domingo, 2 de julho de 2023

USO ESTRATÉGICO DE MÁSCARA. PROTEÇÃO PARA PACIENTES VULNERÁVEIS!


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A pandemia da Covid-19, mediante suas sucessivas ondas devastadoras, matou milhões de pessoas em todo o mundo, impactou negativamente na economia, sobretudo dos países de baixa renda, transformou a vida de muitos e alterou, radicalmente, a assistência médica.

Uma das mudanças mais visíveis (porque estava na cara), no enfrentamento da virose, foi o uso universal de máscara facial, visando reduzir a transmissão do novo coronavírus, sobretudo em ambientes fechados, conferindo proteção de exposição para todos do ambiente.

Com o fim da emergência em saúde pública, o uso de máscaras, mesmo em centros de saúde e hospitais, passou a ser exigido apenas em circunstâncias limitadas, como, por exemplo, quando os profissionais estão cuidando de infecções respiratórias potencialmente contagiosas.

A interrupção do uso de máscaras em ambientes externos, se justifica em razão da imunidade adquirida por infecções e, sobretudo, por meio da vacinação, que reduziram, drasticamente, a morbimortalidade da Covid-19. Assim, a maioria das infecções causadas pelos SARS-Cov-2 não são mais graves do que as causadas pela influenza ou outros vírus respiratórios, que a maioria das pessoas toleram há muito tempo, sem que se sintam compelidos a usar máscara.

Todavia, foi recentemente publicado no prestigiado periódico, New England Journal of Medicine (DOI: 10.1056/NEJMp2306223), um artigo que alerta para a necessidade de rever a não obrigatoriedade do uso de máscaras em estabelecimentos de saúde. Segundo os autores, existem duas razões para isto.

Primeiro, os pacientes hospitalizados têm características diferentes dos não hospitalizados, sendo, geralmente, mais vulneráveis. As vacinas reduziram a morbidade e mortalidade associadas a infecções por Covid-19, para a maioria da população, todavia, existem subgrupos que continuam em risco elevado de complicações graves e de morte, incluindo idosos, imunocomprometidos e aqueles portadores de comorbidades graves, como certas doenças pulmonares e cardíacas. Integrantes desses grupos constituem uma grande parcela de pacientes frequentemente internados e, muitos deles, também buscam, regularmente, serviços de saúde ambulatoriais.

Segundo, infecções nosocomiais causadas por outros vírus, como a influenza e o sincicial respiratório, ocorrem com uma frequência surpreendente. Um quinto ou mais dos casos de pneumonia adquirida em hospital, pode ser causada por vírus e não por bactérias. Além disso, a morbidade associada aos vírus respiratórios vai além da pneumonia, já que os mesmos podem exacerbar condições subjacentes.

Assim, infecções virais respiratórias agudas constituem gatilhos bem estabelecidos para exacerbações de doenças pulmonares obstrutivas, insuficiência cardíaca, arritmias, eventos isquêmicos, eventos neurológicos e morte. Somente a gripe é responsável por aproximadamente 50.000 mortes por ano nos Estados Unidos. Vale ressaltar, ainda, que as medidas destinadas a mitigar os danos associados à gripe, como vacinação, estão associadas, também, a taxas reduzidas de eventos isquêmicos, arritmias, exacerbações da insuficiência cardíaca e mortes em pacientes de alto risco.

Portanto, o uso de máscaras por profissionais de saúde, em unidades de atendimentos, continua a fazer sentido. A referida proteção, reduz a propagação de vírus respiratórios de pessoas com infecções reconhecidas ou não reconhecidas, já que muitas viroses se apresentam com poucos sintomas ou mesmo, de formas assintomáticas.

Estudos realizados antes e durante a pandemia sugerem que a utilização de máscaras faciais, por profissionais de saúde, pode reduzir infecções virais respiratórias nosocomiais em, aproximadamente, 60%. Apesar de muitos argumentarem fadiga, desconforto e prejuízo na comunicação com a utilização generalizada do referido utensílio de proteção, o seu uso criterioso pode salvar vidas.

Finalizo, citando o “Pai da Medicina Moderna”, Sir William Osler: “Todo paciente que você vê é uma lição muito maior do que a doença da qual ele sofre”.

 

 

* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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