domingo, 16 de abril de 2023

OCORRÊNCIAS NO INÍCIO DO CURSO DE DIREITO

 

 

José Lima Santana*

 

 

Na década de 1970, os estudantes universitários eram obrigados a cumprir dois períodos de Educação Física. No primeiro período, em março de 1977, como todo calouro, lá estava eu de calção azul e camiseta branca, para Educação Física I. Professor Pedro Jorge, muito jovem. Noutra turma, o professor Sérgio Giansanti.

Fomos fazer exercícios no matagal do atual Campus do Rosa Elze. Como chegar lá? Só quem tinha carro. A estrada era de terra. A ponte sobre o Rio Poxim era de madeira. Um colega, Rui Penalva, tinha carro. Peguei carona. Correr no matagal. Fazer uns poucos exercícios de alongamento num cimentado retangular, onde, agora, se situa a pista de alta resistência, construída na gestão do reitor Angelo Roberto Antoniolli. Ir para aquele matagal, era um sacrifício para todo mundo que não tinha carro.

Para a sorte de todos os calouros, na segunda semana, uma menina viu uma cobra. Escândalo! Nunca mais fomos para lá. Passamos a nos exercitar na Praça Camerino. De um lado, os meninos; do outro, onde se situa a sede do SEPUMA, as meninas. Às vezes, alguns meninos não conseguiam se concentrar. O professor Pedro Jorge fazia a turma correr, descendo a Barão de Maruim e seguindo pela antiga Beira Mar. Eu nunca fiz esse percurso. Quando a turma, com o professor à frente, entrava na Beira Mar, eu me sentava debaixo de um oitizeiro da Barão e ali ficava, aguardando a turma voltar. Correr? Não era comigo.

Um tormento, era a tal educação física. Ao menos, para mim. No segundo semestre, matriculei-me em Natação. As aulas eram dadas no complexo aquático do Batistão. Fiquei sabendo por um colega, que o professor, que eu nem sabia quem era, só aceitava alunos que soubessem nadar. Não era comigo. Nunca aprendi a nadar. Até que tentei, ou melhor, meu pai até que tentou me ensinar no açude de Dores. Bebi muita água, achei que ia morrer. Trauma. Água boa é a de chuveiro. Reprovei por faltas em Natação. No terceiro semestre, matriculei-me em Judô. No dia da primeira aula, lá fui eu de quimono debaixo do braço, para o prédio da Praça Camerino, onde funciona o Juizado Especial Federal. Lá encontrei o professor de Judô, um nissei, atarracado, de quimono encardido, dando pancada nos meninos. Voltei para a “república”, na mesma hora. Outra reprovação por faltas. O que seria de mim?

Quarto período. Agora, sim. Matriculei-me em Atletismo. Não fui um só dia às aulas. Mais uma reprovação por faltas. O que fazer? Decidi que só me matricularia no último período do curso de Direito, que, naquela época, era de quatro anos. Pouco tempo. Os semestres foram passando, e eu me preparando para deixar a Universidade. Teria que encarar a bendita educação física, no oitavo período. Surpresa! Eis que ocorreu uma reforma curricular. Quem tinha feito Educação Física I, ganhou a II. Livrei-me. Ufa!

Em 21 de março de 1978, menos de um ano como funcionário do TCE, eu apresentei ao Dr. Juarez Alves Costa, o meu pedido de exoneração. O presidente argumentou que eu deveria ficar, que tinha chances de crescer no Tribunal, mas, não fui demovido do meu intento de fazer o meu curso. Como recordação, os colegas da CCE deram-se um exemplar do Código Civil, autografado por todos eles. Eu já ensinava, desde março do ano pretérito, no Colégio Cenecista Regional “Francisco Porto”, onde fiz o meu curso ginasial, entre 1967 e 1970, na minha terra natal. Em junho, o professor Nicodemos Correia Falcão, superintendente estadual da CNEC, por indicação do professor Gisélio Gonçalves Lima, nomeou-me diretor do “Francisco Porto”, aos 23 anos de idade. Ali fiquei por 19 anos e 4 meses.

Em março de 1979, um colega de turma, Fabiano, ofereceu-me, para substitui-lo, as aulas de Educação Moral e Cívica e Religião, à tarde, no Colégio Salesiano. Eram cinco aulas de segunda a quinta-feira e quatro aulas na sexta-feira. Aceitei. Dois dos meus alunos, no Salé, foram o atual procurador da UFS, Paulo Celso e o empresário Emanuel Oliveira. Nesse tempo, eu era um dos coordenadores do TLC – Treinamento de Liderança Cristã, na Arquidiocese de Aracaju, responsável pela Pastoral da Juventude (de abril de 1976 a maio de 1982). O então Bispo Auxiliar de Aracaju, Dom Edvaldo Gonçalves Amaral, insistia para que eu fosse para o Seminário. Ele dizia que eu tinha vocação sacerdotal. Eu achava que não. O tempo, porém, diria que ele tinha razão.

No dia 9 de março de 1979, uma quarta-feira, meu pai morreu, aos 45 anos de idade. Morreu dormindo. Um golpe duríssimo para mim. Papai queria que fosse advogado e escritor. Mas, só me disse isso após a minha aprovação no vestibular. Ele faleceu um ano antes da minha formatura. Sem a presença dele, eu preferi não ter nenhuma fotografia da solenidade de colação de grau. Publiquei meu primeiro livro, de poemas, em 1989, dedicado a ele.

 

 

*Padre, advogado professor do  Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras, da Academia Sergipana de Letras Jurídicas, da Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BOTARAM SAL NO DOCE DO GOVERNADOR

PÓ DE SOVACO DE MORCEGO

      José Lima Santana*     Zé Calango esbravejou diante do prefeito: “O que é que você pensa, seu cabeça de vento? Que o povo é ...