domingo, 20 de março de 2022

LAVAR AS MÃOS SALVA VIDAS


 

 

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Chamava a atenção dos frequentadores das aulas práticas da Disciplina de Dermatologia do Curso de Medicina da UFS a maneira meticulosa como o Prof. Delso Brigel Calheiros lavava as mãos, ao término do exame de cada paciente. Ele gastava longos minutos discorrendo sobre o caso clínico, enquanto higienizava, pacientemente, as mãos, com água e sabão.

Este ato simples, que constitui uma das ações mais relevantes no combate à transmissão de agentes infecciosos, propiciou um movimento global de parceria púbico-privada, com a Chancelaria da Unicef para a criação do Dia Mundial de Lavar as Mãos, comemorado no dia 15 de outubro.

Lendo o recém publicado opúsculo do confrade William Soares, “Semmelweis: a saga de um herói”, fica patente que o alerta da importância do hábito de lavar as mãos, no contexto da prática médica cotidiana, remonta a 170 anos, na Faculdade de Medicina de Viena, considerada a melhor da época, talvez pelo pioneirismo do ensino à beira do leito e do incentivo aos médicos e aos estudantes de Medicina, que frequentavam o colossal Hospital Geral da capital austríaca (dotado de quatro mil leitos), à prática de dissecção cadavérica visando compreender o mecanismo evolutivo das doenças.

Nos idos de 1847, ocupava a vaga de médico assistente da Primeira Clínica Obstétrica do referido nosocômio, o húngaro Dr. Ignaz Philipp Semmelweis, que ficou intrigado pela elevada taxa de Febre Puerperal, a qual ceifava a vida de uma em cada três parturientes de sua enfermaria.

Um acontecimento chamou a atenção do arguto esculápio: a morte do professor de Medicina Legal, acometido por uma moléstia idêntica à que matava as pacientes na maternidade, dias após de haver sofrido um pequeno corte na mão, ao auxiliar um inexperiente estudante durante uma necropsia.

Compilando e analisando estatisticamente as variáveis coletadas, Dr. Semmelweis constatou que na Segunda Divisão Obstétrica, onde não trabalhavam médicos nem estudantes e os partos eram realizados por parteiras que não frequentavam as salas de necropsia, ocorriam, significativamente, menos mortes pela nefasta Febre Puerperal. Baseado nestes dados irrefutáveis, Dr. Semmelweis concluiu que a doença não decorria de nenhuma epidemia natural e sim da transmissão de “partículas cadavéricas invisíveis”, por meio das mãos daqueles que acabavam de realizar necrópsias e se dirigiam, diretamente, para as salas de parto.

Objetivando testar a hipótese de que as contaminações poderiam ser evitadas pela destruição química da matéria patogênica, Dr. Semmelweis determinou que todos os profissionais ou estudantes, antes de entrarem nas salas da Clínica obstétrica, fossem obrigados a lavar as mãos com uma solução de ácido clórico, fazendo despencar a mortalidade de puérperas, de 18,27% em abril de 1847, para 1,26% no ano seguinte. Apesar da evidência, os seus protocolos de prevenção não foram apoiados por seus colegas, que as consideravam “despropósitos especulativos”.

Lamentavelmente, o herói não teve a oportunidade de presenciar o reconhecimento acadêmico do seu legado, ocorrido em 1879, após a identificação, por Louis Pasteur, que o agente “invisível” responsável pela Febre Puerperal era uma bactéria.

Foi oportuno o escriba William ter revisitado a história do pioneiro da antissepsia, já que, um dos principais armamentos que ora utilizamos no enfrentamento do também invisível SARS-Cov-2 é, justamente, a trivial higienização das mãos com água e sabão. Finalizo ressaltando que lavar as mãos, salva vidas!

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

A TRAGÉDIA DE RIBEIRÃO DA TAPERA


 

 

 

José Lima Santana*

 

 

Ribeirão da Tapera, malsinado lugar, chão de lutas muitas, terra de mando do capitão Janjão dos Passos, chefe militar e propagado benzedor. Conversa corria que capitão Janjão se envultava. Aprendera com o seu antigo comandante, major Adolfo Brito Silveira, o famigerado Silveirinha. Era o que se dizia. Este também tinha o poder de envultar-se. Dizia-se até que não tinha morrido. Simplesmente, sumira numa noite de tempestade. O diabo viera buscar a sua alma, que lhe pertencia por pacto selado.

Estando no meio de gente, de um nada, o capitão sumia. Poder de Deus, uns diziam. Obra do demo, alardeavam outros. Sei não, mas gente como capitão Janjão dos Passos era bem capaz de dar passos para todos os lados, para o bem ou o mal. Tratava-se de gente esquisita, ele e a família toda.

Pai do capitão Janjão morreu comido de bichos, que, na hora da morte, foram desalugados dos miolos, saindo pelas orelhas cabeludas. Um horror, diziam os antigos, os do tempo dele. Um tio, Joaquim, irmão gêmeo do pai do capitão Janjão, este por nome Manoel e vulgo Maneco Amarelo, pela falta de tintura de sangue nas veias, passou anos urrando como lobo vadio, entrevado numa cadeira, levado para lá e para cá. Um lobisomem cadeirante. Família estranha.

Sem falar em Maria Caçoleta, tia-avó, que, noite de lua cheia, foi apanhada no cemitério, cabelos desgrenhados, olhos injetados de sangue, como as bruxas das estórias que Dona Amelinha de Bosco de Felismino contava, nas noites de prosa, para assustar os meninos como eu. Quero dizer, os outros meninos, porque eu nunca fui de me deixar assustar com besteiragens. Eu cá, não!

De repente, se bem me lembro, capitão Janjão deu de maluquecer de vez. Passou a andar falando sozinho, revólver na cintura à mostra de todos. Falava coisas desencontradas, de amalucado mesmo. E também andava fazendo besourinhos com os beiços, como crianças de braço.

Dele, os meninos tinham medo e as beatas se persignavam quando o avistavam, cortando caminho. “É mal da idade”, dizia Florinda de Zé Catú, parteira do Ribeirão. Já Aparecida de Tonho Mijão tinha para ela que aqueles modos de proceder do capitão era manifestação do zambeta, pelos tantos malefícios causados anos a fio. Sabia-se lá...

Deu-se, então, que no inverno de 62, ano volumoso em águas de caída, aportou na cidade um médico da capital, médico de gente maluca. O doutor tratou do capitão Janjão. Fez exames e receitou medicamentos que só puderam ser encontrados na capital. O paciente abrandou. Ficou quase normal depois de uns 60 dias.

A família sentiu melhoras jamais pensadas. Mas, o doutor alertou que ele poderia ter um surto a qualquer momento. Os amigos voltaram a se reunir em sua casa, nas noites de sábado, como era costumeiro por anos a fio.

Noite daquelas, em prosa avançada na sala de estar do capitão, guarnecida por móveis antigos dos tempos do seu avô, amigos muitos sentados, quase todos fumando, a fumaça empesteando a sala, capitão Janjão dos Passos levantou-se com uma firmeza adquirida não se sabia onde e embocou no corredor que ligava a sala ao resto da casa.

Demorou-se o tempo de uma cuspida fraca secar. Enquanto a prosa continuava solta, lorotas daqui e dali, eis que o capitão, sereno e impávido como uma estátua de cera, apareceu na sala de pistola na mão. Arma alemã de doze tiros. O olhar vítreo pouco se deu conta de quem estava ali.

Sem pestanejar, abriu fogo contra todos. Um a um, os amigos foram caindo sob o impacto das balas. Certeiras balas nas cabeças. Dois dos amigos quiseram correr. Mal levantaram das cadeiras, foram alvejados pelas costas. Eram Dudu das Porteiras e Maneca de Filó, oficial de justiça.

O sangue dos amigos, em número de sete, escorreu pelo chão da sala, descendo para a calçada. Capitão Janjão contou com o dedo indicador da mão esquerda: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete... Mas, eram oito. A prosa era tocada por oito. Faltava um. Ele, olhar ainda vítreo, moveu a cabeça em círculo, como olho de camaleão.

Onde o número oito se escondera? Ficou furioso. Escapara. Teria que ser detido, para não dar com a língua nos dentes. Na sala havia um grande espelho. Surpreso, ele viu no espelho o oitavo homem. Todos teriam que morrer. Fora essa a determinação do seu chefe, Major Silveirinha, que soprava em seus ouvidos, dia e noite: “Mate todos”!

Capitão Janjão dos Passos não titubeou. Mais um, menos um, não faria diferença. Era preciso limpar a sala, limpar o mundo. Todos aqueles caídos eram falsos amigos. Todos queriam a sua ruína. Queriam-no preso num hospital para doidos. Ele não era doido. Só estava um pouco cansado de tantas traições daqueles que se diziam seus amigos.

Eram traidores. Amigos disfarçados. Pendiam para Fernandão do Brejo, seu inimigo e do seu falecido pai. Velho nojento que comia bunda de tanajura. Asqueroso como uma cobra venenosa a arrastar-se pelo mundo, picando todos que encontrava. Fernandão estava morto. Dele mandou Tonho Sete Mortes dar cabo. Os seguidores de Fernandão, amigos seus disfarçados, acabaram de seguir o mesmo caminho. Faltava um. O do espelho.

Aproximou-se do espelho. Mirou bem. Ali estava o oitavo homem. Reconheceu-se. Apontou a pistola para a própria cabeça. Um estampido. Duas quedas. Da pistola e do corpo. O episódio ficaria conhecido como “a tragédia de Ribeirão da Tapera”. Eu era menino, mas lembro muito bem do fato. Não dá para esquecer.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Sergipana de Educação e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

 

domingo, 13 de março de 2022

BORORÓ


 

 

 

José Lima Santana*

 

 

Estavam no Ceará, nos idos do regime militar. Assim me contou quem lá esteve. O governador era um coronel, eleito pelo voto indireto, como ocorria naquele tempo danado. Mas, era o governador. Ali estava ele com a primeira-dama, na primeira fileira das cadeiras do teatro, gentilmente prestigiando o espetáculo daquela noite.

Era um festival de peças teatrais moderníssimas, tão ao gosto dos estudantes e por demais detestado pela censura. “A censura ainda vai acabar com o que resta do Brasil”, dizia o diretor teatral, velho conhecido dos palcos, dos camarins pelo País afora e da Polícia. “Viva a Arte! Abaixo a censura”! Era a faixa dependurada no foyer do teatro.

Ao entrar e deparar-se com a faixa, o governador chamou o comandante da Polícia Militar, que o acompanhava, e determinou a retirada. Ordem prontamente atendida. Lá foram dois soldados retirá-la, um deles dobrando-a e metendo-a debaixo do sovaco suado, para jogá-la na lixeira mais próxima. “Isso é coisa de comunistas”! esbravejou o comandante de cara roliça como a do sargento Garcia dos filmes do Zorro.

Era a primeira noite das apresentações. Cabia, claro, aos estudantes cearenses a primazia. Um teatrólogo local escreveu de última hora uma encenação do julgamento de Jesus por Pilatos. Diálogos livres, talvez acintosos ao regime. O produtor do guarda-roupa de todas as peças encenadas pelos estudantes do curso de Direito era o mesmo: João Gomes, vulgo João de Dió ou, simplesmente, Bororó.

Um sujeito espalhafatoso, cheio de dedos, trejeitos, caras e bocas e muitos chiliques. Coitado! Sempre teve vontade de aparecer em cena. “Não, meu filho, você é bom demais nos bastidores para se arriscar no palco”, vociferava o diretor. E Bororó deixava-se vencer.

Daquela vez, não. Bororó, menino mimado por vó, fincou o pé. Ou tinha uma participação na peça, ou não desenharia o guarda-roupa de ninguém. Foi um bate-boca da desgraça. Dois dias de turras. A turma do “deixa- disso” teve trabalho. Os dois, o diretor e Bororó, não arredavam o pé.

Enfim, na antevéspera da apresentação, eis que chegaram a um consenso. Bororó teria a sua chance de aparecer em público. Iria contracenar com o estudante Márcio Antunes, que faria o papel de Jesus. Bororó seria Pilatos. O diretor tinha cedido, mas estava “porraqui” com Bororó. “Este infeliz vai botar tudo a perder. Eu temo pela reação do público. Vão dizer palavrões com ele”. Não tinha mais jeito a dar. Bororó em cena.

A irmã mais nova de Bororó tinha sido eleita Miss Ceará dois anos antes. Linda de viver. Um colosso. Ficara em terceiro lugar no Miss Brasil. Era estudante de Geografia. Namorava um jovem deputado estadual, primo em segundo grau do governador e afilhado do comandante da Polícia. Lá estavam ela e o namorado deputado, igualmente na primeira fila, do outro lado. Estava aflita para ver o desempenho do irmão. Eles eram carne e unha.

Teatro lotado. Muitas autoridades. Muitos repórteres. Rádios, jornais e TV. A estudantada cearense e as delegações dos outros Estados comprimiam-se nos corredores. O suor escorria em bicas. O governador abriu o paletó, afrouxou o nó da gravata. A primeira-dama não parava com o vai-e-vem do leque japonês. Outra faixa foi sorrateiramente posta no lugar da anterior. “Liberdade e Pão. Abaixo a Opressão”. E lá ficou. Não foi notada pelas “forças”.

Após os três toques, o palco ficou à meia-luz. A cortina foi sendo afastada para o lado direito, lentamente. O cenário era uma réplica tosca da sala de julgamento de Pilatos. Tambores rufando. Clarins. Tudo tomado de empréstimo à Banda Marcial de um dos Colégios da rede estadual. E tudo muito bem afinado. O governador mexeu-se para um lado, inclinando o traseiro à direita. Ao seu lado, o coronel-comandante, discretamente, elevou a mão às ventas. Um cheiro ruim acabara de empestear o lugar.

Correra entre os estudantes do Ceará a notícia de que Bororó faria o papel de Pilatos. Agitação total. Em cena, soldados conduzindo Jesus. Sacerdotes e fariseus. Uma pequena turba açulava, pedindo a condenação de Jesus. Um soldado deu-lhe um empurrão. A primeira-dama deixou escapar um grito e um soluço.

O arauto palaciano anunciou com voz grave: “O governador Pilatos”! Novos rufares e clarins. E eis que, com toda pompa digna de um representante de César, adentrou Bororó. Vestia uma toga escarlate com franjas e abertura frontal. Um manto dourado. Adereços cobrindo os braços, dos antebraços aos cotovelos. A estudantada urrou: “Rainha! Rainha! Rainha”! Bororó, isto é, Pilatos, deu uma rabanada, puxou uma lateral do manto e cobriu o rosto. Lentamente, sentou-se. “Rainha! Rainha! Rainha”! Bororó estava no auge.

O coronel governador sentiu-se incomodado. Fez menção de levantar-se. A primeira-dama o conteve. “Não fica bem. Vamos esperar”. Conteve-se o chefe do Poder Executivo. Um personagem sacerdotal fez as acusações contra Jesus. Dedo em riste, quase tocando o nariz do preso. Aproximou ainda mais o dedo do rosto do jovem Antunes. De sacanagem, tocou para lá e para cá no nariz apatachado do moço. Este lascou um espirro que melecou a cara do acusador. Delírio na plateia. “Meleca! Meleca! Meleca”! Uma zorra.

Bororó, isto é, Pilatos, pediu silêncio. Foi atendido após uns cinco minutos. O governador soltou a gravata. Bufava. A primeira-dama, mais uma vez, o conteve. Do outro lado de sua excelência, o comandante perguntou: “Acabo com a palhaçada, chefe”? Silêncio breve. “Ainda não”. Bororó, isto é, Pilatos, levantou-se. Tropeçou no manto. Segurou-se na cadeira. Aprumou-se. Com voz de falsete, exclamou: “O que quereis vós de mim, fariseus”?

A plateia explodiu em uníssono: “A sua irmã, Bororó”! Foi o quanto bastou. O comandante da Polícia, por sua conta, chamou alguns policiais postados a pouca distância. “Baixem o pau”! Quantos foram presos? Não sei. Quantos feridos? Também não sei. O que sei mesmo, pois me contaram, foi que Bororó nunca mais entrou em cena.

A estudantada tinha ensaiado pedir outra coisa a Bororó, que ele estava acostumado a dar, diziam as más línguas. Mas, não ficaria bem proferir a palavra monossilábica pensada. Nem mesmo ali, naquela algazarra estudantil.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Sergipana de Educação e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

domingo, 6 de março de 2022

MAIS UMA GUERRA


 

 

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A “guerra” contra a Covid-19 ainda não acabou e o mundo está vivenciando outra guerra, igualmente desastrosa, tanto pelas muitas vidas perdidas como pelas consequências econômicas e sociais que despontam no horizonte. Embora o cenário físico do conflito, causado pela invasão da Ucrânia por tropas russas, ocorra a mais de dez mil quilômetros de distância do Brasil, o alastramento de suas consequências se dará mais rapidamente do que o avanço da variante mais transmissível do SARS-Cov-2, a Ômicron.

Segundo os especialistas, a economia brasileira será “atacada” por três flancos: os combustíveis, os alimentos e o câmbio. No mundo, a Rússia ocupa o primeiro e o segundo lugar na produção de gás natural e de petróleo, respectivamente, propiciando, portanto, que os preços internacionais destas commodities disparem na direção da estratosfera. Seremos, também, afetados pela vertente dos alimentos uma vez que a Rússia ocupa, também, a primeira colocação mundial na produção de trigo e a Ucrânia, por sua vez, é a quarta maior produtora do referido grão. Para tornar a situação mais complexa, a nossa maior parceira na exportação de trigo, a Argentina, amargura uma seca que está comprometendo a safra local.

Na esteira desta interlocução, o país comandado pelo Sr. Putin, o “dono da guerra”, é o maior produtor global de fertilizantes, sendo responsável por, aproximadamente, 24% do total (41,58 milhões de toneladas em 2021) do produto importado pelo Brasil. Vale ressaltar, ainda, que o aumento do diesel se reflete diretamente no preço do frete e, indiretamente, nas nossas mesas, com alimentos mais caros.

Finalmente, o terceiro fator pelo qual o conflito no leste europeu pode impactar a economia brasileira será por meio do câmbio desfavorável. A subida do dólar e da inflação pode forçar o Banco Central brasileiro a aumentar a taxa básica de juros (Selic) além do desejado, comprometendo ainda mais, o já combalido crescimento econômico do Brasil.

Se tudo isto não bastasse, a crise humanitária provocada pela guerra tem provocado, mundo afora, grande preocupação de chefes do Poder Executivo, sobretudo, daqueles conscientes de sua dignidade, conforme manifestação do Papa Francisco: “Toda guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal”.

Quanto à “guerra” contra a Covid-19, ainda não é tempo de baixar a guarda do uso das eficazes medidas protetoras contra o novo coronavírus (uso de máscara, distanciamento físico e higienização das mãos) e, devemos, ainda, continuar insistindo no avanço da vacinação da população, sobretudo em crianças e adolescentes, cujos pais ainda ficam hesitantes em consentirem a imunização de seus filhos, graças às ações negacionistas de muitos.

Em tempos de guerra é oportuno citar o lendário primeiro ministro britânico, Winston Churchill: “A diferença entre os humanos e os animais é que os últimos nunca permitem que um estúpido lidere a manada”.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

A MORTE E A VIDA DO PADRE ANTÔNIO


 

 

 

José Lima Santana*

 

 

“Zefa! Ô Zefa de Sá Totoinha! Zefa, minha filha, o padre morreu. Bateu a caçoleta de uma horinha para a outra. Disse Maria Clara que ele comeu uma buchada na casa de Zé Argolo, bebeu um caneco d’água gelada e passou mal. Deu para estrebuchar e espumar, foi a conta.

Minha avó sempre dizia que comer comida pesada e beber água gelada em cima da bucha, é pedir a morte. A morte já vem sem a gente pedir, imagine pedindo. Morreu e está bem morrido. Vai ser um enterrão. É o primeiro padre que morre na nossa cidade. Vai ter um enxame de gente.

Ele era bem quisto aqui e por aí afora, onde era chamado a dizer missa. Já tão dizendo que até o bispo vem para o sepultamento. Vai ser uma missa de encantar. Encantar é o modo de dizer, porque, a bem da verdade, uma missa de finado não encanta ninguém, não é mesmo?

O corpo já está na casa paroquial. Belinha, a secretária dele, deve estar se desmanchando em lágrimas. Ela me parece uma moça muito séria, mas tem gente da língua grande e solta que diz lá umas coisas, que uma cristã como eu nunca deve dizer. Bato na minha boca três vezes. Que Deus me perdoe. E que perdoe, se puder, as pessoas faladeiras desta cidade pecaminosa.

Tenho cá para mim que o inferno vai receber muito mais gente daqui do que o céu. Tem gente daqui que nem vai passar pelo purgatório. Com certeza. Imagine que Dodô de Filomena disse no armarinho de Zuleica de Felícia que o padre era dado a beber escondido, em casa.

Pense se um homem santo daquele haveria de andar de pingunçada dentro de casa, bêbado de cair pelos cantos da sala ou do quarto. Acredito não! Taí uma coisa que que eu sou capaz de botar a minha mão no fogo. Pelo menos num foguinho brando dá para arriscar. Olhe, vou indo, tá? Vá espalhando a notícia que é para a gente encher a igreja, na missa de corpo presente. Vamos mostrar ao bispo o quanto a gente amava o padre Antônio”.

“Raimundinha! Raimundinha! Raimundinhaaaaa!!! Mulher, você está surda? Sou eu, Cecília. Eu estou aqui me esguelando e você nem chite. Ô criatura desaprumada na vida! Você já soube do padre Antônio? Soube não? Morreu. Sim, senhora, morreu e bem morrido. De repente. Deu nele uma coisa braba depois de comer uma buchada na casa de Zé Argolo e beber um caneco d’água gelada em cima da bucha. Assim, minha nêga, não teve salvação.

A morte quer um pretexto. Buchada com água gelada é tiro e queda. O padre gostava de uma água gelada danada, daquela de doer na goela. E você sabe, porque já deu muito pirão a ele. Aliás, você sempre paparicou os padres, até demais da conta. Pois estamos sem padre. Com certeza, o bispo vem para o enterro. A missa de corpo presente vai arrastar meio mundo para a igreja.

Aqui para nós, o padre era muito bem-quisto por aqui. Apesar dos gritos dele nas missas quando uma criança chorava nos braços da mãe, ele até que era gente boa. Melhor do que o padre Bartolomeu, aquele crocodilo velho. Dizem que virou bispo, na Bahia. Meu Deus! Que tipo de bispo botaram na Igreja! Uma lástima. Aquele não devia ter sido padre, quanto mais bispo. Mas, Deus seja servido! Mulher, vou indo. Preciso cuidar no jantar. Leonardo chega já, já, da fazenda. Em casa de marido com fome, as panelas devem estar cheias. A gente se vê no velório”.

“Anastácia! Anastácia, minha prima querida, chegue aqui na janela, que eu não tenho tempo de embiocar de casa adentro! Vem cá, vem! Como vai, minha flor? Já está a par da novidade? Oxente, então não soube do padre Antônio? Jura? O mundo todo sabe, menos você. Também, fica enfurnada nesta casa como se fosse um convento de monjas, cuidando de gatos e cachorros. Você tem tempo para cuidar de tantos bichos. Eu, hein? O padre Antônio, minha filha, passou desta para a pior. Morreu! Sim, senhora! Está mortinho da silva.

Uma tragédia. Comeu uma buchada de bode ou de carneiro, sei lá, tanto faz como tanto fez, bebeu um caneco d’água gelada e desgraçou-se. Morte na hora. Foi pá, bufo. Entregou a alma a Deus. Que Jesus tenha pena dele. Um santo homem que se foi. Um padre como ele vai demorar a aparecer por aqui.

Tomara que o bispo não mande uma peste para cá, que Deus me perdoe. Deixe eu bater na boca três vezes. Pois morreu, prima. A cidade inteira não fala noutra coisa. Diante da morte assim de repente de um padre sadio como ele parecia ser, tem algum outro assunto para se conversar nesta cidade ou noutra qualquer que fosse? Claro que não.

Vá cuidar dos seus bichos, que eu vou cuidar do jantar. Leonardo chega já, esbaforido de fome. E sabe como ele é, né? Chato para comer está ali. Quando está com fome, é capaz de comer até os pratos. Tchau”.

“Seu Francisco, que bom lhe encontrar aqui. O senhor já soube do padre Antônio, não foi? O que teve ele? Ninguém lhe disse? Ai, meu Deus! Logo o senhor, tão amigo dele, pobrezinho, não soube do ocorrido? Pois fique o senhor sabendo que ele, a essas horas, já deve estar com Jesus. Isso mesmo que o senhor está ouvindo desta minha abençoada boca. Morreu. E, ainda por cima, na casa dos outros.

Saiu da casa dele para morrer na casa de Zé Argolo. Comeu uma buchada, daquelas caprichadas como Dona Zizinha sabe fazer, e, em cima da bucha, bateu para o bucho um caneco d’água gelada. Foi tiro e queda! Não tem quem escape. Buchada é uma comida muito pesada e não se dá com água gelada. Misturou, estuporou. Pois morreu.

O corpo já está na casa paroquial. Pode passar por lá, para ver o seu amigo esticado. Só não deve estar ainda no caixão. Com certeza João de Perolina não vai fazer um daqueles caixões dele, feitos a martelo e serrote, em madeira de terceira. O bispo deve mandar vir de Aracaju um caixão de vidrinho na tampa. Um luxo! Igual ao do finado Manequinha, lembra? Causou um assombro por aqui. Coisa de rico. Pois é isso, seu Francisco. Perdemos um homem de Deus”.

Passava das cinco da tarde quando o Dr. Milton deixou a casa paroquial. O padre Antônio sentiu-se mal na casa de Zé Argolo, dono da padaria Minerva. Uma breve crise de hipertensão arterial, depois do almoço. Breve, mas forte. Chegou a desmaiar. Socorrido e medicado, porém, logo sentiu-se em bom estado de saúde, bem recuperado. Muitas missas ele ainda haveria de celebrar. Quanto a Cecília... Ah, Cecília!

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Sergipana de Educação e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.


terça-feira, 1 de março de 2022

O ARTISTA DA FOTOGRAFIA


  

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

  

Sergipe perdeu, recentemente, um filho ilustre, Lineu Lins de Carvalho, um dos primeiros profissionais de fotografia a registrar eventos da sociedade sergipana. Lineu foi, também, pioneiro no uso de câmeras digitais. Tornou-se um apaixonado pela arte fotográfica e, talvez, a sua predileção por capturar imagens do cotidiano, de artesanatos e de crianças tenha sido o caminho que escolheu para melhor sentir o lado belo da vida.

Logo cedo, ainda na adolescência, começou a demonstrar interesse pela fotografia e com vivacidade e inteligência aperfeiçoou, de forma autodidata, os seus conhecimentos no ofício, tornando-se profissional do ramo aos 19 anos de idade, em 1956. Possuidor de grande sensibilidade, as lentes de seus aparatos captavam, com magia, detalhes que só os artistas conseguem.

Quando eu era adolescente, na década de 60, morei na casa número 62, da Travessa Benjamin Constant, no oitão do então Palácio do Governo, ladeada pela residência de meus bisavôs maternos e pelo badalado estabelecimento fotográfico, “Lineu Studio”, talvez o primeiro do nosso estado.

Recordo do intenso movimento de pessoas que procuravam os seus serviços profissionais. Vários acontecimentos da nossa família foram registrados por Lineu; ainda detenho várias fotos com a sua assinatura.

Quando retornei para Aracaju, no final dos anos 80, após temporada de Residência Médica e Doutorado nas cidades de São Paulo e Ribeirão Preto, respectivamente, passei a ser requisitado com frequência para ministrar aulas, regularmente, tanto em eventos locais como nacionais.

Naquela época, o material didático era exposto mediante slides ou diapositivos que consistiam em imagem estática, positiva, podendo ser em cores, montados em molduras, que eram dispostos em um carrossel, para possibilitar a sua projeção em uma tela. Era necessária atenção refinada na montagem dos slides, para não ser surpreendido, durante a apresentação do material, por slide invertido e/ou fora da sequência desejada.

Vale ressaltar, que a confecção dos slides precisa de aparelhagem e técnica. Como eu não possuía nenhum dos dois pré-requisitos, fui recomendado a procurar os serviços de Lineu, que estava se dedicando, também, a produzir diapositivos para palestrantes. Passei a ser um habitué do seu estúdio, então localizado na Av. Ivo do Prado.

O cuidado desprendido na combinação de cores, nos tipos e tamanhos de letras empregadas, harmonicamente dispostas, faziam de cada slide, uma verdadeira obra de arte, merecendo elogios de colegas que assistiam as minhas apresentações Brasil afora.

Quando prestei concurso para Professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, o certame constou do julgamento do Curriculum Vitae, prova escrita e prova didática, cujo tema fora sorteado 24 horas antes. Recordo que cheguei ao estúdio de Lineu por volta das 18 horas, passando, imediatamente, a proceder a confecção dos slides que ficaram prontos em torno das 23 horas. Na manhã seguinte, fiz a minha apresentação e logrei aprovação. Fica, portanto, o preito de gratidão ao “Mago” da fotografia sergipana que para muitos foi, também, o “Artista da produção de slides”!

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

 

 

DEPOIS DO ALMOÇO


 

 

 

José Lima Santana*

 

 

Uma no sofá, outra na poltrona reclinada. A sesta. O almoço transcorreu com pouca conversa. A lasanha de frango foi bem degustada por ambas. Antes, salada. Teve risoto de camarão e cerveja sem álcool. Doce em calda de goiaba e pudim de leite. O calor deixava qualquer uma fatigada.

No 11º andar um vento morno entrava pela janela. A visitante despertou do breve cochilo por volta das 15 horas. A anfitriã demorou um pouco a abrir os olhos, para o fazer às 15:25 em ponto. Consulta ao relógio pela visitante.

– Ana Maria, você está de cara inchada. Dormiu bem. Eu, aqui para nós, dei uns cochilos de nada. Quase não descansei. Vou beber um copo de água. Esse calor está insuportável. Vou ter que instalar ar-condicionado nesta sala. Você quer água? Vou trazer. Não precisa se levantar. Hoje, eu sou a sua garçonete. E ainda vou ouvir a sua lengalenga. Volto já, minha linda.

Voltou com um fino copo de cristal, que ela dizia ser da Bohemia. Ia-se saber. Ana Maria sorveu a água em goles suaves. Devolveu o copo. “Obrigada”. Em instantes, estavam frente a frente. Era a hora de rebater tudo o que ouvira da boca da amiga Esmeralda, na quarta-feira.

Eram amigas de priscas eras. Suportava a língua ferina da amiga, nem sabia por qual razão. Dela nunca precisou nos seus aperreios. Passara por bons e maus momentos na vida, mas nunca dera o braço a torcer e mendigar ajuda dela, nem de ninguém. Há dois anos, era sustentada pelo filho e pelo genro, um filho do coração.

Hora abençoada em que a filha botou os olhos no jovem médico, que tinha por ela uma consideração além da conta. Já Armando era um doce de filho. Filho e genro se ombreavam nos cuidados para com ela. Dera algumas cabeçadas na vida. Poderia estar bem melhor situada. Mas, a vida era assim mesmo: andava e desandava.

– Esmeralda, há quanto tempo nós somos amigas?

A anfitriã não respondeu. Colocou o dedo indicador da mão esquerda nos lábios em sinal de silêncio.

– Amiga, um instante. Já, já eu lhe darei ouvidos. Você vai poder falar o que quiser. Sinto que o seu coração está a ponto de arrebentar. Tenha calma. Se for preciso, você falará toda a tarde e toda a noite. Poderá dormir aqui. Antes, porém, eu preciso lhe contar uma coisa. Muito séria. Só vai levar um instantinho.

Você sabia que João Medeiros, genro de Marta Fontes, quer ser candidato a senador? Pasme! A senador. Depois de meter a mão no dinheiro da sogra, que não foi pouca coisa, depois de ser processado não sei quantas vezes por botar a mão suja no dinheiro do Estado, quando foi secretário de alguma geringonça aí, como poderá ser senador? Quem haverá de votar num ladrãozinho daquele? Quem? Ele pensa que o povo é besta.

E a filha de Marta, Doralice, já anda pedindo votos para o marido. Ela deveria ter vergonha na cara por ter ajudado o safado a roubar o dinheiro das duas irmãs, que era o dinheiro da mãe delas. Quando a velha morrer, será dividido entre as três filhas. Ou seria. O que aconteceu?

Ele tomou emprestado, dizem, cinco milhões. E nunca devolveu. Já fazem quatro anos. As irmãs, Célia e Rosângela, já botaram advogado. Os comentários que rolam por aí dão conta de que o escândalo virá à tona quando começar a campanha política. Por ora, está em banho-maria. Vão, as cunhadas, lascar com ele.

Senador...! Ele jamais haverá de ganhar coisíssima nenhuma. Quer saber a verdade? Eu acho que nem candidato ele conseguirá ser. Candidato ao Senado por uma tal de terceira via, que eu nem sei que diabo vem a ser isso. Terceira, quarta ou quinta. Não gosto de política, como você bem sabe. E agora, depois dos setenta, nem perto de uma sessão eleitoral eu passo. Aliás, aqui para nós, há tempos que eu não votava mais em ninguém. Apenas cumpria uma penitência a fim de pegar o comprovante de votação, para alguma eventualidade.

– Já, já eu ouvirei tudo o que você quer jogar na minha cara. Você está meia repugnada, eu nem imagino porquê. Como você é minha amiga do coração, até vomitar na minha cara eu sou capaz de deixar que você o faça. Mas, deixe eu completar o meu raciocínio antes que você rode a baiana.

O João Medeiros esteve para ser preso por conta de uns trambiques que fez com um pessoal de São Paulo, que vendeu e não entregou uns equipamentos, mas o dinheiro, aliás, um dinheirão, foi pago antecipadamente. O processo ainda rola. Ele não foi parar no xadrez porque um primo dele tem muita influência com gente da Justiça e conseguiu, em Brasília, derrubar a prisão decretada.

Você sabe como é Brasília, não sabe? Um horror! Se o Dr. Juscelino fosse vivo, com certeza morreria de vergonha. Deve estar se revolvendo no túmulo, se ainda ossos restarem. Ah, que político foi JK! A minha família toda votou nele em 55. Meu pai sempre dizia que ele foi o único estadista do Brasil, depois de Pedro II.

Bem, quanto a este eu não sei. Uns dizem que foi um bom imperador. Outros dizem que ele viajava para a Europa para se divertir cum uma condessa, sua amiguinha, em Paris. Intrigas da oposição, talvez. Vamos voltar ao pretenso candidato ao Senado. Daqui a pouco, você derrama suas queixas.

Imagine você que o maridinho da filha da Marta anda arrotando que tem gente forte de Brasília que irá apoiá-lo. Gente graúda. Gentona. Meu Deus! Será que este nosso País terá jeito, um dia? Com essa gente que está aí, de um lado e do outro lado? Duvido. Falta gente de caráter, de coragem, de coração aberto, para olhar de verdade pelos brasileiros.

– Você esteve metida com gente da política, no gabinete do deputado Robertinho, e sabe quanta sujeira é jogada para debaixo dos tapetes palacianos.

Um sujeito como João Medeiros na política, no Senado, é para zombar ainda mais da cara do povo. Já não bastam os estrupícios que estão aí, por todo canto? Augusta? Ô Augusta?! Coitada, está ficando mouca. É o trabalhão que o marido vagabundo e as duas filhas dão a ela. Como essa pobre sofre nas unhas daqueles três! Olhe ela aqui.

Augusta, minha flor, avise ao motorista que eu vou sair. Lembrei-me, agora, que tinha marcado com a manicure, às 17 horas. Olhe que unhas horrorosas, Ana Maria. Meu amor, eu tenho que ir. Hora marcada. Pode ficar aqui se quiser. Até para dormir. Ou se preferir, venha comigo, que Aloísio me deixa no salão e leva você para casa. Amanhã ou outro dia, a gente conversa. Vamos, que o tempo urge e a morte ronda.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Sergipana de Educação e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

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