quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

VACINAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: CONTROVÉRSIA OU NEGACIONISMO?


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A recém descoberta variante (B.1.1.529) do SARS-Cov-2, batizada como Ômicron pela OMS, já produziu 50 mutações identificadas, sendo mais de 30 localizadas na proteína “Spike” (a “chave” que o vírus usa para entrar na célula do hospedeiro). A variante tem sido considerada preocupante, graças à sua capacidade de alastramento consideravelmente superior às demais.

Ela já se faz presente na quase totalidade do território americano, em muitos países europeus e em alguns estados brasileiros. Todavia a sua letalidade não tem sido alarmante, provavelmente, pela benéfica interferência dos programas de vacinação.

Têm sido observadas, recentemente, controvérsias quanto à utilização de vacinas contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade, mesmo após a sua autorização pelas agências reguladoras FDA (EUA); EMA (Europa); ANVISA (Brasil). Após revisão rigorosa da documentação científica disponível, os referidos órgãos emitiram pareceres favoráveis tanto para eficácia como para segurança do imunizante, também naqueles com idade superior a cinco anos.

Todavia, enquanto a vacinação de crianças e adolescentes avança nos Estados Unidos e na Europa, impulsionada pelas recomendações do CDC americano e pelos equivalentes gestores de saúde europeus, o Ministério da Saúde brasileiro ainda não decidiu incluir esta faixa etária no Programa Nacional de Imunização (PNI).

No contexto da controvérsia, é importante diferenciar a decisão clínica da populacional. A primeira é regida pelo raciocínio individual, quando deve ser levada em conta a relação do risco/benefício, com base na incidência de casos graves, na eficácia do imunizante e nos seus eventuais efeitos colaterais potencialmente graves, como a miocardite por vacinas com tecnologia de RNA, além do desejo do paciente e seus familiares.

Por outro lado, este pensamento é inadequado para um problema contagioso, populacional, quando a intervenção em uma pessoa, beneficia outras, podendo favorecer toda a comunidade. Vale ressaltar, que toda controvérsia com relação às vacinas, sobretudo quando geradas por comunicadores de ciência, devem ser selecionadas porque elas tendem a provocar resistência ao processo de imunização, promovendo, portanto, grande prejuízo social.

Recentemente, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano, emitiu um interessante documento (www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/vaccines/children-facts.html), intitulado “Mitos e Fatos sobre as Vacinas contra Covid-19 em Crianças e Adolescentes”, esclarecendo que as vacinas não causam problemas de fertilidade, que os seus benefícios são superiores aos potenciais riscos e que se constituem, na melhor maneira de proteção contra o Novo Coronavírus.

Portanto, os gestores da saúde devem visar, sempre, o bem coletivo e não se deixarem contaminar pelo espírito dos negacionistas que usam as controvérsias científicas para provocar dúvida na população e prejudicar o andamento da vacinação em detrimento da apologia ao não comprovado tratamento precoce.

Finalizo, parafraseando a filósofa alemã Hannah Arendt: “Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança”.

 

 

*Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

MARIVALDO DA PADARIA


  

 

José Lima Santana*

 

 

Marivaldo viuvou. Ernestina passou desta para a outra vida sem soltar um pio. Morreu de repente, sem tempo para reza e vela. Beata, não podia ver um padre que já se punha em prontidão para tomar a bênção e oferecer a mais dilatada bajulação. Apesar de algumas esquisitices, era uma boa mulher.

Prestativa, caridosa, fazia Marivaldo quase perder os cabelos que lhe restavam na cabeça por causa de suas caridades. “Ainda hei de morrer pobre como Jó”, dizia o velho pão-duro. Pois ela é que se foi. Morreu no finzinho da tarde, degustando uma jenipapada, a cabeça pendendo sobre a tigela.

Cida de Toinha, a empregada, a acudiu já sem vida. Um alvoroço. Os gritos de Cida foram ouvidos à distância. Na padaria, Marivaldo pensou que era mais um dos chiliques da velha serviçal, que não podia ver um sapo ou uma rã. Era capaz de desmaiar. Um dia, Naldo, filho mais velho de Marivaldo e Ernestina meteu um sapo numa caixa, embrulhou com papel de presente e deu a Cida, no seu aniversário de cinquenta anos. Pobre mulher. Não bateu a caçoleta porque o padre Afonso, de passagem pela rua, a socorreu, embora, depois, riu à larga. “Pense numa cara feia, numa careta de carnaval, a da pobre Cida de Toinha, estatelada numa poltrona, morre não morre!”.

O viúvo, dona da Padaria Estrela, ficaria desaconçoado. Murchou como uma erva esturricada pelo sol de janeiro. O casal era muito ligado. Ernestina passava um bom tempo, à tarde, depois do almoço, fazendo massagens nos pés enrugados do marido, à vista de todos, na calçada da casa. Mimos, de lado a lado, não faltavam.

O casamento deles fora um acontecimento inusitado em Pedra Azul. Ela era filha do maior fazendeiro da região, Pedro de Taques Almagorado, descendente de antigos espanhóis, cuja família recebera sesmarias em face de sua participação nas lutas contra os invasores holandeses.

Ele, Marivaldo, era um joão-ninguém, biscateiro, que trabalhava desde menino para ajudar a mãe viúva com mais cinco filhos. Empregara-se, aos quatorze anos, na Padaria Estrela de Amâncio Lombo de Burro, que tinha esse apelido por carregar nas costas pesados sacos de farinha de trigo e de açúcar, de 60 quilos, sem pestanejar.

Aos poucos, Marivaldo foi subindo de limpador de chão a ajudante de padeiro, a mestre-padeiro, gerente, sócio e dono do negócio. Enamorara-se de Ernestina nos tempos de gerente. A família rica não tomou conhecimento dele. Antes, recusara-o. Mas, Ernestina tinha caído de amores por ele. Enfrentou a família, bateu o pé e casou sem ninguém da família na igreja. Seria deserdada pelo pai, que, com o tempo, voltou atrás. Os laços que ligaram Marivaldo a Ernestina foram se estreitando a cada dia, a cada ano.

De fato, a morte de Ernestina abalou Marivaldo de forma avassaladora. Ele se tornou uma baraúna abatida por um raio. A padaria ficou a cargo de Naldo, o filho mais velho. A solta de gado caiu nas mãos de Bertinho, que já era da lide no campo. A filha Rosa Angélica mudou-se com o marido e o filho de doze anos para a casa da família, a fim de cuidar do pai, que deu para andar zanzando em casa, sem tino para coisa alguma. Foram quarenta e oito anos de vida em comum. Ernestina já preparava a festa para as bodas de ouro. Não deu tempo.

A morte de Marivaldo já era dada como certa. Um amor de causar inveja foi desfeito pela “senhora da foice afiada”. Era sempre assim. Dela não se podia escapar. A inexorável. A iniludível. Dela ninguém escapava. Os cemitérios eram os depósitos de suas pilhagens.

A morte de Ernestina deu-se em setembro. Marivaldo cambaleou até março ou abril. Aos poucos, porém, foi-se endireitando. Uma bênção! O padre Afonso deu a ele toda atenção que a um homem de fé cabia dar. Nisso, aliás, o padre era cuidadoso. Cuidava do seu rebanho, de ricos a pobres, sem distinção.

Numa manhã de segunda-feira, dia da feira semanal na cidade, Marivaldo tomou o rumo da padaria. Surpresa para todos. Alegria de muitos, pois o velho era muito bem-quisto. Pronto. A partir dali, Marivaldo voltou à ativa com a ajuda de Naldo, que se dividia entre a padaria e o seu próprio comércio de secos e molhados.

Marivaldo estava com setenta e cinco anos. Ainda tinha gás para tocar a vida. E continuou tocando. Tudo dele, todavia, era voltado para as lembranças de Ernestina. Foram anos de cumplicidade e respeito, de aconchego e harmonia. Enfim, como se diz no correr da vida, foram anos de amor recíproco.

A vida na padaria foi absorvendo Marivaldo, como antes. Novas instalações e modernos equipamentos. Lenha, por exemplo, para os fornos, que eram dois, já não usava mais. Tudo era eletrificado. Os anos foram passando e a viuvez de Marivaldo continuava na ordem do dia. Roupas pretas ou de cores sóbrias ele as vestia, como mandava o figurino da época.

O tempo correu nos seus desvãos. Marivaldo contava já seus oitenta e três anos. Noite de festa na casa de Naldo, o filho mais velho. Formatura da neta mais nova de Marivaldo. Direito. A mocinha era estudiosa e almejava a carreira de magistrada. Abancado no jardim da casa do filho, Marivaldo estava absorto, por um instante, até que a nora, Doralice, lhe apresentou a filha de uma prima, moradora no povoado Quixabeiras.

Era uma moça de seus vinte e dois a vinte e três anos, na aparência. Cara só um pouco bexiguenta, inibida, mas de boas ancas. Pois não foi que o velho dono da Padaria Estrela deixou-se engraçar pela moça? Um acerto de famílias acabaria levando Marivaldo e Cecília, esse o nome da moça, ao altar, na antevéspera do Natal. Casamento religioso com efeito civil, pelo regime de separação de bens, por força da idade do nubente.

Quando o padre Ribeiro, sucessor do padre Afonso indagou se alguém tinha algo a dizer que pudesse impedir aquele casamento, três jovens levantaram as mãos e aproximaram-se. As três, com barrigas muito salientes, disseram, como se fossem cantoras do coro da igreja, em vozes uníssonas: “Nós temos, sim. Estamos grávidas do Marivaldo!”. Estupefação geral.

O padre, ainda muito jovem, caçou terra nos pés e não achou. Balbúrdia. Cochichos. Risadas. Disse-me-disse. A noiva arregalou os olhos e fez menção de atirar fora o buquê de rosas brancas. Conteve-se. Marivaldo, sem pestanejar, protestou: “Isso deve ser uma brincadeira de mau gosto, seu padre. Nem mijar direito eu mijo. Quanto mais...!”. As três, Belinha, Clarinha e Dorinha, filhas de Zé Porfírio da farmácia, caíram na gargalhada. Era brincadeira, sim. As três gostavam de zoar, fosse onde fosse, ou com quem fosse.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. 

sábado, 18 de dezembro de 2021

DO BELÉM AOS CARIJÓS


  

José Lima Santana*

 

 

Era no tempo dos trens fumegando pelos trilhos. Os “marias-fumaça”, fuçando e roncando como porcos de ferro, rompendo caminhos pelos vales e campinas, mas subindo ladeiras em passo de lesma. Passavam pastos, passavam boiadas e outras criações de miunças. Passavam rios e riachos, mulheres lavando roupa ou apanhando água em potes e cabaças. Florestas restantes, quase a morrer, caatingas de secura ardente.

Tudo passava ao resfolegar dos trens com suas máquinas a consumir água e lenha. Perto das estações um silvo agudo anunciava a aproximação. Estações quase cheias, estações vazias, estações com um ou outro gato pingado. Tempos brabos. Nos sertões, os coronéis disputavam votos e, com eles, prestígio, junto aos lá de cima.

Era 1930. Uma revolução, diziam, estava acontecendo para as bandas do Sul. Um grandola do Rio Grande estava tomando o poder, depois de perder a eleição. “Ô Germano, quem perde eleição tem direito a assento na cadeira alta, tem?”. Germano era mais tapado do que uma porta. Não sabia de nada, de nada entendia. Eu cá de mim, tinha algum entendimento, tinha uma pouca leitura.

Dois anos se passaram. Fui voluntário. Era pra brigar? Eu tava pronto. Deram-me coturno, farda e fuzil. E mais matulagem. Fui pelo dinheiro. Com jeito, tendo boia e cama, livrando de um tiro, dava pra ter uma sobra, comprar uma beira de chão, quando desse baixa. Com três boas safras, eu ia à casa de Afonso Reis, botar-se de genro. Ia buscar a mão de Carolina.

Morena de olhos gateados. Tinha nêgo ciscando como galo de terreiro por causa dela. Mas, ela me disse, isso lá ela disse: “Ou sou tua, ou de mais ninguém”. Ela disse, na escola da professora Carminha de João dos Ovos. Ela tinha doze e eu, quinze, já saltando fora da escola, pra lide no campo, nas roças alheias.

Afonso Reis era bodegueiro. Dono de uma bodega sortida de pouca coisa, porém, era a única do povoado Belém. Dali, o trem passava a pouca distância, coisa de légua e meia, na estação de Murta. Foi ali que eu embarquei. Um dia, com a ajuda de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu ia voltar, pra comprar meu beiço de terra e tomar nos braços a minha morena de olhos gateados. Agora, eu era homem feito. Tinha dezenove. Carolina, dezesseis.

Pai disse: “Toma cuidado. Só mate se for mesmo preciso. Mas, procure não se deixar morrer”. Bênção tomei. E mãe, em prantos, agarrada à imagem da Virgem das Dores, só me abraçou em soluços e me abençoou, tocando a minha cabeça em cruz. Meu coração apertou. Os olhos quase encheram de lágrimas. Fiz uma tapagem nos olhos pra água não escorrer. Parti. Nem me despedi dos irmãos, Toninho, Buchudo, Palito e Teteca, a irmãzinha de seis anos. Quando eu voltasse, já seriam homens e moça? Deus que sabia.

Cidade grande. Não das maiores, disse o companheiro Bartolomeu, que era de um lugar bem acima do meu Belém, o Brejão dos Sapos. Lá, o pai dele foi morto a mando de um coronel. Filho único, ele se aboletou no mundo pra não morrer também. Um dia, ele disse, voltaria com patente militar de verdade e o coronel de merda seria sangrado como porco. Razão pra ele não faltava. Tava no direito.

Dali tomamos o trem pra mais longe. Atravessamos seis Estados, até chegar perto de São Paulo. A guerra estava ali a nos esperar. Do nosso lado, morreram alguns. Do lado de lá, morreram muitos. Os paulistas. Depois, fiquei sabendo que o lado de lá queria uma tal de Constituição.

A guerra acabou. A tal Lei veio e as coisas pareciam entrar no eixo. Aí, logo depois, foi a vez dos comunistas criarem em escarcéu. Porém, eram poucos. O governo deu duro. Chegou a vez de dar baixa. Muitos deram baixa. Eu era cabo. O capitão queria que eu ficasse, virar sargento. Quis não. Capitão gente boa. Mas, minha morena me esperava. Com certeza.

Três anos fora de casa. Dinheirinho juntei. Dava pra comprar umas tarefas de terra, de boa areia, para bons plantios. Eu teria minha casa com boa lavoura. Mulher e filhos não passariam fome. Mãe e pai me esperavam. Ele, puxando o cachimbo, no fim da tarde, olhando pro estradão. Ela, em orações para a Virgem pedir a Jesus a minha volta são e salvo. A meninada nem ia me reconhecer, de prontidão.

E Carolina? Devia estar um mulherão, ainda mais bonita, ainda mais gateada. Tomei o trem de volta. Seis Estados pra atravessar. Enfim, em casa. Alegria e tristeza. Mãe me contou a desgraça que sucedeu com Carolina, minha morena de olhos gateados. No caminho da fonte, um sujeito de nome Marcão de Valdomiro, dos Carijós, atacou Carolina e deu nas partes dela.

Duas mulheres, Cecinha de Tonho Miúdo e Maria Amélia de “seu” Tibúrcio, deram socorro de valimento a Carolina e o cabra deu em fuga, mas já tendo feito o mal. Carolina ficou pejada. Nasceu um filho. O pai de Carolina, Afonso Reis, era homem de uma perna só. Não tinha um filho homem, somente filhas. Não pôde pagar um pistoleiro. Resignou-se.

Meus miolos ferveram. Casar com uma moça destambocada, ainda mais com um filho de outro? Quem queria naqueles sertões? Matutei uma noite inteira. Antes tivesse ficado na cidade grande. Não ia poder colher o fruto adocicado da flor mais bonita daquele chão. Sem fruto, sem mel. Um homem de tutano nos ossos não aceitava uma situação daquela. Amanheci como anoiteci. Sem pregar o olho. Muito matutei.

Manhãzinha, nem café tomei. Rumei pra ver Carolina. Olhos abaixados, duas lágrimas escorrendo. “Vá simbora, Juliano. Eu desgracei nossa vida”. Desgraçou, não. “Aquele sujeito te fez o mal, mas eu quero o teu bem. O teu e o meu. Vou desajeitar a vida dele. Pensei em matar. Mato não! Vou arrancar fora os quibas dele.

Morto, não havia de sentir nada mesmo. E capado, vai se arrastar pela vida sem serventia de macho. Capo, sim. Se Justiça aqui num tem, tem o meu braço. Você vai ver”. Carolina enxugou as lágrimas. “Mas, eu tenho um filho dele”. Levantou os olhos. Gateados. Nos braços, o inocente sorrindo. “Depois que eu me acertar com o malfazejo, o menino não terá mais pai. Eu vou ser o pai dele. Ele é seu filho. Vai ser nosso primeiro filho”.

Naquela manhã, o sol pareceu brilhar com mais intensidade. Do Belém aos Carijós. Eh, sertões...!

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

domingo, 12 de dezembro de 2021

O SOLDADO MATOSINHO


 


 

 

José Lima Santana*

 

 

Contar, tenho eu muito a contar. Nos sertões mais brabos nunca me fiz de valente, nem tampouco de mofino. De caganeira nunca estive, por medo. Um filho de Venâncio das Imburanas não se cagava atoa. De tudo que vivi, o mais duro penar foi quando o coronel Machadinho deu de jogar nas minhas costas o mal feito pelo filho mais novo, Cirilo, um pirão perdido, a despeito de ser filho do dono de quase todas as terras do Ribeirão das Cotias, terras a nunca acabar.

Cirilo vivia a colher os três vinténs das negrinhas das remanescentes senzalas que o pai herdou do avô. E o coronel botando pra riba de uns e de outros. Comigo, não. Eu não haveria de pagar pelo crime do sinhozinho, como outros pagaram. Caí no mundo. Deixei mãe chorando, temendo pelo meu fim, e eu temendo pelo fim dela, no meu lugar, pois o coronel não era flor que se cheirasse. Era dado a espancar e até matar parentes de quem se aboletava no mundo, fugindo de suas maldades.

Andei léguas antes de me alcançarem. Na tarde do terceiro dia, avistei lá embaixo no Vale das Onças uns dez ou doze sujeitos. Dois deles fardados.

Naquela tarde, subi pelo rio das Queixadas. Tropecei em pedras de todo tamanho. Caí e levantei. Caí e levantei. Levantei e caí. Atrás, não muito, a cabroeira do coronel Machadinho, soldados e capangas. Queira o coronel Machadinho que eu pagasse pelo que não fiz. Pagava não. Só pagava se devesse. No caso, não devia. Não tinha que pagar. Escorreguei no breu da noite, mais negra que carvão aos montes. Tentaram me aferrar no tronco. Dois eu derrubei. Vieram muitos pra riba d’eu. Capoeira ajudou. Sapequei pernas e braços. Bom no manejo do corpo eu sou. Aprendi com mestre Zulu, dos antigos mestres, que aprenderam com os da Negra Mãe.

Mestre Zulu já não conta por aqui. Espírito voou sobre o mar grande. Retornou às terras das infinitas visões. Dia virá que o meu espírito também há de fazer o retorno. Descansar na sombra dos baobás. Árvores de reis e príncipes, dizia minha mãe.

Em cobra d’água quase pisei. A serpentosa ziguezagueou como se pressa tivesse. Cobra é bicho sestroso. Não ouve, mas vê e sente com língua de bifurcado demônio. Emboquei numa gruta de estreita entrada. De dentro pra fora, tinha eu boa visão. Vi o soldado Matosinho aproximar-se, examinando o terreno defronte. Marcas deixei.

Matosinho era das minhas bandas. Negro como eu. Nossos avós foram do mesmo eito, da mesma senzala. Dia foi, na feira do Pilar, que dei de salvar a vida dele. Um malfazejo das bandas dos Araçás meteu-se a valentão e quis dar de pano de facão no soldado Aroldo de Timbaúba. Matosinho partiu para adjutorar o companheiro. Não se deu mal, porque joguei uma cadeira que quase arrancou a cabeça do malfazejo. O facão, quase a tocar a cabeça de Matosinho, caiu longe. O soldado Matosinho agradecido ficou. “Sou seu mano”, ele disse.

Ali estava ele, o soldado Matosinho, farejando como cão de caça e raça. Adiante, foram-se os mais de dez homens em conversa de cochichos. Matosinho olhou com mais cuidado o terreno molhado. Encontrou rastro. Olhou para a entrada da gruta. Aprumou os olhos. Aproximou-se com passos curtos. Afastou um galho. Aprumei minha espingarda calibre doze. Daquela distância, eu arrancava o olho de uma lagartixa.

Ele avançou mais. Estava na entrada da gruta. Não podia me ver. Não dali. Acocorou-se. Mirei bem no meio do quengo dele. “Você taí, Aderaldo?”, ele perguntou. “É você, num é?”. Não respondi. Ele estava na minha mira. Rendido. Era só destambocar o tiro certeiro. Mas, os outros iam ouvir o estampido. Seria a minha perdição.

Ele achegou-se mais um pouco. Destravou o rifle. Apontou para o meu lado. Armas apontadas de lá e de cá. “Ocê vem por bem ou por mal, Aderaldo?”. Respondi: “Tu te alembra q’eu te salvei a vida, Matosinho?”. Ele calou. Arma dele apontada. A minha também.

Hora de nada temer. Matar ou morrer não era situação a merecer o meu pensamento. Melhor escapar com vida. Os outros, decerto, iam vir correndo ao ouvir os tiros, como urubus na carniça. Alguns eu acabava levando comigo, além do Matosinho. O inferno não me ia ter sozinho. Não! Mas, morrer não estava no meu querer, no meu pensar. Eu tinha que voltar, um dia, pra buscar mãe ou sangrar coronel Machadinho e seu filho celerado, abusador de negrinhas, caso o coronel desse cabo de mãe, embora ela fosse a curandeira da fazenda, curando negros e brancos. Difícil ele deixar o povo dali ficar sem a curandeira, que valia como uma médica.

Matosinho começou a suar. Enxugou a testa com a mão esquerda. A coronha do rifle encostada no ombro direito e o dedo indicador no gatilho. “Se ocê se entregar, eu garanto a sua vida!”, ele disse. “E tu é o coronel Machadinho, pra garantir vida de ninguém, soldado Matosinho? Claro que tu num é”.

Silêncio. Ele enxugou a testa mais uma vez. Estaria com medo? Eu achava que não. Matosinho não era de pedir arrego. Eu o tinha na mira. Se quisesse, espalhava os miolos dele por todo lado. Miolos de gente era uma coisa nojenta. De boi, se comia. Era gostoso, como mãe fazia em boa panela de barro e com tempero de açafrão e ervas.

Passaram-se uns minutos. Dali a pouco, os outros iam chamar pelo soldado Matosinho ou voltar pra saber porque ele ali se deteve. Aí seria ruim. “Soldado Matosinho, tu num tem nada a ver comigo. Eu te salvei a vida. Deixe que eu viva a minha em paz. Ou tu e eu vamo junto pro buraco”.

O soldado Matosinho parecia me caçar com o olhar. Tava difícil. Eu o via bem, mas ele não me via. Ele continuava na minha mira. Era só puxar o gatilho. Pum!

O vento soprou um cisco no olho do soldado Matosinho. Silêncio. Silêncio...

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

 

domingo, 5 de dezembro de 2021

AUTOAFERIÇÃO NÃO ORIENTADA DA PRESSÃO ARTERIAL


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

Glessiane de Oliveira Almeida**

 

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) constitui o principal fator de risco, modificável, para as doenças cardiovasculares, para a doença renal crônica e para a morte precoce. Além disso, ela produz impacto, significativo, nos custos médicos e socioeconômicos, em consequência das suas complicações fatais e não fatais.

Estima-se que mais de 30% da população adulta brasileira seja portadora de HAS, a qual está associada à ocorrência do infarto agudo do miocárdio e, sobretudo, do acidente vascular cerebral (derrame). Por ser uma doença crônica, não transmissível, e, preponderantemente assintomática, ela costuma evoluir com alterações estruturais e/ou funcionais em órgãos-alvo, como coração, cérebro, rins e vasos, daí ser, também, conhecida como “assassina silenciosa”.

O diagnóstico da HAS deve ser feito mediante a aferição da pressão arterial (PA), mediante um aparelho (esfigmomanômetro) calibrado e observando-se as regras estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Vale ressaltar que esta medida convencional, realizada no consultório, serve de base para todos os dados epidemiológicos e clínicos, sobre a doença, disponíveis atualmente.

Eventualmente, pode ser necessário recorrer à medida da PA fora do consultório, por meio de duas técnicas padronizadas, a MAPA (Monitorização Ambulatorial da PA) e a MRPA (Monitorização Residencial da PA), as quais não devem ser confundidas com a AMPA (Automedida da PA). Esta última metodologia é realizada, geralmente, com equipamento automático do próprio paciente, não obedecendo a nenhum protocolo preestabelecido e as medidas são feitas aleatoriamente e por decisão própria.

Tem sido demonstrada a eficácia do tratamento na redução da morbimortalidade da HAS, mediante mudanças no estilo de vida (dieta rica em frutas, verduras, grãos e com baixo teor de sal e de gordura saturada; controle do peso e atividade física regular de aproximadamente 30 min. cinco vezes por semana) e o uso de medicamentos, que são bem tolerados, têm pouco efeitos adversos e, são, também, disponíveis para os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

Todavia, um estudo nacional (doi.org/10.1155/2017/1274168), realizado na atenção primária à saúde demonstrou que a taxa de controle da HAS variou de 43,7% a 67%. São várias as razões para a falta de controle dos hipertensos, sendo a falta de adesão à terapêutica instituída, seguramente, o elemento de maior influência neste cenário. Como uma das estratégias para aumentar a adesão ao tratamento anti-hipertensivo, a última versão das Diretrizes Brasileiras de HAS da SBC (doi.org/10.36660/abc.20201238), recomenda a utilização autoaferição da PA.

Apesar de atraente, pela facilidade de aquisição dos aparelhos (sobretudo os digitais) e das realizações das medidas, a AMPA apresenta uma série de limitações, tais como: falta de calibração e qualidade insatisfatória de alguns instrumentos; metodologia de aferição da PA não padronizada; interferência de situações estressantes, momentâneas, vivenciadas pelo paciente, dentre outras.

Portanto, não existe uniformidade na literatura, quanto ao real benefício deste método em incrementar a adesão ao tratamento anti-hipertensivo. Tem sido sugerido, também, que a utilização da AMPA é mais comum em hipertensos ansiosos e se associa a automedicação e maior procura por atendimentos em unidades de urgência.

Com o intuito de avaliar as complicações consequentes à autoaferição não orientada da PA em portadores de HAS, tanto entre os usuários do SUS e como os da Rede Suplementar (RS) de saúde, a orientanda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe (PPGCS-UFS), Glessiane de Oliveira Almeida, realizou a sua Tese de Doutorado, cujo produto foi recém-publicado no periódico MDPI Medicina (Kaunas) 2021 (doi.org/10.3390/medicina57010075).

A investigação constou de 1000 voluntários, sendo 500 pacientes do SUS (Hospital Universitário da UFS) e 500, da RS (Clínica do Coração e Hospital São Lucas / Rede D’Or). Foi constatado que aqueles que realizaram autoaferição não orientada da PA, exibiam: maior frequência de automedicação (57,9%); mais visitas à urgência (68%); níveis mais baixos de controle da PA (46,8%) e maior associação com ansiedade (52,3%). Dessa forma, a prática da autoaferição não orientada da PA foi associada a fatores negativos, como altos níveis de ansiedade, maiores frequências de automedicação e visitas à urgência não programadas. Além disso, embora as mulheres terem apresentado maior frequência de ansiedade, os homens foram os que mais buscaram visitas à urgência.

Estes efeitos negativos da AMPA não orientada em hipertensos serve de alerta para esta prática, amplamente disseminada, inclusive entre os usuários do SUS. Além disso, reforça a necessidade do médico em esclarecer, para o paciente e seus familiares, o caráter crônico e traiçoeiro da doença, mediante empatia, paciência e humildade. Portanto o caminho para uma boa adesão terapêutica só é pavimentado a partir de atitudes de compreensão e perseverança.

 

 

* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

 

 

** Psicóloga e Egressa do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe.

O COMÍCIO


  

 

José Lima Santana*

 

 

“E eu lá tenho medo de um sujeito mofino, metido a doce de coco, que anda arengando com tudo que é gente de bem, só por causa de um deputadozinho que pretende ser governador? Governador lá pras nêgas dele, bem entendido. Tenho medo não. Nem sei o que é isso. Medo... Ô Zé de Sá Donana, tu tem medo? Tem não? Nem de alma penada, nem de cobra venenosa, nem de boi brabo, nem de praga de véia desdentada? Eu também tenho não”.

Esse falatório todo era de Sabino do finado Zacarias de Teodoro do Marmeleiro Grande. Naquela sexta-feira, ele amanheceu nos azeites. Pudera! Um tal de Afonsinho sabia-se lá das quantas, vindo da capital, andava arrotando lodaças, botando preço em cabos eleitorais, para os levar a votar no deputado Francisco Alencar, de família abastada, que pretendia chegar ao Palácio do Governo, nas próximas eleições, para dali a dez meses.

Esse Afonsinho estava entrando em cama de varas curtas, metendo-se com os cabos eleitorais de Sabino, prefeito de Monte Belo, que era por demais querido pelo povo, dada a sua enorme simplicidade e ajuntamento com os eleitores, sem fazer conta de que era o político mais rico das redondezas, das Timbiras ao Socó de Baixo, da Flor da Índia ao Buraco d’Anta. Se a família Alencar era tida como de altas posses, Sabino batia nela de três por um. Era rico e sem soberba.

O deputado pretenso ocupante do Palácio era da UDN, ao passo que Sabino era do PSD. Adversários de fogo e sangue. Na região, Sabino arrastava um lote de prefeitos, vereadores e cabos eleitorais em todas as eleições. Era por demais querido. E, o que era importantíssimo naquela época, gastador.

Para tanto, tinha meios de sobra. Léguas de terras com gado em fartura e extensas lavouras de algodão, nos tempos em que o algodão era, sim, o ouro branco. Possuía cinco fábricas de descaroçar algodão, uma rede de armazéns de secos e molhados, espalhados por oito cidades, além de uma casa bancária, que atendia clientes de vários municípios.

O tal Afonsinho se espalhou como fogo de morro acima ou água de morro abaixo. Saiu comprando os que não podiam ver uns trocados nas fuças. Porém, dos cabos eleitorais antigos, daqueles chamados de pés-de-bois, nenhum se bandeou. Bandearam-se uns gatos pingados que não juntavam duzentos votos. Ninharia.

“O dinheiro dele fede a coco de cachorro”, disse o velho Belarmino Batista das Cajazeiras, compadre do prefeito Sabino, que com ele labutava na política há mais de trinta anos e, antes, quando jovens, romperam sertões e caatingas em lutas brabas por nacos de terra ensanguentada. Brigas feias do passado.

As eleições foram se aproximando. O candidato a governador, deputado Francisco Alencar, estava conquistando o eleitorado das grandes cidades, que eram poucas. Com um discurso manhoso, mas, cativante, arrebanhava os eleitores mais jovens, profissionais liberais e mulheres, que, na surdina, tinham nele a sua preferência. O voto de cabresto que os maridos mantinham sobre as mulheres estava caindo por terra. O candidato de oposição era um velho político das antigas, mas fiel aos amigos.

Sábado. Um carro de som propalava por toda Monte Belo, cidade do prefeito Sabino, aliado do velho Pompeu, anunciava o grande comício do “candidato da vitória, Francisco Alencar”. À frente e atrás do carro de som, dois outros carros entupidos de capangas, que garantiam o livre trânsito do carro de propaganda. O juiz eleitoral, todavia, tinha garantido o vai-e-vem do carro a dar publicidade do comício.

Na casa do prefeito Sabino, seus amigos imploravam para que ele tomasse uma atitude contra o comício do adversário. Mas, ele se manteve impávido. “Todo mundo tem o direito de fazer sua eleição de forma livre”, dizia. Por dentro, contudo, ele se roía. Tentava achar uma saída. Afastando-se um pouco da roda de amigos, mandou chamar a um canto da casa Amadeu de Zé Fuinha, sujeito de boa voz, locutor do serviço de som da Paróquia Santo Expedito. Com ele conversou uns vinte a trinta minutos. Tudo acertado.

Amadeu de Zé Fuinha bebia como um gambá. Falava bem, mas a caninha na goela dele falava muito mais. Comandava o comitê do candidato da UDN, Francisco Alencar, o vereador Betinho Mochila, primo de Amadeu. Este foi-se oferecer para abrir o comício, que ele fazia muito bem, para quem lhe pagasse mais. Era uma gangorra nos palanques.

Muita gente acorreu ao comício, a maior parte de outras cidades.

A comitiva de Alencar chegou cedo, por volta das 17 horas. Comes e bebes na casa do vereador, que era dono da padaria principal da cidade de Belo Monte. O candidato udenista, que era meio sisudo, tentava sorrir a cada cumprimento de mão. Um sorriso entre dentes, forçado.

Hora do comício. Gente para lá e para cá. Foguetório. Foguetes de papouco e de lágrimas. Mocinhas assanhadas tricotavam nas calçadas próximas. Palanque cheio, improvisado na carroceria de um caminhão. Um sanfoneiro corria os dedos no fole. O terno branco de Francisco Alencar parecia, à luz amarelada da iluminação pública, também meio amarelado. Com certeza, a poeira das estradas.

Amadeu de Zé Fuinha daria início ao falatório, anunciando as presenças dos candidatos e tecendo loas a Alencar, cujo mote de campanha era “Alencar e o povo no palácio”. Esclareça-se que a cidade rival de Monte Belo era Triunfo. Era uma rivalidade acirrada, das bem brabas. Amadeu tinha bebido poucas e boas. Mantinha-se, todavia, ereto como um coqueiro sem tortuosidades.

Ao se ocupar do microfone, Amadeu lascou esta, invertendo os nomes das cidades: “Povo de Monte Belo, eu queria que você aqui estivesse, para ver como é que o povo de Triunfo recebe com festas, vivas e fidalguias o candidato já vitorioso, Dr. Francisco Alencar, como vocês lá de Monte Belo não sabem receber. Viva o povo de Triunfo!”.

Aí deu a gota. Quem era de Monte Belo, claro, sentiu-se ofendido. Praguejou. Xingou Amadeu e Alencar. “Isso é uma desmoralização!”, vociferou Pedro Barbudo, vereador do lado do prefeito Sabino. “Vamos dar uma surra neles todos!”. Era o grito de rebelião de Custódio Três Dedos, cabo reformado da Polícia Militar. Em meia hora, nem sinal de comício. A comitiva de Francisco Alencar sumiu na estrada que dava para a cidade de Triunfo.

Manhãzinha. Amadeu de Zé Fuinha botou no bolso o valor combinado com o prefeito Sabino, na tarde anterior.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

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