José Lima Santana*
Nas últimas semanas, a Companhia de
Saneamento de Sergipe – DESO vem sendo palco de polêmicas na imprensa e nas
redes sociais. Primeiramente, sempre houve quem fosse a favor das privatizações
ou contra elas. A Emenda 19, de 1998, à Constituição Federal, trouxe de forma
incisiva o chamado neoliberalismo para dentro da administração pública. E
começou o “desmanche” de parte da administração pública indireta, notadamente
em torno das instituições de direito privado, quais sejam as sociedades de
economia mista e as empresas públicas federais e estaduais. Que o diga o setor
bancário estatal a cargo dos Estados. Poucos Bancos estaduais resistiram ao
desmanche. Muitas outras empresas federais e estaduais viriam a ser
privatizadas, ao longo das três últimas décadas.
Mas, vamos à DESO. Ao longo dos
últimos anos, alguns governadores têm cutucado a DESO ou silenciado acerca dos
seus múltiplos problemas. Há problemas? Não se pode negar. Afinal, é a
administração pública indireta que está em jogo. Nem todo mundo, de governantes
a dirigentes, está capacitado para, sequer, discutir a DESO, muito menos, para
a compreender, e, muito menos ainda, para resolver os seus problemas. Falar,
porém, todo mundo fala. Até mesmo sem saber direito o que está falando.
A DESO tem problemas? Repito a
indagação e a resposta. Tem, sim. E muitos. Quem os haverá de resolver?
Bravatas de governadores? Não. Terceirizações, sob qualquer forma, como PPPs,
concessões etc.? Não. Somente uma política pública consentânea, bem planejada
e, mais ainda, bem executada poderá atender aos reclamos da população usuária,
terceirizando-se ou não. Por vezes, terceirizar é ver-se longe dos problemas.
Ou, quem sabe, bem mais perto deles. Portanto, todo cuidado é pouco.
Pela primeira vez, a água jorrou nas
torneiras de Aracaju, no dia 1º de novembro de 1909, através de uma empresa
particular. Três anos, depois, em 1912, diante das deficiências na prestação do
serviço, o governo do Estado houve por bem de adquirir a Empresa de
Melhoramentos de Sergipe. Em 1914, sob o governo de José de Siqueira Menezes,
inaugurou-se o primeiro sistema de esgotos de Aracaju.
Em 4 de dezembro de 1915 foi criada a
Inspetoria de Águas, Esgotos e Horto Botânico. Mas, ainda no ano anterior, a
Lei nº 700, de 16 de novembro, no seu art. 4º, autorizava o governo do Estado a
“alienar os serviços de abastecimento d’água, luz, esgoto e drenagem, mediante
proposta em concorrência pública”. Ou seja, o desejo de livrar-se dos serviços
estatais em Sergipe vem de longe.
Em 23 de fevereiro de 1923, o governo
do Estado contratou o Escritório de Saturnino de Britto “reputada autoridade
mundial em engenharia sanitária” para a remodelação dos serviços de
abastecimento de água. Em 15 de outubro de 1926, o Estado celebrou com a firma
de Francino de Andrade Mello contrato para o arrendamento dos serviços de água
e esgoto de Aracaju. A prestação dos serviços voltou para as mãos do mesmo
empresário que vendeu sua empresa ao Estado em 1912. Um absurdo!
A empresa arrendatária de 1926 seria
sucedida pela empresa Andrade, Leite & Cia., composta, majoritariamente,
por Francino Mello e Júlio César Leite. A nova empresa, em relatório, afirmou
que “era lastimável o estado dos serviços de água na cidade quando a Empresa os
recebeu”. Essa nova empresa mudaria a razão social para Empresa Melhoramentos
da Cidade de Aracaju, em 21 de fevereiro de 1930.
Logo depois, o Banco do Brasil passou
a ser o proprietário de todas as ações da empresa arrendatária, posto que
adquirira as apólices emitidas por força da Lei nº 941/1926, para remodelar os
serviços de água e esgoto. No governo de Maynard Gomes, o Estado pagaria ao
Banco do Brasil o valor de 3 mil contos de réis para recuperar os serviços. A
privatização dos serviços, mais uma vez, não prosperou.
Em 1947, os serviços passaram a
chamar-se Serviços de Água e Esgoto de Aracaju – SAEA. Naquele ano, os serviços
foram passados para o gerenciamento terceirizado do Escritório Saturnino de
Britto e assim permaneceram até 1958, quando o governador Leandro Maciel os
trouxera de volta à gestão estadual.
Em 28 de novembro de 1961, no governo
de Luiz Garcia, foi criado o Departamento de Saneamento e Obras Contra as Secas
– DESO. Em 13 de agosto de 1963, no governo de Celso de Carvalho, foi criado o
Departamento de Saneamento do Estado de Sergipe, mantendo-se a sigla DESO. Em
25 de agosto de 1969, enfim, foi criada a Companhia de Saneamento de Sergipe,
pelo governador Lourival Baptista, mais uma vez mantendo-se a sigla DESO.
Em julho de 1989, edição dos dias
23/24, o Jornal de Sergipe publicou uma nota, na qual se lia: “A Companhia de
Saneamento de Sergipe – DESO está incluída entre as Empresas que o Governo do
Estado pretende privatizar”. Não privatizou. Não havia clima para isso. E
agora, há clima? Se depender do atual governador, pelo que o mesmo tem se
pronunciado na imprensa, sim. Aguarde-se, pois.
*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras, da Academia Sergipana de Letras Jurídicas, da Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
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