José Fernandes de Lima*
O filme Procurando Nemo, lançado em
2003, fez um enorme sucesso. Ganhou o Oscar de Melhor Filme de Animação, foi o
segundo filme de maior bilheteria do ano e faturou mais de 870 milhões de
dólares.
A história trata de um peixe
palhaço (nome científico: Amphiprion ocellaris) chamado Nemo, que depois de
perder a mãe e os irmãos foi criado pelo pai superprotetor.
Um belo dia, numa das primeiras
saídas de casa, ficou chateado com o pai excessivamente cuidadoso, afastou-se
do local, foi capturado por um pescador e acabou em um aquário.
No desenrolar do filme, enquanto
Nemo bola planos para escapar do aquário, seu pai – Martin - cruza o oceano
para resgatá-lo.
A trama e a qualidade das imagens
prendem a atenção das crianças e dos pais.
Ao pronunciar o nome do peixinho
perdido, alguns adultos lembram de outro Nemo mais antigo. Lembram do Capitão
Nemo, personagem do livro de Julio Verne, chamado Vinte Mil Léguas Submarinas.
O Capitão Nemo era o comandante do submarino Nautilus.
Nesse livro, o personagem Arronax
narra fatos acontecidos quando o governo americano envia o navio Abrahan
Lincoln aos oceanos Atlântico e Pacífico para uma caçada desenfreada pelo que
acreditavam ser um monstruoso cetáceo.
Os aventureiros descobriram que, na
verdade, não existia nenhum cetáceo gigante, e sim o poderoso Nautilus, uma
embarcação submarina capaz de se locomover nas águas profundas dos oceanos. O
submarino era movido a eletricidade obtida a partir do sódio retirado da água
do próprio oceano.
O Capitão Nemo, comandante do
submarino, era uma pessoa culta, preocupada com os destinos da humanidade. Descontente
com os caminhos tomados pela sociedade do século XIX, decidiu utilizar seus
vastos conhecimentos para construir um submarino elétrico e viajar pelos
oceanos do mundo. O gosto do Capitão Nemo pelas letras foi realçado pelo autor quando
ele escreveu que o submarino possuía uma biblioteca de centenas de livros.
Júlio Vernes, que viveu de 1828 a
1905, é considerado o percursor da literatura de ficção científica.
A ficção científica é um gênero
literário que trabalha com conceitos imaginativos relacionados com o futuro.
Baseia-se em fatos científicos e reais para compor enredos ficcionais. A ficção científica, em geral, contém uma
extrapolação cuidadosa e bem-informada de fatos, princípios ou tendências
científicas, mesmo quando a ciência apresentada nos enredos ainda requeira
maiores confirmações.
Os escritores de ficção científica
costumam antecipar o uso de tecnologias e muitos livros até indicam caminhos
que são seguidos pelos pesquisadores.
Ao descrever o funcionamento do
Nautilus, Julio Verne antecipou o uso do submarino em águas profundas. Quando o
livro foi escrito, ainda era impossível construir um submarino capaz de
aguentar altas pressões e viajar em águas profundas.
O primeiro submarino de que se tem
notícia foi construído pelo inventor alemão Cornelis Drebbel, em 1620. Consta
que era apenas um barco coberto de couro, que conseguia atingir a profundidade
de 4,5 metros. Em 1776, o inventor americano David Bushnel construiu um
submarino que foi utilizado na guerra da independência dos Estados Unidos.
O funcionamento do submarino é
baseado no enchimento e esvaziamento dos tanques de lastro. Esses tanques
permitem a embarcação mergulhar e voltar à superfície. Quando os tanques de
lastro são cheios de água, o submarino adquire o peso necessário para
submergir. Na hora de voltar à superfície, a água dos tanques é substituída por
ar. Isso torna a embarcação leve o bastante para flutuar.
Os submarinos se movimentam graças
a motores a combustível, baterias ou fontes de energia nuclear.
O primeiro submarino movido a
energia nuclear, lançado pela marinha americana, em 1954, foi batizado com o
nome de USS Nautilus.
A lembrança do nome Nautilus para o
batismo do submarino nuclear e a escolha do nome Nemo para o peixinho
protagonista do filme são indicadores de que as ideias de Júlio Verne continuam
circulando.
*Físico, professor e membro da Academia Sergipana de Educação.