Antônio Carlos Sobral Sousa*
A
pandemia da Covid-19, mediante suas sucessivas ondas devastadoras, matou
milhões de pessoas em todo o mundo, impactou negativamente na economia,
sobretudo dos países de baixa renda, transformou a vida de muitos e alterou,
radicalmente, a assistência médica.
Uma
das mudanças mais visíveis (porque estava na cara), no enfrentamento da virose,
foi o uso universal de máscara facial, visando reduzir a transmissão do novo
coronavírus, sobretudo em ambientes fechados, conferindo proteção de exposição
para todos do ambiente.
Com
o fim da emergência em saúde pública, o uso de máscaras, mesmo em centros de
saúde e hospitais, passou a ser exigido apenas em circunstâncias limitadas,
como, por exemplo, quando os profissionais estão cuidando de infecções
respiratórias potencialmente contagiosas.
A
interrupção do uso de máscaras em ambientes externos, se justifica em razão da
imunidade adquirida por infecções e, sobretudo, por meio da vacinação, que
reduziram, drasticamente, a morbimortalidade da Covid-19. Assim, a maioria das
infecções causadas pelos SARS-Cov-2 não são mais graves do que as causadas pela
influenza ou outros vírus respiratórios, que a maioria das pessoas toleram há
muito tempo, sem que se sintam compelidos a usar máscara.
Todavia,
foi recentemente publicado no prestigiado periódico, New England Journal of
Medicine (DOI: 10.1056/NEJMp2306223), um artigo que alerta para a necessidade
de rever a não obrigatoriedade do uso de máscaras em estabelecimentos de saúde.
Segundo os autores, existem duas razões para isto.
Primeiro,
os pacientes hospitalizados têm características diferentes dos não
hospitalizados, sendo, geralmente, mais vulneráveis. As vacinas reduziram a morbidade
e mortalidade associadas a infecções por Covid-19, para a maioria da população,
todavia, existem subgrupos que continuam em risco elevado de complicações
graves e de morte, incluindo idosos, imunocomprometidos e aqueles portadores de
comorbidades graves, como certas doenças pulmonares e cardíacas. Integrantes desses
grupos constituem uma grande parcela de pacientes frequentemente internados e,
muitos deles, também buscam, regularmente, serviços de saúde ambulatoriais.
Segundo,
infecções nosocomiais causadas por outros vírus, como a influenza e o sincicial
respiratório, ocorrem com uma frequência surpreendente. Um quinto ou mais dos
casos de pneumonia adquirida em hospital, pode ser causada por vírus e não por bactérias.
Além disso, a morbidade associada aos vírus respiratórios vai além da pneumonia,
já que os mesmos podem exacerbar condições subjacentes.
Assim,
infecções virais respiratórias agudas constituem gatilhos bem estabelecidos
para exacerbações de doenças pulmonares obstrutivas, insuficiência cardíaca,
arritmias, eventos isquêmicos, eventos neurológicos e morte. Somente a gripe é
responsável por aproximadamente 50.000 mortes por ano nos Estados Unidos. Vale
ressaltar, ainda, que as medidas destinadas a mitigar os danos associados à gripe,
como vacinação, estão associadas, também, a taxas reduzidas de eventos
isquêmicos, arritmias, exacerbações da insuficiência cardíaca e mortes em
pacientes de alto risco.
Portanto, o uso de máscaras por
profissionais de saúde, em unidades de atendimentos, continua a fazer sentido. A
referida proteção, reduz a propagação de vírus respiratórios de pessoas com infecções
reconhecidas ou não reconhecidas, já que muitas viroses se apresentam com
poucos sintomas ou mesmo, de formas assintomáticas.
Estudos realizados antes e durante a
pandemia sugerem que a utilização de máscaras faciais, por profissionais de
saúde, pode reduzir infecções virais respiratórias nosocomiais em, aproximadamente,
60%. Apesar de muitos argumentarem fadiga, desconforto e prejuízo na
comunicação com a utilização generalizada do referido utensílio de proteção, o
seu uso criterioso pode salvar vidas.
Finalizo, citando o “Pai da Medicina
Moderna”, Sir
William Osler: “Todo paciente que você vê é uma lição muito maior
do que a doença da qual ele sofre”.
* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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