sábado, 26 de setembro de 2020

VOTO FORMIGUINHA


 

 

 

José Lima Santana*

 

 

No passado, não muito distante, antes da urna eletrônica, que começou a ser usada em 1996, votava-se em cédulas oficiais, brancas com uma tarja preta. Os políticos fraudadores de eleições mandavam imprimir cédulas parecidas, que eram distribuídas aos eleitores, ensinando-se a votar àqueles que tinham menor percepção das coisas. E eram muitos.

Inventaram, então, o chamado “voto formiguinha”, que consistia em um eleitor sob o descuido dos mesários, trocar a cédula oficial por uma similar, que o cabo eleitoral, candidato ou chefe político lhe entregava, recebendo do eleitor a cédula oficial que ele recebia na mesa da sessão eleitoral, tendo empurrado urna adentro a cédula similar.

De posse da cédula oficial, iniciava-se o “voto formiguinha”. Um eleitor ia com uma cédula oficial preenchida e voltava com uma cédula oficial em branco. E assim transcorria todo o pleito. Votos carimbados. Fraudes. Ah, como fizeram isso!

Na eleição de 1972, o velho caudilho municipal de Pontal de Areia, Sizino da Bela Vista, elegeria o seu sucessor à Prefeitura Municipal e tinha escolhido um afilhado para ser o vereador mais votado. No “voto formiguinha” seria fácil. Assim, Pedrinho de Gregório da Padaria dispararia nos votos para a vereança.

Quanto ao candidato a prefeito, Afrânio Junqueira, vulgo Afrânio Casca Grossa, a sua eleição seria garantida. Na sessão 19, a mais recente, com os votos dos eleitores mais novos, que votavam pela primeira vez, somando 236 votantes, o “voto formiguinha” foi inaugurado por Bililiu de Maria Cecília, pai do presidente da mesa da sessão em apreço.

A troca da cédula oficial pela oficiosa foi uma barbada. Para votar com a cédula oficial surrupiada foi escolhida pelo velho Sizino a sua neta Belinha, e ela mesma cuidaria de repassar as vindouras cédulas oficiais preenchidas a eleitores da confiança do seu avô.

Belinha, ela mesma, escrevia os nomes dos candidatos a prefeito e a vereador, variando na forma de escrever, para não ficar tudo igual, com a mesma letrinha caprichosa. Prefeito, Afrânio Junqueira. Vereador, ao invés de Pedrinho, salvo uma ou outra cédula, ela optou por Jorge Marques, candidato da oposição, seu colega de colégio e por quem ela roía brocha para namorar.

Um sacrilégio, se o avô descobrisse. Porém, a força do coração suplantava qualquer outra força. Jorge Marques era o mais bem-apessoado aluno do Colégio Nossa Senhora dos Anjos. O mais extrovertido. O mais engraçado. O mais cobiçado. Belinha era sua amiga, a despeito das desavenças políticas entre as duas famílias, desavenças sem, contudo, inimizades a fogo e sangue. Apenas desavenças. Mas, o coraçãozinho da moça dava fortes pulsadas quando estava ao lado do amigo. Ela esperava, um dia, deixar as outras moças para trás. Não haveria de demorar, segundo ela calculava.

A eleição transcorreu normalmente. Fim de tarde, fim da votação. Logo mais, as urnas foram recolhidas ao Fórum, que funcionava no prédio da Prefeitura Municipal. As apostas começavam a aumentar. Apostava-se em todos os resultados possíveis. A eleição para prefeito parecia ser pau a pau.

A oposição crescera muito na fase final da campanha eleitoral. Quem venceria? Uma incógnita. Quais seriam os nove vereadores eleitos? Quem seria o mais votado? Quais os resultados, urna por urna? Tudo era motivo para apostas.

Na urna da sessão 19, que a cargo de Belinha ficara a condução do “voto formiguinha”, os apaniguados de Sizino da Bela Vista davam cinco por um, na votação para vereador, a favor de Pedrinho contra Jorge Marques. A casadinha Afrânio / Pedrinho haveria de campear. Cinco por um? Era demais.

Muita gente contrária pegou essa aposta. Três por um, fosse lá. Todavia, cinco por um, era um despautério. “A não ser que houve fraude”! Era o que alardeava João Maçarico, apostador fino em tudo que fosse possível apostar.

Apurados os votos no dia seguinte, eis que na sessão 19 quase só deu Afrânio para prefeito e Jorge Marques para vereador. Este obteve 95 votos contra 23 de Pedrinho. O restante foi pulverizado entre outros candidatos, além de muitos brancos e nulos. Vinte e seis votantes deixaram de comparecer. Para prefeito, naquela urna, Afrânio ganhou bem, não casando, porém, os seus votos com os de Pedrinho, como era de se esperar.

Logo, apontaram Belinha como culpada pelo resultado. Como ela era o xodó do avô, recebeu apenas uma severa reprimenda. Enfim, a Prefeitura continuaria no bloco de Sizino, enquanto Pedrinho acabou sendo o mais votado, na totalidade dos votos de todas as urnas. Entretanto, na sessão de Belinha, ou aos seus cuidados fraudatórios, o moço Jorge Marques, deu um banho, como acima descrito. Um coração desabrochando na paixão fazia coisas que até o diabo duvidava.

Belinha estava aos pulos com a votação do seu pretendido, que logrou a segunda maior votação, no geral. Perspicaz, bem-falante, seria a liderança jovem na Câmara Municipal, a trombetear na oposição. Futuro garantido na política. Quem sabia, um dia, ele não poderia se juntar ao avô da mocinha? Esperança de um coração apaixonado.

Os partidários de Sizino, avô de Belinha, dariam uma festa de arromba, para celebrar mais uma vitória, a quarta em seguida, para o comando dos destinos da municipalidade. Na Câmara, fizeram cinco dos nove vereadores. Elegeriam o presidente.

A oposição mostrou muitos votos. Perdeu a Prefeitura por menos de cinquenta votos e ficou com um vereador a menos. Na última eleição tinha levado uma sova de mais de quatrocentos votos de diferença, para a Prefeitura, e só tinham conseguido eleger dois vereadores. Houve, pois, um bom crescimento.

A família de Jorge Marques, cujo pai era dono da maior loja de tecidos e confecções da cidade, também daria uma festa. Já projetava o futuro político do rapaz. Belinha foi convidada pelo próprio vereador eleito. Não faltaria. Quem sabia, não seria a ocasião para o mancebo lhe apresentar à família como namorada, depois das muitas conversas que tiveram nas últimas semanas, embora sem que ele revelasse a intenção de lhe pedir em namoro. Porém, como ela sonhava com isso, dava como certo. Sonhos.

A casa dos pais de Jorge era recuada, com um enorme jardim, onde a festa da vitória se desenrolaria. Belinha, que favoreceu o pretendente com o “voto formiguinha”, traindo a confiança do avô, como mandou o seu coração, chegou à casa de Jorge por volta das oito da noite. Muitos colegas do Colégio. Enturmou-se. O vereador eleito ainda não tinha mostrado a cara. Lá pelas nove e meia, eis que ele chegou. De mãos dadas com Celina de Isidoro do finado Robertão. Estavam de olho no olho. Era, pois, a primeira namorada a ser apresentada à família. Celina era a melhor amiga de Belinha, que quase teve um treco. Lágrimas. Desolação.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. 

domingo, 20 de setembro de 2020

CANETAS

 





José Lima Santana*

 

 

Quando eu entrei na escola, aos cinco anos, tinha um sonho: escrever com um lápis-tinta, uma caneta esferográfica, como faziam os alunos mais adiantados. Era uma escola multisseriada. Mas, aos iniciantes do ABC só era facultado escrever com lápis de rascunho, ou seja, lápis grafite. Lápis nº 2 da Faber Castell, apontado com uma lâmina de barbear da marca Gilette. Depois, apareceram aquelas “maquinhas” de apontar. Eu achava tão bonito fazer a ponta do lápis naquele treco, que gastava o lápis em pouco tempo, fazendo e refazendo a ponta.

Para apagar os erros, uma borracha em duas cores, vermelha e azul, que chamávamos raspadeira. Marca? Prima Mercur. E ainda tinha os indefectíveis lápis de cor, numa caixa com doze unidades. O tempo passou, eu fui desasnando, como se dizia, e, enfim, pude empunhar a minha primeira caneta. Marca? Sempre ela: Bic.

Pouco importa quem a usou ou a usa. Caneta azul. Azul caneta. Valha-me Deus! Fizeram uma musiquinha horrorosa, nojenta. “Fio” da gota! Pois bem. Passou ainda mais tempo. Em dezembro de 1966, ali estava eu fazendo as provas da admissão ao ginásio. Ainda guardo o meu livro de Admissão. Passei em segundo lugar. Naquele tempo, era uma festa ouvir o próprio nome no autofalante da Matriz.

De presente, ganhei do meu tio José Ariston, irmão da minha mãe, uma caneta Parker 51. Caneta-tinteiro. Folheada a ouro, na tampa e na cinta, que ele ganhou de presente na multinacional na qual trabalhou como gerente, em São Paulo. Que caneta! Comprei um tinteiro na loja “A Vencedora” de “seu” Humberto Azevedo Andrade.

A Parker não derramava tinta. O bico deslizava no papel com a leveza de uma garça cortando os ares. Eu a levava às aulas noturnas no Ginásio Tertuliano Pereira de Azevedo, só para mostrar aos colegas. Orgulho de um suburbano besta. Ao iniciar o curso técnico em contabilidade, no Colégio Tiradentes, em 1971, eu perdi a minha Parker. Não sei se deixei cair nalgum lugar, ou se me afanaram a caneta. Fiquei transtornado.

Jamais tive coragem de dizer ao meu tio que a perdi. Eu tinha vontade de possuir outra caneta daquela, mas nunca mais a possui. Outras viriam. Certa feita, eu ganhei de um amigo uma Montblanc, trazida de Nova Iorque. O amigo tinha posses. Quando gastei a carga e fui comprar outra, desisti da caneta. O preço da carga era muito maior do que o preço de várias Bics. “Tá louco”! Guardei-a. Aliás, nem sei onde está, de tão bem guardada.
Tempo houve em que uma Montblanc depositada no bolso esquerdo de uma camisa masculina era sinal de prestígio. Parecia que o mundo se dividia entre os muitos que não a possuíam e os poucos que a ostentavam. Acho até que uma Montblanc servia como chamariz para certas mulheres. E devia ser afrodisíaca.

Aliás, há poucos dias, na minha Paróquia, vi um amigo que foi à Missa com duas delas no bolso esquerdo da camisa. Puxa! Lá estavam as duas estrelas faiscando. Poder é poder. Santo Deus! Com o correr do tempo, ganhei outras canetas, mas não Parker nem Montblanc.

Como a maioria das pessoas, fixei-me na velha e boa Bic. Pouco importa quem a usa. No serviço público, deparei-me com uma esferográfica danada de ruim, que não escrevia nem um milímetro, quanto mais os quilômetros que a marca apregoava. Licitação pública do tipo menor preço. Adquiria-se uma porcaria. Como eu odiava aquela caneta infeliz, que, simplesmente, não escrevia!

Os anos continuaram a escorrer no sorvedouro do tempo. Outras canetas viriam. Muitas como brindes de lojas etc. Do tipo “usou”, “jogou”. Vai para o lixo. E haja lixo emporcalhando o mundo! Ganhei uma caneta muito bonita, embora não tão cara quanto uma Montblanc, na década de 1990. Encontrei-a sobre a minha mesa de trabalho, embrulhada. Perguntei à secretária quem a deixou ali. Respondeu-me que foi um colega de trabalho. Agradeci ao colega, que nada disse. Porém, tempos depois fiquei sabendo que o colega tinha sido mero portador. Como já estava usando, não quis devolver. Aposentei-a. Um empresário tinha enviado a caneta pelas mãos do meu colega, sabendo que eu não recebia “mimos” de quem tinha interesse nas repartições que eu dirigia.

Por conta disso, em 1997, escrevi o poema “Bobagens”, publicado no meu livro “Redemoinhos” (São Paulo: Scortecci Editora, 2015, p. 54): “Um dia, eu ganhei / Uma caneta barata, / Mas muito bonita. / Com ela, o doador esperava / Que eu assinasse / Documentos importantes, / Como portarias / e ordens de serviço. / Felizmente, frustrei suas esperanças, / E com ela eu apenas escrevi bobagens, / Em forma de poemas”.

Todavia, uma caneta simples, que eu recebi em 26 de março de 1981, guardo-a com grande carinho. Simples, muito simples. Mas, muito valiosa para mim. Nela está gravado: “Oferta da OAB”. Eu a usei apenas uma vez. Ganhei ao receber a minha carteira de advogado, por ter sido aprovado em 1º lugar no Exame da Ordem, realizado em fevereiro daquele ano, tendo sido diplomado pela UFS, em 26 de dezembro de 1980.
A única vez que eu usei a caneta ofertada pela OAB (SE) foi quando assinei a minha primeira petição, uma ação de execução cambial, em abril de 1981.

Gosto de canetas. Perco-as, às vezes. Por isso, prefiro a básica. A que não falha. Bic. Pouco importa quem também a esteja usando.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

GRATIDÃO

                                                     Antonio Sousa
 

 

 

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

O pai, apesar de algum tempo na estrada da vida médico-profissional, procurando interpretar os sentimentos, para aliviar a dor daqueles que o procuram, não pôde dissimular os seus próprios. É isto que sinto agora, neste momento, por não poder esconder a emoção que me envolve e as vibrações do meu coração irrequieto.

No momento, eu não escrevo de corpo, eu escrevo de alma, porque somente a alma entrelaçada pelo amor pode exprimir os sentimentos mais profundos de agradecimento, de gratidão e de respeito que o ser humano pode ter. Eis aí que, o solilóquio de Zaratustra me ajuda a interpretar a razão de minha indisfarçável alegria, nos últimos dias. Cheguei aqui porque contei com amigos que me ajudaram a transpor os dias mais dramáticos que vivenciei, na qualidade de pai, que, também, é médico.

Na última semana de agosto, nossa querida primogênita, Nathália, passou a apresentar os sintomas da temível Covid-19, evoluindo para fase inflamatória, com acometimento pulmonar, inicialmente < de 25% e, decorridos três dias, aproximadamente 50% do órgão já estava tomado pela enfermidade, sendo necessário internamento na UTI, ensejando um panorama dramático no qual o pensamento se emaranha.

À medida que a doença progredia, aumentava, geometricamente, a minha angústia e a da nossa família e a de amigos. Por pertencer ao grupo de risco desta impiedosa mazela, fiquei privado do contato próximo à querida filha. Confesso que foi difícil conter a contínua vontade de quebrar esse protocolo, impulsionado por meu coração transbordante e apertado.

Precisei de mãos que, para mim, se estenderam: Eis que surgem profissionais vocacionados, competentes, humanos e extremamente dedicados, compondo um grande arco que se inicia com os diretores, passa pelos herdeiros de Esculápio, os fisioterapeutas, continua com o corpo de enfermagem, os nutricionistas, os técnicos, os secretários, os profissionais de limpeza e de manutenção, tanto da Urgência, como da UTI, do Hospital São Lucas. Todos deram o seu melhor em prol da recuperação da nossa querida Nath.

Tenho a convicção de que elogiar – mesmo quando o objeto dos encômios definitivamente os não mereça – elogiar é muito mais fácil do que agradecer. Recordemo-nos da desenvoltura com que Erasmo de Roterdã elogiou a “loucura”. Entendo, todavia, que somente as pessoas dotadas de sentimentos nobres e altruísticos é que lembram de tributar homenagem àqueles que os ajudaram a mitigar o seu sofrimento.

Fiel ao sentimento de gratidão e de alegria, mesmo correndo o risco de omissão, gostaria de expressar o reconhecimento de nossa família aos doutores Almiro Oliva, José Augusto Barreto Filho, Roberta Machado, Caroline Araújo, Paulo Barreto, Liana Costa e Luiz Bittencourt, verdadeiros hodiernos discípulos de Hipócrates de Cós. Suas ações comedidas e seguras traduziram a mais pura essência da medicina, que vai além de tratar o corpo: um novo modo de sentir, de pensar, de avaliar e de agir para buscar a saúde.

Cingir-me-ei a agradecer, também, à legião de familiares e de amigos que formaram uma grande corrente de orações e de pensamentos positivos, essencial para o nosso fortalecimento e o de Nath.

E, finalmente, agradeço ao Criador, que concedeu a chance de nossa querida filha continuar entre nós. Concluo, parafraseando meu pai, José Carlos de Sousa: “Gratidão é virtude de pessoas conscientes de sua dignidade”.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

COMO AUMENTAR A PROTEÇÃO?


 

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

O “tsunami” da Covid-19, por onde passa, tem afogado, implacavelmente, a economia local. Esta constatação, aliada aos danos sociais imprevisíveis, causados pelas estratégias extremas de distanciamento físico, tem favorecido, a adoção de medidas de flexibilização do isolamento, por parte dos gestores de várias cidades brasileiras.

Embora tenha sido proposta abertura gradual da sociedade, temperando as condutas de contenção e de mitigação do novo coronavírus, o receio de piorar a já caótica situação tem atormentado, sobretudo, os dirigentes dos sistemas de saúde, tanto público, como privado. Este receio não é infundado, visto que a população ainda não adquiriu imunidade segura, quer seja pela doença, quer seja por vacinas, ainda indisponíveis.

Segundo os especialistas, o SARS-CoV-2 é transmitido por gotículas de saliva emitidas nas proximidades (menos de 2m) dos olhos, nariz e boca de uma pessoa suscetível ou pelo contato direto com superfícies contaminadas e depois tocando nos olhos, nariz e boca.

Acredita-se que, aproximadamente, 90% das transmissões ocorrem, diretamente, de pessoa para pessoa. Corroborando estas afirmações, evidências sugerem que os profissionais de saúde, que usam, adequadamente, os equipamentos de proteção individual (EPIs), notadamente, máscara, óculos e face shield, raramente adquirem a virose durante o atendimento a pacientes e que os mesmos se contaminam na comunidade onde os EPIs normalmente não são usados.

Portanto, além das medidas, já preconizadas, de higienização ostensiva e sistemática das mãos, do distanciamento mínimo de dois metros entre pessoas, do uso comunitário de máscaras, por que não incentivar, também, o uso do face shield, mesmo fora do ambiente hospitalar?

A barreira de plástico imposta por este escudo facial, além de reduzir, drasticamente, a exposição viral, apresenta outras facilidades: não requer material especial para a sua fabricação, podem ser reutilizados indefinidamente e são facilmente limpos com água e sabão, ou desinfetantes domésticos comuns. Eles, ainda, são confortáveis de usar e reduzem o potencial de autoinoculação, impedindo que o usuário toque o rosto com a mão contaminada.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A PRINCESA VOLTOU

                                            Antonio Carlos e Nathalia Sousa
 

 

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Nossa família voltou a sorrir após a alta hospitalar da querida Nathália. Acometida pela temível Covid-19, foi necessário permanecer internada, por uma longa semana, na UTI, do Hospital São Lucas. Todavia, a angústia, gerada pela incerteza da evolução clínica do acometimento de quase 50% dos pulmões, foi se desfazendo, com o transcorrer dos dias, graças a uma legião de amigos, dentro e fora do hospital, irmanados em uma poderosa corrente do bem. Ah, como vocês foram importantes!

Não poderíamos olvidar nosso preito de gratidão, ao dileto corpo de funcionários da instituição, a qual incorporou o espírito humanístico de seu idealizador, o saudoso Apóstolo da Medicina, José Augusto Soares Barreto. É justo, vós sabeis, o receio de quem distribui as honrarias do coração. Elas são sempre diminutas para traduzir a extensão de afetos que dele promanam. Mas, a sinceridade dos nossos sentimentos, exteriorizada pelos gestos francos e atitudes desinteressadas, fará, por certo, na medida das possibilidades, que a Pandemia nos impõe, chegar até vós, na proporção de nossa alegria e do nosso entusiasmo, a gratidão imorredoura e o respeito infalível da família Sousa.

Nossos sinceros reconhecimentos àqueles a quem devemos as mais belas palmas desse triunfo: os diretores, Paulo, Leonardo, Maurício e Jerônimo; os médicos, Almiro, José Augusto, Roberta, Carol, Paulo Barreto, Liana, Lizete, Thiago Augusto, João Paulo, Thiago Lopes, Vitor Vahle, Manoel, Hyder, Afonso, Saulo, Simone, Osmar, Marília, Bruna, Carlos e Tissiana; os enfermeiros, Renata, Adriana, Eric, Grazi, Grace, Lisiane, Luciana e Ivana (CONSTAT); os fisioterapeutas, Rafa, Mari, Bruno, Vivi, Clau, Katlen, Paulo e Daiane; os técnicos de enfermagem, Andréa, Marcela, Amanda, Ester, Tayane, Fernanda, Lorena, Adélia, Cananda, Lais, Rose, Adriana, Jaque, Sara, Jô, Lucas, Renilson, Vitor, Carla, Thais, Taimara, Ita, Érica e Dartecléa; os agentes da limpeza, Ivonete, Maria, Jaderson e Renata e as secretárias, Layara, Luciana, Helka, Jayane, Ane, Mariana Rose e Shamara. Aos demais colaboradores, o nosso mais vivo reconhecimento pela solicitude e presteza com que nos atenderam.

Seja-nos, também, permitido que nos dirijamos aos demais familiares e amigos, tantos, que chegam a ultrapassar os limites do nosso Estado! Deste-nos o estímulo e o apoio nas horas mais difíceis, quando a incerteza fustigava os nossos corações apertados. A nossa dívida para convosco é imensa.

Portanto, abençoados sede, caros amigos, os sentimentos que acabo de externar, em nome de nossa família, são o máximo que vos posso tributar e o mínimo que mereceis receber! Finalizo, parafraseando Lao Tse Tung: “No viver é que se acha a felicidade da vida”.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

O ANO DA PERERECA


 

 

 

José Lima Santana*

 

 

Eleição municipal, em tese, é a que mais mexe localmente com as pessoas. Claro, é no município que as pessoas vivem. Além disso, os candidatos estão perto dos eleitores. Numa eleição ocorrem poucas e boas, especialmente no curso das campanhas eleitorais.

Eleição de 1962. O rebuliço era grande. Um candidato a prefeito ameaçava pôr fim ao mandonismo político de Totoinho da Várzea Grande, que atravessou intacto as décadas de 1930, 1940 e 1950. Elegeu-se e elegeu quem bem quis e entendeu, sem levar um único tombo. Só não ganhou quando não teve eleição, no período varguista.

Dizia-se, na cidade, que se ele candidatasse o cachorro do vaqueiro Zé Botinha, elegeria na moleza. Rico, gastador, comprava cabos eleitorais a três por dois. O que importava para ele era o poder em suas mãos. Os prefeitos que elegeu, na sua alternância, eram comparsas devotados, seus lambe-botas.

Não importava se o governo estadual ao qual ele se alinhava estava de cima ou de baixo. Ele elegia quem queria para a Prefeitura Municipal. Oposição? Uns gatos pingados, que articulavam umas lorotas, aqui ou ali, mas nunca mostravam votos suficientes para derrotá-lo.

Ah, mas naquele ano, 1962, o caldo poderia engrossar contra Totoinho! Afonso de Zeca Aleijado estava sacudindo a cidade e, muito mais, os subúrbios e os povoados, ou seja, a raia miúda, onde estava a maior parte dos eleitores, pois a zona rural e a suburbana eram muito mais povoadas do que a zona urbana, a despeito do número assombroso de analfabetos, que não votavam.

Totoinho gastava com os cabos eleitorais e estes embolsavam o dinheiro, nada sobrando para os pobres. Afonso não era rico, mas estava com costas largas, junto a um deputado federal, que queria ser senador e estava abrindo a mão, direitinho. E o candidato a prefeito molhava a mão dos pobres. Um corte de pano, um chapéu, um sapato, uma sandália, uns frascos de remédio, uma dentadura, e assim por diante.

Os pobres faziam fila na frente de sua casa. E Dona Olga, sua esposa, não se fazia de rogada: atendia a todos com extrema solicitude, diferente das grã-finagens de Dona Aurélia, mulher de Totoinho, matrona que parecia ter saído de uma revista da nobreza inglesa.

Ela mal falava com as outras ricaças. A família era podre de rica, muito mais do que a do marido. Era de gente das Alagoas, metida em usinas e na política. O avô materno tinha sido barão, daqueles que compravam o título de nobreza abrindo uns quilômetros de estrada à custa de sua fazenda. Um tio e um primo foram governadores. Talvez por isso, ela fosse tão metida.

A campanha política daquele ano parecia mesmo que entornaria o caldo. O cordão de Afonso de Zeca Aleijado aumentava, dia a dia. O candidato de Totoinho, que o substituiria na Prefeitura, era Maneca Boca Preta, dono de plantações de algodão e de fábrica de descaroçar. A maior do estado. Outro rico. Mão de vaca. Porém, Totoinho era, para os seus, imbatível, mesmo com toda afoiteza de Afonso, que, no frigir dos ovos, não haveria de passar de um pé de vento, dizia-se.

Do lado de Afonso, crescia a certeza da vitória. O deputado Odilon Fagundes, candidato ao Senado, não deixava faltar a bufunfa necessária, que escorria diretamente das mãos de Afonso para as mãos do povo. Um dentista prático acudia na ação de banguelar os pobres e de dar-lhes novas dentaduras ou pererecas. Um médico receitava remédios para as doenças triviais. Um primo do deputado, médico-cirurgião, cortava a barriga de um montão de gente, em cirurgias de hérnia ou de apendicite. Mas, também, incômodos de mulher, que ficavam a cargo de sua esposa, obstetra.

A loja de Carmosa de João do Prego vendia tecidos, sapatos, sandálias e chapéus, por conta de Afonso. Tudo do mais em conta, que era para poder servir a todos que o procuravam. Faltando duas semanas para a eleição, o próprio Boca Preta andava preocupado. “Compadre Totoinho, a coisa tá ficando feia pra nóis”! Mas, o velho prefeito, tentava acalmar o seu candidato: “Ainda num tô vendo água que dê uma enchente”! Confiava na ação costumeira dos cabos eleitorais.

Um desses tais, segredou um plano para desmoralizar Afonso. Totoinho riu. E dobrou a risada. Gargalhou uma tarde inteira. Ele achou o plano muito bom. Causaria uma danação. O cabo eleitoral tinha sabido que Dona Raimundinha, viúva em bom estado, recatadíssima, desde que Floriano dos Caititus foi parar na cidade de pés juntos e lhe deixou sem filhos, há cinco ou seis anos, tinha encomendado ao prático uma dentadura, na conta de Afonso. E este fazia questão de entregar os donativos de porta em porta, como se fosse um turco mascate.

Totoinho botou gente vigiando os passos de Afonso. Boquinha da noite, Afonso saiu de casa, sozinho, e foi à casa de Raimundinha, a viúva bem-apanhada, pernas roliças, cabelos começando a pratear, ali perto, dobrando a esquina. De repente, alguns malandros fizeram saber aos quatro cantos da cidade que Afonso tinha ido “lavar a perereca de Raimundinha”, que, quando era jovem, teve uma queda por ele. Disso todo mundo sabia, até Dona Olga, que guardava um ranço. Coisa de mulheres que pensam que os maridos são eternamente dados à galinhagem.

Num instante, uma boa alma foi botar no bico de Dona Olga: “Num gosto de resenha, mas, que Deus me perdoe, a cidade tá cheia que Afonso, o seu Afonso, tá nesta horinha lavando a perereca de Raimundinha, aquela sonsa”. Ai, ai, ai! Foi um Deus nos acuda! Dona Olga, tão dedicada à campanha política do marido, não esperou para fazer um avaluemos. Perdeu as estribeiras, pois tinha o sangue quente da gente das Queimadas. Botou as roupas do marido na calçada, amontoadas. Cerrou portas e janelas. O bafafá estava criado. Afonso era um desassossegador de viúvas. E Raimundinha, uma destruidora de lares.

Era tudo o que Totoinho esperava. O plano sujo parecia dar certo. A noite ferveu. “Dona Olga pegou Afonso lavando a perereca de Raimundinha”, alardeava-se. A notícia se espalhou como vento bem soprado. As mulheres de bem queriam dar uma sova na viúva sonsa.

Em cena, porém, entrou o padre Limoeiro, conhecedor das virtudes de Raimundinha e das boas intenções de Afonso. Bateu, manhãzinha cedo, na porta de Dona Olga. “Minha filha, não se deixe enganar por essa gente cínica. Você não está vendo que querem fazer mal ao seu marido? Criaram um embeleco. Afonso, ontem à noite, foi levar a perereca de Raimundinha, isto é, a dentadura postiça. Levar não é lavar. Acorde, Olga”!

Então, o padre, zeloso com o seu rebanho, desfez o aleive contra Afonso, que se elegeu prefeito de Roseiral. 1962. Que ano! No calendário chinês, seria o ano da perereca.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

CARTEIRAS DE CIGARRO


 

 

José Lima Santana*

 

 

Sem ter, à época, plena consciência, eu já fui “banqueiro”. Capitalista fino. Como? Não sei se noutras cidades os meninos do meu tempo brincavam de transformar carteiras de cigarro em “dinheiro”. Em Dores, sim.

Cada carteira tinha um valor de face. A carteira de Astória valia pouco. Era a mais barata. Valia Cr$ 100,00, a menor “moeda” usual, para nós. Continental sem filtro valia Cr$ 200,00. Hollywood sem filtro valia Cr$ 500,00. Kent e Senador valiam Cr$ 1.000,00. Hollywood com filtro valia Cr$ 5.000,00. E Minister, a Top de linha, valia Cr$ 10.000,00. Quando apareceu a Continental com filtro, igualou-se à Hollywood congênere.

O “dinheiro” de carteira, como nós chamávamos, servia para brincar, apostando em jogos de bola de gude, moleque de castanha, baralho, dados (pios) etc. E, quando era o caso, trocávamos por dinheiro de verdade: um milhão em carteira de cigarro valia Cr$ 1.000,00 de verdade, uma nota de Cabral. Vendi muito. Com ele, comprávamos gibis, “atletas” (de jogo de botões) e outras coisas, entre nós. Era, pois, “dinheiro” corrente. Uma febre.

Em Dores, além de alguns de menor relevância, como Vamilson da Rua do Ouro, havia dois “banqueiros” principais: Valdir de Acrísio, na Praça da Matriz, e eu, no subúrbio João Ventura. Emprestávamos esse tipo de “dinheiro” a outros meninos, cobrando juros. O meu “capital” só aumentava.

Eu distribuía bombons a meninos ainda menores do que eu, para apanharem no chão das bodegas e das ruas as carteiras de cigarro vazias. Com isso, o meu “capital” duplicava a olhos vistos. Eu era um neguinho rico, montado num monte de “dinheiro”, que guardava em caixas de sapatos. Tio Patinhas? Nem tanto.

A vida fluía inocentemente. Muitas vezes, eu vendia o “dinheiro” de carteiras de cigarro, a fim de comprar o ingresso para assistir aos filmes de Durango Kid, Buck Jones, Tim Holt etc. Toda segunda-feira tinha filme de cowboy (cobói ou cobóio, na nossa língua). Ah, e o velho John Wayne? O maior cowboy de todos os tempos. Dele, no Cine São José, lembro-me de ter assistido “No Tempo das Diligências”, Rio Bravo – Onde Começa o Inferno”, “Rio Grande”, “Rio Vermelho” e o “Homem que matou o facínora”.

Eu era vidrado em faroeste. Era, não: ainda sou. Neste exato momento, fui à videoteca, contar quantos DVDs de bangue-bangue eu tenho: cento e trinta e quatro. Clássicos do faroeste.

Com o tempo, tornei-me viciado em jogar baralho com outros meninos, apostando o nosso “dinheiro”. Nas férias escolares, eu não queria outra vida. E tinha muita sorte. Às vezes, jogando pif-paf, que chamávamos de “cunca”, eu escondia uma carta, jogando com dez, ao invés das nove habituais. Imitava jogadores dos faroestes. Outros meninos faziam a mesma coisa. Éramos trapaceiros. Claro que, vez ou outra, chovia sopapos. Nada demais. Afinal, os meninos não deviam crescer mofinos.

Outras marcas de cigarro iam surgindo. Apareceu uma nova carteira de cigarro, denominada Gaivota. Era toda azul com uma gaivota branca em pleno voo. Foi-lhe atribuída, por decisão unânime dos “banqueiros”, o valor de Cr$ 5.000,00, igualando-a à Hollywood com filtro. Tudo bem. Como era um cigarro barato, logo tinha Gaivota à vontade, circulando entre nós.

Eu tinha emprestado duzentos contos de réis em notas de Gaivota (dois milhões). Lembrando que um conto de réis equivalia a Cr$ 1.000,00, ou seja, uma nota de Cabral valia um conto de réis. O padrão monetário cruzeiro foi instituído em 1942, mas, na boca do povo, o padrão réis continuava.

Surgiu um problema, que me quebraria, em parte. Na verdade, me descapitalizaria. Valdir mandou-me um recado, dizendo que, para ele, a nota da Gaivota de Cr$ 5.000,00 passou a valer Cr$ 10.000,00. Isso me lascava. Então, dos duzentos contos que eu emprestei em notas de Gaivota, só receberia a metade. Um golpe infeliz. Ah, não! Eu reagi, imediatamente. Mandei avisar que a Gaivota continuava com o mesmo valor de face, isto é, Cr$ 5.000,00. Nada mais.

O que fiz? Tratei de recolher todos os empréstimos em Gaivota. Mandei trocar com Valdir e Vamilson cada nota de Minister, de Cr$ 10.000,00, que eu tinha, por duas Gaivotas de Cr$ 5.000,00. Troquei tudo. Mandei os meninos, meus “trabalhadores” (não me falem em exploração infantil!), juntarem o quanto pudessem de Gaivotas. Quando, agora, vi-me com um montão de Gaivotas, mandei dizer a Valdir que a Gaivota valia Cr$ 10.000,00. Estourei na “riqueza”. Ufa! Valdir quase me atrapalhou. Porém, dei-lhe o troco bem dado. E assim, as nossas vidas de meninos seguia o seu curso. Valdir, que era o único rival de verdade que eu tinha, ficou para trás. Tornei-me, de longe, o “banqueiro” mais importante da cidade. Mas, nem tudo eram flores.

Uma vez, mamãe, que estava numa farinhada, ajudando os meus avós maternos, na casa de farinha de Dagraça de Sil, chegou em casa e encontrou-me, na calçada, jogando baralho com outros meninos. Ela tinha me encarregado de alguns afazeres da casa, dentre eles, esquentar as panelas com a comida já por ela preparada, antes de sair para a casa de farinha. Tudo estava frio, no fogão a lenha. Aí, deu ruim! Mamãe ralhou comigo. Botou os outros meninos para correr.

Chamou-me à cozinha, já de chinelo na mão. Imaginem um “banqueiro” apanhando! Mamãe, todavia, não sabia bem com quem estava lidando. Cheguei para ela com duas notas de Cabral na mão: “Mamãe, eu estava jogando e ganhei. Ganhei tanto que vendi dois contos de carteiras de cigarro. Olhe aqui. É da senhora”. Pronto. Ela pegou o dinheiro. Jogou o chinelo no chão. Não se brincava com um “banqueiro”. Principalmente, se ele tinha 11 anos de idade.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.


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