro.
Reprovei por faltas em Natação. No terceiro semestre, matriculei-me em Judô. No
dia da primeira aula, lá fui eu de quimono debaixo do braço, para o prédio da
Praça Camerino, onde funciona o Juizado Especial Federal. Lá encontrei o
professor de Judô, um nissei, atarracado, de quimono encardido, dando pancada
nos meninos. Voltei para a “república”, na mesma hora. Outra reprovação por
faltas. O que seria de mim?
Quarto período.
Agora, sim. Matriculei-me em Atletismo. Não fui um só dia às aulas. Mais uma
reprovação por faltas. O que fazer? Decidi que só me matricularia no último
período do curso de Direito, que, naquela época, era de quatro anos. Pouco
tempo. Os semestres foram passando, e eu me preparando para deixar a
Universidade. Teria que encarar a bendita educação física, no oitavo período.
Surpresa! Eis que ocorreu uma reforma curricular. Quem tinha feito Educação
Física I, ganhou a II. Livrei-me. Ufa!
Em 21 de
março de 1978, menos de um ano como funcionário do TCE, eu apresentei ao Dr.
Juarez Alves Costa, o meu pedido de exoneração. O presidente argumentou que eu
deveria ficar, que tinha chances de crescer no Tribunal, mas, não fui demovido
do meu intento de fazer o meu curso. Como recordação, os colegas da CCE
deram-se um exemplar do Código Civil, autografado por todos eles. Eu já
ensinava, desde março do ano pretérito, no Colégio Cenecista Regional
“Francisco Porto”, onde fiz o meu curso ginasial, entre 1967 e 1970, na minha
terra natal. Em junho, o professor Nicodemos Correia Falcão, superintendente
estadual da CNEC, por indicação do professor Gisélio Gonçalves Lima, nomeou-me
diretor do “Francisco Porto”, aos 23 anos de idade. Ali fiquei por 19 anos e 4
meses.
Em março
de 1979, um colega de turma, Fabiano, ofereceu-me, para substitui-lo, as aulas
de Educação Moral e Cívica e Religião, à tarde, no Colégio Salesiano. Eram
cinco aulas de segunda a quinta-feira e quatro aulas na sexta-feira. Aceitei.
Dois dos meus alunos, no Salé, foram o atual procurador da UFS, Paulo Celso e o
empresário Emanuel Oliveira. Nesse tempo, eu era um dos coordenadores do TLC –
Treinamento de Liderança Cristã, na Arquidiocese de Aracaju, responsável pela
Pastoral da Juventude (de abril de 1976 a maio de 1982). O então Bispo Auxiliar
de Aracaju, Dom Edvaldo Gonçalves Amaral, insistia para que eu fosse para o
Seminário. Ele dizia que eu tinha vocação sacerdotal. Eu achava que não. O
tempo, porém, diria que ele tinha razão.
No dia 9
de março de 1979, uma quarta-feira, meu pai morreu, aos 45 anos de idade.
Morreu dormindo. Um golpe duríssimo para mim. Papai queria que fosse advogado e
escritor. Mas, só me disse isso após a minha aprovação no vestibular. Ele
faleceu um ano antes da minha formatura. Sem a presença dele, eu preferi não
ter nenhuma fotografia da solenidade de colação de grau. Publiquei meu primeiro
livro, de poemas, em 1989, dedicado a ele.
*Padre, advogado professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras, da Academia Sergipana de Letras Jurídicas, da Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
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