domingo, 29 de novembro de 2020

RELIGIÃO, EDUCAÇÃO, SAÚDE E A MISSÃO CENTRAL DO BRASIL

                                                       William Alfred Wadell

 

 

Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento*

 

 

Partindo de Salvador, em 1871, missionários presbiterianos norte-americanos organizaram igrejas e escolas não só no interior da Bahia, mas em Sergipe, Mato Grosso, Goiás e norte de Minas Gerais. Pela grande extensão territorial, a Missão Central do Brasil dividiu a Bahia em três regiões: Salvador, Feira de Santana e Norte da Bahia.

Os relatórios dos missionários enviados à Junta de Nova Iorque indicavam os primeiros trabalhos evangelísticos e educacionais desenvolvidos nas cidades de Salvador e de Cachoeira, informando que nesta última funcionava uma escola secundária com internatos feminino e masculino.

Em 1898, A Junta designou William Alfred Waddell superintendente das escolas da Missão Central, o qual propôs um novo tipo de instituição educacional, distinta do tipo Escola Americana de São Paulo, o Mackenzie College, mais compatível à realidade do hinterland brasileiro: uma escola secundária rural formadora de professores e de pastores no Brasil.

Na verdade, ele inspirou-se num modelo semelhante idealizado e concretizado por um colega seu, John Beatty Howell, que, em 1887, na cidade paulista de Jaú, adquiriu uma propriedade e organizou um instituto bíblico e colégio agrícola.

Em 29 de janeiro de 1906, Waddell fundou e dirigiu a Escola Americana de Ponte Nova, localizada entre Wagner e Lençóis. Até 1938, a Missão investira na construção de um complexo educacional em Wagner. O Relatório de Verificação das Instalações do Instituto Ponte Nova, realizado pela Comissão de Fiscais da Secretaria de Educação da Bahia, naquele ano, descreveu minuciosamente o Instituto Ponte Nova: o sobrado, destinado à residência do diretor e internato masculino; três pavilhões de salas de aula, dispostos em formato de U, com biblioteca, laboratório de física e química; um sobrado em estilo vitoriano, construído no ponto mais alto da fazenda, destinado à residência das alunas internas e das professoras do estabelecimento; além de uma praça de esportes.

Durante cem anos – 1871 a 1971 – os missionários vinculados à Missão Central do Brasil, partindo da Bahia, organizaram igrejas, escolas e hospitais em sua área de jurisdição. O Instituto Ponte Nova, instituição de ensino secundário rural, ofereceu durante décadas não só os cursos normal e preparatório de pastores, mas também auxiliar de enfermagem e técnico agrícola.

Após a saída da Missão, o IPN, como ficou conhecido, foi nacionalizado e integrado à Rede Pública Estadual da Bahia. Os cursos de técnico agrícola e de auxiliar de enfermagem foram oferecidos até 1999.

O sucesso daquele modelo institucional organizado por Waddell em Wagner levou a Missão a implementar, em 1923, um projeto denominado Escolas Ponte Nova. Em 1926, existiam escolas rurais em Buriti e Cáceres (Chapada dos Guimarães, Mato Grosso); Jataí e Planaltina (Chapada dos Veadeiros, Goiás). 

Nesta última cidade, foi construído um hospital. Em Rio Verde, Goiás, foram organizados pelo Dr. Donald Gordon, uma escola de enfermagem e um hospital. As atas ainda falam de um hospital em Araguaia, Mato Grosso, e de um hospital e escola em Anápolis, Goiás, estes dois últimos construídos pelo Dr. James Fanstone.

No período de atuação, a Missão Central do Brasil contou com toda a infra-estrutura necessária para implementar seus projetos. Possuía fazendas, gado, água potável, energia elétrica, tipografia, telefone, avião, veículos e serrarias (nas quais eram feitos os móveis de suas instituições).

Em Bom Jesus da Lapa havia uma fazenda com clínica, templo e escola primária, à margem do rio São Francisco, com barco motorizado. Desde a década de 1940, o avião Arauto do Rei ligava Wagner ao Sítio do Mato, Santa Maria, Cocos, Carinhanha (próximo a Minas Gerais) e vários outros pontos, geralmente transportando os alunos internos e os missionários. Além de Wagner, a Missão tinha bases em Salvador e Rio Verde, com um hangar e tambores para depósito de gasolina. Além de George Glass, a Missão contou com os pilotos-evangelistas Rodger Perkins, Bill Elton, Grady, Buyers, Trew, Reasoner e, Moore.

O trabalho institucional realizado pela Missão Central do Brasil no hinterland brasileiro ainda é pouco conhecido pela historiografia educacional brasileira, tornando-se revelador das disputas e tensões entre grupos que tinham projetos distintos. Pode-se inferir que o fato daquela organização ser presbiteriana numa região que estivera sob a ação católica durante séculos, provocou reações adversas por aqueles que não viam com bons olhos a presença de outro grupo religioso.

A Missão Central do Brasil não deixou somente indícios ou pistas, mas ações concretas na formação de homens concretos, na moldagem das almas. Há muito a pesquisar a respeito das igrejas, escolas e hospitais organizadas pela Missão Central do Brasil, a maioria ainda funcionando.

Mesmo não sendo possível fazer aqueles sujeitos falarem, poder-se-á falar das realidades de sua época, de suas prováveis intenções e ações. Necessário se faz investigar a formação de várias gerações de professores, pastores, enfermeiros, e técnicos agrícolas que serviram de propagadores daquele padrão cultural norte-americano - o presbiteriano.

 

 

* Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação/GPHPE/Universidade Tiradentes; Bolsista de Produtividade de Pesquisa em Educação pelo CNPq; Membro da Academia Sergipana de Educação, da Academia Brasileira Teológica de Letras/SE, da Academia Brasileira Rotária de Letras/SE, da Sociedade Bíblica do Brasil/SE e, do Rotary Club International/RC de Aracaju Norte/Distrito 4391.
 

PANDEMIA DE OBESIDADE


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A obesidade é considerada uma das principais pandemias do século XXI. Trata-se de condição clínica, caracterizada pelo excesso de tecido adiposo, criando quadro inflamatório sistêmico, associado ao aumento do risco cardiovascular e ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.

Atualmente, fatores ambientais e fatores psicológicos, a saber, o sedentarismo, o trabalho excessivo, o estresse e o aumento na oferta e consumo de alimentos processados e ultraprocessados, associados a fatores metabólicos e genéticos, são responsáveis pelo balanço energético positivo e à formação de um ambiente “obesogênico”.

Segundo pesquisa recente do IBGE, um em cada quatro brasileiros, acima de 18 anos de idade, apresenta obesidade, correspondendo a 25 milhões de mulheres e 16,2 milhões de homens. Vale ressaltar que esta pandemia tem atingido, também, crianças e adolescentes, impactando na frequente ocorrência de doenças como a hipertensão arterial sistêmica e a diabetes tipo 2, outrora raros nessa faixa etária.

O tratamento conservador da obesidade, baseado na dieta hipocalórica e na prática regular de exercício físico, está bem estabelecido na promoção de perda significativa de peso e, consequentemente, na melhora da capacidade aeróbica, dos parâmetros cardiometabólicos e da qualidade de vida. Todavia, a baixa adesão, sobretudo nos grandes obesos, tem causado frustração dessa estratégia a longo prazo, levando à recuperação do peso em, aproximadamente, 95% dos casos.

Assim, a cirurgia bariátrica tem despontado como a melhor opção para o tratamento da obesidade mórbida por proporcionar perda ponderal mais sustentável do que a metodologia não invasiva. Vale observar, ainda, a significativa contribuição desta modalidade cirúrgica, para o controle de comorbidades relacionadas à obesidade (hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemia), além da redução de eventos cardiovasculares fatais e não fatais.

No Brasil, coexistem o SUS, de cobertura universal do qual dependem 150 milhões de brasileiros e a Rede Suplementar (RS), de caráter predominantemente privado, com 50 milhões de beneficiários. Há, aproximadamente, uma década os dependentes do SUS, portadores de obesidade mórbida, passaram, também, a usufruir da cirurgia bariátrica, atendendo às normas regulatórias do Ministério da Saúde.

De acordo com a Federação Internacional de Cirurgia de Obesidade e Distúrbios Metabólicos, nosso país ocupa o segundo lugar no mundo, onde mais se realiza este tipo de procedimento, ficando atrás, apenas, dos Estados Unidos.

Com o intuito de comparar as alterações dos parâmetros antropométricos, cardiometabólicos e de atividade física, entre os usuários do SUS e da RS, submetidos a cirurgia bariátrica, a nossa orientanda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFS, Rebeca Rocha de Almeida, realizou a sua Dissertação de Mestrado, cujo produto foi publicado no periódico International Journal of Environmental Research and Public Health.

A investigação foi aprovada pela Comitê de Ética e Pesquisa da UFS e constou de 111 voluntários, sendo 60 dependentes do SUS (Hospital Universitário da UFS) e 51, da RS (Hospitais São Lucas / Rede D’Or e Primavera), operados por uma mesma equipe cirúrgica, que atua nas três instituições. Foi constatado que 72% da amostra era composta por mulheres e, no momento da admissão ao serviço de cirurgia bariátrica, os pacientes do SUS eram mais idosos, mais obesos e exibiam perfil cardiometabólico (diabetes, dislipidemia e hipertensão arterial) mais desfavorável comparativamente aos atendidos pela RS. Verificou-se, também, que a média do tempo de espera, para a realização do procedimento, foi demasiadamente maior no SUS (17 meses) do que na RS (2 meses). Durante esse período pré-cirúrgico, não se verificou nenhuma melhoria das comorbidades associadas à obesidade nos pacientes do SUS, todavia, àqueles beneficiários da RS, apresentaram melhor controle da hipertensão arterial.

Por outro lado, a constatação mais importante foi de que, a longo prazo (um ano), a cirurgia bariátrica produziu benefícios similares nos dois grupos que apresentaram redução significativa do índice de massa corporal e melhora tanto dos parâmetros cardiometabólicos como dos parâmetros ao nível de atividade física.

As autoridades de saúde têm alertado para o aumento, crescente, da obesidade, propiciada pela pandemia da Covid-19, provavelmente decorrente da inatividade física e do maior consumo calórico alimentar e pela ingestão de bebidas alcoólicas, impostos pelo confinamento domiciliar.

Portanto, vale o alerta de que se deve  adotar hábitos alimentares saudáveis, ingerir, pelo menos, dois litros de água por dia e praticar exercícios físicos regulares para prevenir ou tratar a obesidade, sem a necessidade de ter que recorrer, eventualmente, à cirurgia bariátrica.

 

 

* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

sábado, 28 de novembro de 2020

ADEUS, NEGÃO!

                                              João Alves Filho

 

 

José Lima Santana*

 

 

Colégio Salesiano. 1979. Eu ensinava Educação Moral e Cívica e Religião. Numa aula sobre política, eu citei o nome de um político sergipano e disse que esperava votar nele, um dia, para governar o nosso estado. Na sala de aula, uma filha desse político, Cristina, que eu não sabia ser filha dele. Fiquei sabendo, depois, por outra aluna. Após três anos, ali estava eu no palanque, em Dores, discursando e pedindo votos para ele: João Alves Filho.

Com ele, eu trabalhei nos seus três mandatos como governador. No primeiro, fui diretor regional de Educação, na DRE-5, também em Dores. No segundo, diretor financeiro da FUNDESE. No terceiro, presidente do IPES e Secretário de Estado da Saúde. Dele, eu jamais recebi um pedido indecente ou que não pudesse ser atendido, legal ou moralmente. Jamais.

João Alves fez uma revolução na vida política de Sergipe. E na administração pública. Para mim, o seu maior feito político não foram as suas três vitórias para governador, mas, sim, ter feito o sucessor em 1986, quando comandou a eleição de Valadares, único governador eleito pelo PFL, naquela eleição.

Mas, também, a sua atuação na eleição de Albano Franco, especialmente no segundo turno, em 1994. E ninguém venha para cá me dizer que não. De 1982 a 2010, eu participei ativamente de todas as eleições para governador, exceto a de 2002, quando estava no Tribunal Regional Eleitoral, como juiz da classe jurista. Portanto, sei o que estou dizendo.

Falar nas gestões de João Alves é chover no molhado. Todo mundo sabe o que ele realizou. Alguns o tinham como visionário, outros como megalomaníaco. Entre acertos e desacertos, ele deixa um saldo positivo. Suas realizações estão aí. Elas falam por ele.

O “Negão”. Muitos assim o chamavam, carinhosamente. Porém, havia quem assim o chamava de forma pejorativa. Eu bem sei. Ouvi isso de bocas adversárias. Não importa. Era mesmo “Negão”. Aliás, como seu auxiliar, eu me dava à ousadia, em particular, de assim mesmo o chamar, cara a cara. Um dia, no Palácio dos Despachos, ele me chamou de “Negão”, ao que eu retruquei, dizendo que “Negão” era ele. Eu era “Neguinho”. Ele lascou aquela gargalhada espalhafatosa que o caracterizava. Gargalhada boa da gota!

Um homem incansável. Quantas vezes, tarde da noite, ou de manhã cedo, quase madrugada, ele me ligava, como o fazia com todos os seus auxiliares, para dizer alguma coisa, cobrar alguma providência! E, normalmente, ele começava assim: “Querido amigo, eu lhe acordei?”. Não raro, de última hora, mandava a chefe de gabinete convocar alguns secretários para, às pressas, irem encontrá-lo no aeroporto, dali rumando a Brasília, num jatinho, despachando na ida e na volta. Dois, três, quatro secretários com suas pastas cheias de papeis, de projetos etc. Com ele, não tinha hora. Noutras ocasiões, almoçava com vários auxiliares na própria mesa de trabalho. Com João era assim.

Só não trabalhei com ele na Prefeitura de Aracaju, na sua última participação no Poder Executivo. Trabalhei ativamente na campanha, mas não pude lhe auxiliar. Não interessa aqui os motivos. O Vice-prefeito, José Carlos Machado, insistiu comigo e com ele para que eu o ajudasse. Não deu. Doente, mas, sem o saber, Dr. João não se deu bem, na PMA. Uma pena!

Acometido pelo mal de Alzheimer, eu o visitei, na companhia do arcebispo de Aracaju, Dom João, no ano passado. Prostrado na cama, sem falar, não sei se estava consciente, naquele momento, mas, quando eu disse que Sergipe devia muito a ele e que eu tive a honra de trabalhar nos seus governos, lágrimas escorreram de seus olhos. Uma cena triste, que eu disse a mim mesmo que jamais se repetiria, pois eu não teria coragem de revê-lo. Não naquelas condições. Realmente, não mais o vi.

Alguns políticos sergipanos o desprezaram, o desmereceram, até o traíram, depois de conviverem com ele, de se beneficiarem dele. Que ramo desgraçado, às vezes, é a política! Para minha surpresa, alguns desses, após a sua morte, foram às redes sociais para dizer “isto” ou “aquilo”, em seu favor. É sempre assim.

Bem. Chegou o fim. De forma brutal. Após amargar uma enfermidade desoladora, para ele e sua família, um ataque cardíaco e a covid-19. Por conta dessa última, nós, os seus amigos, auxiliares, admiradores e o povo em geral não pudemos prestar-lhe as devidas homenagens, diante do seu corpo, posto num esquife. Que final triste! As cortinas do tempo não lhe foram favoráveis. Fecharam-se abruptamente. Todavia, o seu legado ressoará pelos tempos afora. O reconhecimento, o carinho, a saudade de quem com ele conviveu de perto serão imorredouros.

João era um homem culto. Era, com méritos, membro da Academia Sergipana de Letras. E não o era por ser político, por ter sido governador, por puxa-saquismo, mas, pelos livros que escreveu, todos voltados para questões do nosso estado. Era devotado à leitura. Amante dos filmes e da música. Um dia, viajando para o interior, ele colocou um CD para tocar e me perguntou: “Sabe quem está cantando, Neguinho?”. De pronto, respondi: “Doris Day”. Ele gargalhou e disse: “Você tem bom gosto”. E eu: “Nós temos”. Rimos muito.

Noutra vez, na presidência do IPES, João me ligou de Lisboa, para tomar uma providência, que lhe fora indicada por um certo secretário, mas que era uma indicação equivocada, como o próprio secretário me disse, e como disse que diria ao governador, no seu retorno da Europa. Eu dei a informação a João. Mas, ainda crente da indicação do secretário, ele me deu uma bronca. Então, eu desliguei o telefone. Ao chegar, o secretário lhe disse que a informação que lhe dera era equivocada. Encontrando-me, disse o governador: “Neguinho, você é tucudo. Desligou o telefone na minha cara”. Eu respondi: “Aprendi a ser tucudo com o senhor, que é o Negão mais tucudo de Sergipe”. Ele me olhou duramente, franziu o cenho e, a seguir, disparou uma gargalhada, dando-me uma leve tapa na cabeça. Enfim, a gente se entendia.

Quem não gostava de João, mesmo quem dele se aproveitou, nalgum momento, mas o criticava, não deverá gostar deste artigo, caso o leia. Não importa. Não escrevo para agradar ou desagradar ninguém. Escrevo o que sinto e sobre o que sinto.

João Alves Filho foi o maior político e o maior governante de Sergipe, nas últimas quatro décadas, entre erros e acertos. Muitos, uns e outros, ele os teve. Que Deus o receba na sua glória, aliviando-o dos fardos que carregou até o fim.

Eu não o esquecerei, Negão! Jamais o poderei esquecer. E sei que, nalguma hora em que me lembrar de você, dos momentos que vivenciamos juntos, poderei derramar alguma lágrima. Será lágrima de saudade.

Adeus, Negão! Adeus!

 

 

* Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

 

A MISSÃO DE ENSINAR

                                                               Ana Carla Biancheriene

 

 

José Lima Santana*

 

 

Ao longo de 47 anos dedicados ao magistério, do Primário à Pós-Graduação, a única coisa que eu tenho procurado fazer é esforçar-me muito para não decepcionar os meus alunos. Não sei bem se o consigo fazer. Esforço-me. Há algumas semanas, ministrei uma aula virtual para alunos da USP – Universidade de São Paulo, a convite da professora Ana Carla Bliacheriene, que foi minha aluna na UFS e que tem realizado um excelente trabalho no estado de São Paulo, como professora, conferencista, advogada e escritora de temas jurídicos, com quem, aliás, já dividi a autoria de três livros.

Antes de ontem, ela me enviou a seguinte mensagem, recebida de uma aluna, que assistiu à aula que ministrei. Ei-la:

Boa tarde Profa. Ana Carla!

Espero e desejo que você e sua família estejam bem e com saúde!!

Primeiramente, gostaria de agradecer pelas aulas e pelos convidados excelentes com os quais tivemos a oportunidade para agregar novos conhecimentos!!

Acabei de assistir a aula do Prof. José Lima Santana e lamentei muito dessa aula não ter sido presencial, mas não presencial de live, presencial de corpo!!

Quando puder, transmita meus agradecimentos a ele pela aula! Achei a aula especificamente muitíssimo didática. A linguagem simples e as colocações do Prof. José Lima Santana me foram muito valiosas!! Gostei muito mesmo!!

Obrigada!!

Beijos!

Cacilda

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
 

domingo, 22 de novembro de 2020

O AMIGO ALBANO FRANCO

                                                           Albano Franco

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Ter amigos é, sem dúvida, um privilégio para poucos. Embora, na prática, muitas vezes se confunde conhecimento e amizade, levando, frequentemente, à frustação de se esperar receber algo que o pretenso amigo não pôde, não pode ou não quer oferecer. O verdadeiro sentimento de amizade, exaltado desde os primórdios da civilização humana, pelos Sumérios, é despojado de interesse e sobrepuja o relacionamento interpessoal, tendo como pré-requisitos o altruísmo e a lealdade.

É para mim, motivo de grande alegria e de justificado orgulho ser reverenciado como amigo de Albano Franco, talvez o sergipano que desfrutou de maior prestígio nacional. Galgou as escadas da vida pública de forma impecável, no início da carreira, impulsionado por seu pai, o magistral empresário e político, Dr. Augusto Franco e, em seguida, graças às suas próprias habilidades, que foram se aperfeiçoando a ponto de permanecer por 14 anos no comando da poderosa Confederação Nacional da Indústria (CNI) e de ter exercido, ainda, por Sergipe, os mandatos de Deputado Estadual, Deputado Federal, de Senador e de Governador, por duas ocasiões.

Os cidadãos do nosso Estado, conscientes de sua dignidade, podem abranger, consequentemente, num volver d’olhos, todo este período de mais de nove lustros e nele apontar, fatos e benfeitorias substanciais, geradas durante os prestigiados cargos que ocupou, que propiciaram o desenvolvimento necessário, para libertar, afortunadamente, o nosso povo, da rotina e torná-lo competitivo.

Sabemos que o sacerdócio da política acumula virtudes, fadigas, vitórias, frustrações, ingratidões das pessoas com os seus beneméritos, perseguições, martírio e, eventualmente, a glória. O nosso homenageado deve ter experimentado, com galhardia, um pouco de todas estas agruras e benesses referidas, ao longo de sua duradoura vida pública. Todavia, o seu trabalho profícuo e as sólidas amizades construídas fazem com que ele continue sendo reverenciado e prestigiado nos diversos rincões deste país, contrariando um célebre dito popular de que: “político sem mandato é rolete de cana chupado”! Portanto, ele comemora a sua oitava década de vida, em plena atividade, como Conselheiro Emérito da CNI e como membro do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), além de estar presente, voluntariamente, em todas as ações que se traduzem em benefícios para os sergipanos.    Dr. Albano é um homem de fé, firme nas suas convicções religiosas. Católico praticante, é figura presente nas missas dominicais e nas principais festividades religiosas de nossa cidade. Quando viaja a Portugal, sempre que possível, visita o santuário de Fátima, e eu tive oportunidade de acompanhá-lo em uma ocasião e pude constatar toda a sua devoção.

Conheço Dr. Albano, há várias décadas, todavia, foi o exercício da arte de Hipócrates que nos possibilitou a construção de sólida amizade, justificando as palavras aqui emanadas, inspiradas na afetividade manifestadas num transbordamento de coração.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação. 
 

OS VENDEDORES AMBULANTES DE UM CORDEL DIFERENTE

                                                           Colportor

 

 

Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento*

 

 

 

A divulgação de impressos religiosos chegou ao Brasil nos oitocentos através do trabalho de propaganda desencadeado pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (BFBS) e pela Sociedade Bíblica Americana (ABS). A primeira foi fundada em 1804 e a segunda, em 1816. Eram entidades mundiais que tinham como finalidade a divulgação integral ou parcial da Bíblia na língua vernácula de cada povo.

No Brasil, de acordo com a documentação localizada no acervo da Cambridge University Library, a BFBS iniciou seus trabalhos no ano de 1818, no Rio de Janeiro e, durante a década seguinte, três agentes instalaram-se em Pernambuco e no Maranhão. Posteriormente, aquelas instituições passaram a efetuar as remessas através de seus agentes e colportores para Bahia, Alagoas, Sergipe, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O agente tinha nível superior e era o representante nacional da instituição. Já o colportor, no Brasil, se caracterizou como o distribuidor e vendedor ambulante de impressos protestantes. Este, geralmente, tinha formação escolar primária. Sua missão era criar polêmica com as autoridades eclesiásticas locais através da imprensa e observar a cidade mais propícia para as futuras instalações de igrejas e escolas protestantes. Mesmo que não tivesse muita familiaridade com o material que fosse vender, era orientado a demonstrar muito entusiasmo na apresentação.

No final do ano de 1858, como resultado do trabalho de Kalley, circulavam entre o povo, além de Bíblias e Novos Testamentos, salmos e hinos, folhetos, estampas e sermões. Posteriormente, os missionários norte-americanos também editaram livros e panfletos, despachando-os para as igrejas, bibliotecas, colégios evangélicos, congregações e fazendas. Ainda em 1858, foi enviada uma remessa de livros para a cidade de Laranjeiras, na Província de Sergipe, provavelmente levada por Pedro Nolasco de Andrade que iniciava suas atividades de colportor.         

Os colportores que trabalhavam para o agente Kalley recebiam em média 50$000 réis por mês por uma hora de trabalho diário. Entretanto, aquele que trabalhasse mais de uma hora por dia, receberia 60$000 réis e, por todo o dia, 80$000 réis. Durante aquela hora, ele só venderia a Bíblia, podendo oferecer outros títulos em outro momento. Porém, tinha licença para receber encomendas de outra literatura protestante, sendo a regra estabelecida pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Tinham por obrigação fazer um relatório diário, bastante minucioso para apresentar semanalmente ao seu agente. Se o seu chefe estivesse fora do Brasil, os diários eram enviados semanalmente pelos Correios, de modo que o agente acompanhasse todo o movimento dos seus subordinados.

Durante o século XIX, aquelas instituições distribuíram no país aproximadamente 10 milhões de exemplares de Bíblias, folhetos, Novos Testamentos, estampas, sermões e livros evangélicos.

 

 

* Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação/GPHPE/Universidade Tiradentes; Bolsista de Produtividade de Pesquisa em Educação pelo CNPq; Membro da Academia Sergipana de Educação, da Academia Brasileira Teológica de Letras/SE, da Academia Brasileira Rotária de Letras/SE, da Sociedade Bíblica do Brasil/SE e, do Rotary Club International/RC de Aracaju Norte/Distrito 4391.
 

JORGE CARVALHO DO NASCIMENTO – UMA SINGULAR FONTE DE INTELIGÊNCIA E DE SABEDORIA

                                              Jorge Carvalho


 

 

Claudefranklin Monteiro Santos*

 

 

Eu o conheci no início dos anos 90. Havia chegado atrasado à minha primeira aula na Universidade Federal de Sergipe, do Curso de Licenciatura em História. Morando em Lagarto, à época levava pelo menos duas horas para me deslocar até o Campus de São Cristóvão, num ônibus da Fátima.

Pedi licença desconfiado, de mala e cuia, e fui me sentar nos fundos da sala sob o olhar dos meus colegas. Ele era meu professor de Introdução à Filosofia. Com o recato que trouxe de casa, ao término da aula, me aproximei dele para pedir desculpas pelo atraso, no que ele irrompeu com uma frase inusitada: “- Desde quando tabaréu de Lagarto faz nível superior?” O que se seguiu foi uma gargalhada que lhe é muito peculiar e outra frase que conquistou a minha simpatia: “- Relaxe, rapaz! Seja muito bem-vindo!”.

Doravante, pudemos nos encontrar em outras oportunidades, não somente na graduação, mas principalmente no Mestrado em Educação pela mesma instituição, quando nossos laços de amizade se consolidaram por intermédio de um conterrâneo muito querido, o saudoso Luiz Antônio Barreto, que não só me apadrinhava intelectualmente como também fez que questão de me introduzir nos círculos culturais dos quais Jorge Carvalho do Nascimento fazia parte e atuava de forma destacada e inspiradora.

E assim tem sido Jorge para comigo desde aquela aula: generoso e atencioso. A convivência com ele colaborou para meu amadurecimento intelectual e para saber lidar, com sabedoria, com as tramas e os dramas das relações sociais, políticas e culturais, sobretudo dos meios muitas vezes marcados por conveniência e também por muitas inconveniências, boa parte delas advindas de jogos bobos de vaidades e de disputas de poder que não levam à nada, salvo o fato de adoecer e se desgastar.

Foi na época do Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe que tive acesso a uma de suas obras, uma das minhas prediletas: A Cultura Ocultada (1998). Ele me presenteou com o livro depois de uma carona da UFS para o centro de Aracaju, onde discutimos sobre a História da Educação e a influência da filosofia alemã na cultura brasileira, sobretudo em intelectuais como Tobias Barreto, Sílvio Romero e até mesmo Luiz Antônio Barreto.

Recentemente, ele nos brindou com seu novo trabalho, diferente de todos os outros que destacarei mais adiante. Trata-se de O Carvalho (2020). Mais uma belíssima composição gráfica da Editora Criação, sob a coordenação de Adilma Menezes. O novo livro de Jorge Carvalho está dedicado às mulheres que cruzaram por seu caminho e que foram responsáveis por sua formação inicial, inclusive no ambiente familiar.

As 24 crônicas e contos que compõem a obra reúnem reminiscências riquíssimas, sensíveis e emocionantes. O Carvalho está prefaciado por Luciano Correa e posfaciado pelo jornalista Jozailton Lima. As abas estão assinadas por Ana Medina e sua conhecida beleza narrativa e analítica. A apresentação ficou por conta de sua filha, a publicitária Denise Maria Oliveira do Nascimento. Sem falar num primoroso texto de Luiz Eduardo Costa, intitulado Literatura em um tempo armado.

Nascido em Salvador-BA, naturalizou-se sergipano, em Aracaju, vivendo intensamente a vida cultural da cidade desde a juventude, inclusive como redator do Gazeta de Sergipe. Constituiu família com a professora e escritora Ester Fraga Villas-Boas. É professor aposentado da Universidade Federal de Sergipe, ex-secretário municipal de educação de Aracaju, em duas ocasiões, e ex-secretário estadual de educação de Sergipe; fundador e atual presidente da Academia Sergipana de Educação (ASE) e ocupante da cadeira de nº 34 da Academia Sergipana de Letras.

Além de Cultura Ocultada (1998) e O Carvalho (2020), Jorge Carvalho é autor dos seguintes livros: Positivismo, Ciência e Religião no Brasil do Século XIX: (re)lendo O Brazil Mental (1996); Historiografia Educacional Sergipana (2003); Memórias do Aprendizado: 80 anos de ensino agrícola em Sergipe (2004); História da Educação no Nordeste Brasileiro (2006), com Antonio Germano Magalhães Júnior e José Gerardo; Ensino superior, educação escolar e práticas educativas extra-escolares (2006); Intelectuais da Educação: Sílvio Romero, José Calasans e outros professores (2007); A escola de Baden-Powell: cultura escoteira, associação voluntária e escotismo de Estado no Brasil (2008); Fontes para a História do Poder Legislativo da cidade de Aracaju (1855-1965), com Ester Fraga Villas Boas; Aracaju: cidade das águas (2011), em parceria com Luiz Antônio Barreto e Tintiliano; Os Camaristas: contribuição a História da Câmara Municipal de Aracaju (1855-2012), com Ester Fraga Villas Boas (2012); Muda Expressão (2017); (catálogo fotográfico, 2018); Memórias da Resistência: o MDB e a luta contra a ditadura militar em Sergipe (2019).

Pelas razões aqui expostas e, sobretudo, por sua lavra cultural e científica, Jorge Carvalho está entre os mais notáveis intelectuais sergipanos de nosso tempo. Incansavelmente produtivo, segue nos presenteado com escritos dignos de reconhecimento e aplausos. Vida longa para ele. Acima de tudo, que ele siga sendo como o Carvalho: forte, frondoso e longevo.

 

 

*Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe, doutor em História e membro das Academias Sergipanas de Letras e de Educação.
 

sábado, 21 de novembro de 2020

JORGE CARVALHO E O MATRIARCADO

                                                           Jorge e D. Petrina

 

 

José Lima Santana*

 

 

De “A Cultura Ocultada” às “Memórias da Resistência”, eu venho acompanhado a trajetória literária de Jorge Carvalho do Nascimento, tendo, inclusive, a oportunidade de escrever a apresentação do livro “FÉ”, no qual ele reúne diversas fotografias de cunho religioso. Um trabalho muito bonito que revela o fotógrafo amador em busca do aprimoramento.

Agora, ele veio com “O Carvalho”, estreando na seara da prosa. O acadêmico, autor de consagrada e vasta obra voltada, sobretudo, para a educação, deu de bater asas para plagas ainda por ele não frequentadas. Saiu-se bem? Ao menos na minha tosca visão, é o que veremos na sequência.

Jorge Carvalho faz arte literária a partir de realidades vividas ou sentidas. Como diz Nelly Novaes Coelho, a “arte é na realidade, em suas diferentes manifestações, o fenômeno que descobre o mundo à Humanidade” (Literatura & Linguagem. 4 ed. São Paulo: Edições Quíron, 1986, p. 30).

Jorge traz alguns dos seus mundos para os leitores, através de crônicas/memórias. Já se disse que as normas jurídicas tiveram como protótipo as regras domésticas, ainda nos tempos das cavernas, ditadas pelas mulheres, as matriarcas. Delas, emanaram, então, as normas jurídicas costumeiras, e, depois, escritas, como as conhecemos.

Já se disse. Duvidar, eu não duvido. Jorge Carvalho, talvez, também não. Vai-se saber. Aliás, Jorge, duas vezes casado, é pai e avô. Dele, por ora, descendem três mulheres, duas filhas e uma neta. Pode-se dizer que ele é “femeiro”. Não teria ele tomado lições com o velho Abílio, em Dores, que ensinava aos recém-casados como fazer meninos ou meninas. Dizia o velho fazendeiro que se o cabra, na hora do vem-cá-vamos-ver, fungasse no lado direito do cangote da sujeita, nasceria menina. Se fungasse no lado esquerdo, nasceria menino.

A verdade é que Jorge adentrou na carreira de beletrista. Na prosa, com crônicas e contos, às vezes não se precisando bem onde se misturam ou se separam. Não importa. Isso até é muito bom. É estilo. O que importa mesmo é que o autor, já passado da flor da idade, faz desabrochar, como uma flor do deserto, o prosador. Com pena ou tecla suave, meticulosa, atrevida, por vezes, esquadrinhando o doméstico e o social. Metido no mar de calmaria ou de procelas do mundo matriarcal. Ali o menino cresceu, entre sabores – imensos – e dissabores – nem tanto –, como sói acontecer com qualquer ser de calças, curtas ou compridas, cercado pelo farfalhar de saias e vestidos.

O mundo das matriarcas é quase mítico. Envolvente. Surpreendente. Nesse caso, de outras três mulheres: Petrina, Terezinha e Ivanda. Todas da mesma cepa: do Carvalho. Bem. Outro não poderia mesmo ser o título do recente livro de Jorge Carvalho, o mais bem posto galho de tão vistosa árvore. Os vinte e quatro textos que compõem o livro são de fácil e fluida leitura. Lê-se o primeiro e já se quer ler o último. É quase um romance desmontável em que cada texto funcionaria como um capítulo.

O real se “desrealiza” na obra de Jorge? Segundo Roger Samuel, na “literatura, o que é real é definido a partir de uma desrealização que a obra-de-arte faz” (Manual de Teoria Literária. 6 ed. Petrópolis (RJ): Editora Vozes, 1984, p. 15). O autor faz o leitor passear pelos cantos de sua casa, para bisbilhotar o modo de vida da família pequeno-burguesa, que vai fruindo, a cada tempo, as delícias da vida que se moderniza na cor da geladeira ou nas imagens distorcidas do televisor, tudo isso luxo de poucos, na rua ou no bairro. Dentre, obviamente, outros luxos domésticos ou sociais.

O Cine Palace, “o palácio dos grandes espetáculos”, como dizia o jingle difundido nas emissoras de rádio, é um luxo social de primeiríssima grandeza. A feira farta e bem discriminada, feita ali no mercado, é um luxo de narrativa literária. É luxo sobre luxo. Luxo maior não pode haver do que a conservação de bons amigos. Uma amizade duradoura é um tesouro a ser guardado no mais recôndito do peito. Porém, uma amizade tão profunda nem sempre provém de outro ser humano ou de um cão, por exemplo. Ela pode estar ancorada no alumínio de um cuscuzeiro. Companheiro de viagem. Até para a terra dos teutônicos. Terra da língua mais gutural, da boa filosofia, às vezes da falta de um bom banho (não é mesmo, Jorge?). Não relativamente ao nosso autor, bem entendido. É bom que se esclareça, antes que o pensamento anoiteça nalguma cabeça. O autor sabe do que falo. Um cuscuzeiro. Amigo inseparável até o dia, que se espera longínquo, do encontro com o crematório. Amizade é amizade. Um cuscuzeiro pode ser um amigão. Que nunca se diga o contrário.

As composições de Jorge Carvalho dão o tom de sua arte literária, para bem ilustrar o pensamento de Mikhail Bakhtin: “Também pode-se definir a composição como o conjunto dos fatores da impressão artística” (Questões de Literatura e de Estética – A Teoria do Romance. Tradução de Aurora Fornani Bernardini et alli. São Paulo: Editora UNESP/Hucitec, 1988, p. 22). Elas rastejam de forma abjeta. São terríveis. O veneno. A língua bifurcada, temida. São ligeiras, quando lhes convém. Todavia, podem ser preguiçosas. Sim, elas mesmas, as serpentes. Na boca de um senhor de baraço e cutelo, porém, a pobre mulher era chamada de serpente preguiçosa. Que falta de modos! Que desmantelo das seiscentas, era aquele tal Tonico, fazendeirão bem arranchado e bem montado em teúdas e manteúdas. Pobre Genoveva, que me fez lembrar aquela outra de igual graça, cantada em cordel (“Os Martírios de Genoveva”, de Leandro Gomes de Barros), que eu, menino, ouvi mil e uma vezes, na voz pouco ritmada do meu pai. Eis um conto arretado, “seu” Jorge. Tinindo de bom. Igualzinho a uma fritada de maturi ou a um doce em calda de cajuís.

E “O Júri”? Nos meus tempos de advocacia, fiz muitos. O primeiro foi inesquecível. Ganhei folgado. Morte por faca e revólver. Mas, não tive nenhum coronel Joãozinho Maia a pedir pelo meu constituinte, nome bonito que o advogado dá ao réu. Pois fique sabendo, Jorge Carvalho, que depois de ler o seu conto, deu-me uma vontade danada de voltar ao Tribunal do Júri. Agora, não pega bem. Sou padre. Nem em aclarada legítima defesa. Ficarei na vontade.

E ficarei por aqui. Li tudo. De tudo gostei. Seja bem-vindo, Jorge Carvalho, ao seu novo clube, o dos prosadores.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de /direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

 

domingo, 15 de novembro de 2020

SERGIPANAS NO INSTITUTO PONTE NOVA

                                              Alunas do Instituto Ponte Nova

 

 

Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento*

 

 

A partir dos primeiros anos do século XX, sergipanas foram estudar no Instituto Ponte Nova com o objetivo de fazerem o curso normal oferecido pela instituição. O colégio foi organizado em 1906, pela Missão Central do Brasil, vinculada à Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados Unidos, na cidade baiana de Wagner. O mesmo grupo religioso fundara, em 1870, a Escola Americana, futuro Mackenzie College, em São Paulo.

Através da documentação do Instituto Ponte Nova localizei seis sergipanas e seus respectivos anos de conclusão do curso: Joana de Araújo Regis (1913) e Josefa Araújo Dourado (1914), eram de Riachão do Dantas; Dalila do Carmo Costa (1914) e Antônia Rodrigues Souza (1916), de Estância; Maria Glória Chagas (1920), de Itabaiana; e, Olda do Prado Dantas (1934), de Simão Dias. Destas, foi possível apreender parcialmente a trajetória de Dalila, Antônia, Maria da Glória e Olda.

Dentre os alunos que o Instituto Ponte Nova recebeu em 1907, estava Dalila do Carmo Costa, nascida em Estância, Sergipe, em 18 de maio de 1896. Era mulata, estatura baixa, franzina, acanhada, falava pouco. Órfã de pai e mãe, tinha um irmão, Olímpio, que deixara em sua cidade natal.

Ela iniciara seus estudos na Escola Americana de Aracaju, sob a direção de Woodward Finley. Em 1914, Dalila formou-se, dedicando-se a lecionar Português, Literatura Nacional e Educação Moral e Cívica naquela instituição. Durante 50 anos, Dalila dedicou-se ao magistério. A professora não se casou, não teve filhos, morava sozinha.

Muitas ruas de Wagner receberam nomes de missionários e ex-professores do Instituto Ponte Nova. Provavelmente, em meados da década de 1960, Dalila Costa foi homenageada com uma rua no centro da cidade. No seu sepultamento, em 1982, os parentes foram substituídos por amigos, colegas e ex-alunos.

Antônia Rodrigues Souza, Duquinha, como era conhecida, partiu da cidade sergipana de Estância. Morava com o pai, uma irmã mais velha e um irmão, que era ourives. Todos eram presbiterianos da igreja do Reverendo Cassius Bixler. Apesar de serem pobres, as moças faziam muitos bordados e andavam sempre bem vestidas.

Por sugestão e intermediação da professora Sancha Galvão junto ao missionário Bixler, provavelmente em 1911, Duquinha recebeu uma bolsa de estudos no Instituto Ponte Nova, onde ensinava bordados e costuras como forma de pagamento, e em 1916, concluiu seu curso, continuando a trabalhar na instituição. 

Maria da Glória Chagas nasceu em 1906, na Fazenda Lagamar, situada no município de Frei Paulo, em Sergipe. Seus pais, João Francisco Chagas e Maria Gracinda de Oliveira Chagas, eram presbiterianos. Glorinha foi enviada para o Instituto Ponte Nova, recebendo uma educação que reforçou os rígidos conceitos religiosos adquiridos e desenvolvidos em família, além de ter aprendido o latim, o inglês e piano.

Depois de concluir o curso, em 1920, Glorinha voltou a Sergipe e lecionou por algum tempo no Colégio Guilhermino Bezerra, em Itabaiana. Fixou residência em Aracaju, na companhia de dois sobrinhos, filhos do seu irmão mais velho, que a acompanharam para receber educação.

Indo lecionar na Escola Nossa Senhora da Salete, da professora Ester Lopes, paralelamente, manteve em sua residência uma escolinha noturna. Quando achou que já tinha cumprido a sua missão, voltou à fazenda onde nasceu, falecendo em julho de 1987.

Olda do Prado Dantas nasceu em Simão Dias e foi criada num lar evangélico, onde seus pais, a professora Gregória do Prado Dantas e Manoel da Fraga Dantas, eram presbiterianos. Depois que Olda concluiu o curso primário, Gregória, sua mãe, solicitou ao diretor do Instituto Ponte Nova, o Reverendo Cassius Bixler, que recebesse a filha na instituição.

No período de 1930 a 1934, Olda fez o curso normal. Retornando a Sergipe, cursou suficiência em Canto Orfeônico e em Educação Física, na cidade de Aracaju. Além disto, lecionou nas Escolas Reunidas do município. Anos depois, ensinou Canto Orfeônico no Grupo Escolar Fausto Cardoso, sendo efetivada como professora estadual. Em janeiro de 1958, lecionou aquela disciplina e, também, Português no Ginásio Cenecista Carvalho Neto.

Durante muito tempo, a memória de professoras ficou relegada a segundo plano pela historiografia educacional brasileira. No entanto, ultimamente a experiência de vida de docentes como agentes educacionais e especificamente a feminização do magistério tem se tornado sujeito da memória.

Dar visibilidade à memória de mulheres professoras possibilita identificar e reconhecer espaços de resistências além de desconstruir uma história da educação registrada em sua maioria por homens e respaldada por documentos de Estado.

 

           

*Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação/GPHPE/Universidade Tiradentes; Bolsista de Produtividade de Pesquisa em Educação pelo CNPq; Membro da Academia Sergipana de Educação, da Academia Brasileira Teológica de Letras/SE, da Academia Brasileira Rotária de Letras/SE, da Sociedade Bíblica do Brasil/SE e, do Rotary Club International/RC de Aracaju Norte/Distrito 4391.
 

DEVER CÍVICO COM SEGURANÇA


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Neste domingo, milhares de brasileiros irão exercer o direito cidadão de escolher, livremente, mediante votação, embora nem sempre esclarecida, os dirigentes e os legítimos representantes do povo, de inúmeras cidades brasileiras. O passado tem mostrado que, embora se trate de um dia festivo, a disputa acirrada e apaixonada de alguns candidatos e seus correligionários, transforma algumas localidades em verdadeiros campos de batalha, sendo necessário até intervenção de forças federais.

Vale ressaltar que, na nossa história republicana, será a primeira vez que um processo eleitoral, dessa representatividade, ocorrerá durante uma pandemia. O mais assustador é que, ainda, estamos contabilizando os estragos causados pela primeira onda da Covid-19, que ainda não se dissipou totalmente e já se visualiza, no outro lado do Atlântico, mais uma ameaçadora onda, que tem provocado novo lockdown em várias cidades europeias. Seguramente, em nosso meio, ainda não foi atingida a propagada imunidade coletiva ou de rebanho quando a quantidade de pessoas contaminadas e curadas impedem a circulação de um determinado vírus, por falta de hospedeiro suscetível. Por outro lado, apesar do hercúleo esforço desprendido pela indústria farmacêutica muitas em parceria com universidades e outras instituições de saúde, as vacinas contra o SARS-Cov-2, que estão em estágios mais avançados, ainda não conseguiram concluir a importante fase três da pesquisa, que visa a testar a segurança e, sobretudo, a eficácia do fármaco.

Somando-se a isso, as referidas vacinas, mesmo quando aprovadas pelos órgãos regulatórios de saúde, não estarão disponíveis, imediatamente para a população, uma vez que vai ser preciso montar uma gigantesca logística envolvendo insumos e profissionais para imunizar a população de um país com dimensões continentais, como o nosso.

Diante do exposto, para que o dia da votação não seja maculado por ampla disseminação do temível vírus, torna-se imperioso o cumprimento das conhecidas e amplamente divulgadas regras básicas de proteção:

a) não devem comparecer, aos locais de votação, aqueles que testaram positivo pelo RT-PCR e que se encontram isolados, no período de 14 dias do início dos sintomas;

b) o mesmo vale para os contactantes de pessoas sabidamente contaminadas e que estão cumprindo a quarentena, regimentar, de 14 dias;

c) igualmente, devem permanecer em casa os indivíduos que apresentam, ou que apresentaram, recentemente, sintomas sugestivos da referida virose, tais como: febre, cefaleia persistente, perda do olfato e/ou do paladar, fraqueza, dor na orofaringe, mialgia e diarreia, mesmo que não tenham realizado o teste diagnóstico ou que o resultado do mesmo seja negativo;

d) para os que não se enquadram nas premissas acima referidas e que estejam aptos a votar, não devem se descuidar de higienizar as mãos (com álcool em gel e, assim que possível, com água e sabão), usar máscaras (se possível óculos de proteção e/ou face shild) e procurar manter um distanciamento social de, pelo menos 1,5 m. Cuidado especial deve ser observado pelos idosos e os portadores de comorbidades como a hipertensão arterial sistêmica, a diabetes, a obesidade e as doenças cardiovasculares e renais, por fazerem parte do grupo de risco para evolução desfavorável quando contraem a Covid-19.

Portanto, finalizo, ressaltando que, não infringir as regras básicas de segurança, constitui, também, um dever cívico.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação. 

sábado, 14 de novembro de 2020

CONCLUINDO O CURSO GINASIAL

                                                        John Adams

 

 

José Lima Santana*

 

 

1970. O ano do tricampeonato de futebol. O professor Cerivaldo Pereira dizia-nos que seria bom ganhar a Copa do Mundo, embora fosse muito preocupante. Para ele, o governo do presidente Médici aproveitaria a euforia do povo para encobrir mais prisões e torturas.

Enfim, concluiríamos o curso ginasial.

Em abril, uma notícia muito triste para Sergipe e, particularmente, para o diretor do Ginásio, ou melhor, do Colégio, padre Araújo: a morte de Dom Távora. Mas, a vida seguiria. O último ano era de muita expectativa. Desde o ano anterior, já funcionava no Colégio o segundo grau, com o curso pedagógico.

Um ano de atividades. De questionamentos. Em História Geral, a Revolução Francesa mexeria comigo. Cheguei, inocente e estupidamente, a pensar em atear fogo ao cartório do registro imobiliário, para destruir os registros das propriedades rurais. Os trabalhadores rurais deveriam ter a propriedade das terras.

Estudando a independência das treze colônias inglesas, que formariam os Estados Unidos da América, o livro texto, de Souto Maior, dizia assim: “O primeiro presidente dos Estados Unidos foi George Washington, que teve dois mandatos. O terceiro presidente Thomas Jefferson, foi o autor da declaração da independência.

Ora, quem teria sido o segundo presidente dos ianques? Busquei a resposta na biblioteca. Lá estava. Na Enciclopédia de História das Américas, de Douglas Michalany (voltei à biblioteca do Colégio para me certificar do nome Michalany), constava que o segundo presidente foi John Adams.

Eis que, na sabatina, caiu para mim exatamente essa questão. Pensei que iria abafar na resposta. Ao dizer que foi John Adams, a professora fez cara de surpresa e indagou: “Quem”? Eu repeti: John Adams. E ela: “De onde você tirou isso? O segundo presidente foi Washington”. Santo Deus!

Como Washington teve dois mandatos, para ela, ele teria sido o primeiro e o segundo presidente. Ufa! Então, eu falei sobre a minha consulta à biblioteca. Ela riu e mandou a turma me dar uma vaia. Eu era presidente do Conselho de Classe. Pedi licença, fui à biblioteca e voltei com o livro, mostrando-lhe a lista dos presidentes de Washington a Lyndon Johnson. Ela disse que o livro estava errado.

Eu era um neguinho tinhoso. Na revista “Realidade” tinha os endereços das embaixadas sediadas em Brasília. Mandei uma carta à embaixada americana, perguntando quem tinha sido o segundo presidente dos Estados Unidos. Dias depois, a reposta veio pelo diretor da Biblioteca Leonard Klein (este nome eu não esqueci) do Consulado em Salvador, então existente.

A carta-resposta foi incisiva: “Informamos que o segundo presidente dos Estados Unidos da América foi John Adams”. Recebi a lista dos presidentes, de Washington a Nixon, além de vários folhetos sobre a História e a Geografia dos States, em português. Era a hora da vingança. Na aula seguinte, eu pedi licença à professora, li a carta e deixei-a sobre a mesa dela. Depois, claro, peguei de volta. Ela perdeu o compasso. Comigo era assim, não se tirava leite sem espuma.

Na quarta série, essa mesma professora, que era boa professora, apesar do incidente, costumava promover o júri simulado de um personagem da História. O escolhido foi Napoleão Bonaparte. Escolhidos as personagens do júri, eu fiquei como juiz. John Roberto, como promotor, na acusação. Ocorre que eu me preparei para acusar. E John não se preparou.

Faltando dois dias, eu propus permutar as funções com ele. A professora aceitou. O diretor convidou o juiz de direito, Dr. Jonalter Andrade, e o promotor de justiça, Dr. Arquibaldo Mendonça, que compareceram. Após uma acusação vibrante, ganhei o júri por 6 a 1. Dagraça de Paulo Carioca me disse que votou a favor de Napoleão porque o colega Zezinho de Valda, que o representava, estava muito triste.

Ao final, Jonalter e Arquibaldo chamaram-me para dizer que eu deveria fazer Direito, pois era um advogado nato. Embora, antes, eu pretendesse estudar História, já tinha me deixado tocar pela mosca do Direito, por causa de um júri ao qual eu assisti o discurso da defesa, em frente à Prefeitura, onde funcionava o Fórum, no andar superior, já que, sendo menor de idade, não poderia subir. Fiquei entusiasmado com a fala do advogado. Achei que poderia ser um sujeito daquele que falava bastante e com veemência. Assim, o meu destino universitário estava selado.

Nas tardes de sábado, as aulas terminavam mais cedo. Um grupo de alunos, eu, Ari, Fernando, Luciano, Tetra (Zé Francisco), às vezes Beto John, Hildeberto ou Zé Alberto, fazíamos um ligeiro périplo. Íamos ao sítio dos pais de Ari, no Saco de Caçulo, deliciar-nos com tangerinas, ou às obras da DESO, para a instalação do sistema de abastecimento d’água etc.

Éramos muito unidos, especialmente os quatro primeiros. Entre nós, havia um fotógrafo: Toninho (Antônio Elpídio), que fez muitas fotos da turma. Tínhamos um time de futebol. Ruim de bola, eu era o técnico. Ficamos em segundo lugar, no torneio interno.

Das quatro séries ginasiais, os professores que mais me marcaram foram: Joana Maria da Silva, Pe. Araújo, Osvanda Maria Oliveira Vieira, Antônia Figueiredo, Maria Enezilde Vieira e Cerivaldo Pereira. Inesquecíveis.

Como presente de formatura (naquele tempo fazia-se formatura de conclusão do curso ginasial), recebemos do ex-governador Lourival Baptista, então candidato ao Senado, nosso paraninfo, uma visita à hidrelétrica de Paulo Afonso, com hospedagem na vila militar.

Fomos também em passeio a Penedo, nas Alagoas. A solenidade de formatura ocorreu na sede social do Dorense Futebol Clube, que eu viria a presidir, a partir de abril de 1981, em três mandatos, dois em sequência e um intercalado, quando construí a nova sede social, que, tempos depois, infelizmente, seria leiloada pela Justiça do Trabalho, por absoluta irresponsabilidade de dirigentes da época.

Passada a eleição, Lourival Baptista foi a Dores, num dia de feira, agradecer pela votação maciça que obteve. Em frente ao bar de Delson, cercado por uma multidão, ele disse: “Quando subi no edifício Estado de Sergipe, pude avistar a minha querida São Cristóvão, mas não avistei a minha querida Dores. Então, chamei Paulo Barreto e disse-lhe que colocasse mais dois andares. Depois, subi novamente e pude contemplar esta bela cidade”. Delírio dos presentes. Uma bela fake de Lourival.

Terminado o curso ginasial, estávamos preparados para enfrentar o segundo grau. A maior parte das meninas ficaria no Colégio, no curso pedagógico. Dos meninos, somente um ficaria. Algumas meninas e quase todos os meninos iriam para Aracaju ou para o Colégio Agrícola. Eu iria para o Colégio Tiradentes, cursar o científico. Mas, por um acidente de percurso, acabei no curso técnico em contabilidade. Mas, aí, é outra história.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
 

BOTARAM SAL NO DOCE DO GOVERNADOR

PÓ DE SOVACO DE MORCEGO

      José Lima Santana*     Zé Calango esbravejou diante do prefeito: “O que é que você pensa, seu cabeça de vento? Que o povo é ...