José Lima Santana*
Tão logo pisou o solo brasileiro, o
príncipe regente, Dom João, começou a legislar acerca da instrução pública.
Inicialmente, no que dizia respeito ao subsídio literário, imposto criado no
tempo do Marquês de Pombal. Ainda na Bahia, a Decisão Regencial nº 1, de 2 de
fevereiro de 1808, regulou a incidência desse imposto sobre a aguardente, para
angariar mais recursos a fim de fazer face às despesas com a instrução pública.
Provavelmente, viu o príncipe
recém-chegado que a aguardente tinha avantajado consumo entre os brasileiros,
daí ser uma boa fonte de renda. Dali em diante, Dom João não mais deixou de
tratar da instrução pública, quer dando-lhe regras organizativas, quer criando
mais escolas.
No tocante às escolas, algumas delas
foram criadas em Sergipe pelo príncipe refugiado na sua principal Colônia,
fugindo com sua Corte das agruras que lhe seriam impostas por Napoleão
Bonaparte, dada a aliança dos portugueses com a Coroa Inglesa. Assim, em 18 de
fevereiro de 1813, criou uma cadeira de “gramática latina na Freguesia de Nossa
Senhora do Socorro da Cotinguiba na Comarca de Sergipe de El-Rei”, sob parecer
do Conde dos Arcos, governador e capitão-general da Capitania da Bahia. Em 31
de maio do mesmo ano, foi criada uma “cadeira de primeiras letras para a educação
da mocidade na Freguesia de Santo Amaro das Brotas”.
Em 3 de junho de 1815, sendo a El-Rei
presente que “a povoação das Laranjeiras, na Comarca de Sergipe de El-Rei
compõe-se de grande número de habitantes; e não querendo que a mocidade dela
fique sem a instrução indispensável [houve] por bem criar nela uma cadeira de
primeiras letras”. Os filhos da futura “Atenas Sergipana”, ainda povoado,
haveriam de ilustrar-se.
Por Decreto de 31 de agosto de 1816,
já Dom João VI havendo-se como rei, após a morte de Dona Maria I, sua mãe, e o
Brasil estando na condição de compor o Reino Unido de Portugal, Brasil e
Algarves, desde o final de 1815, constando à “presença real a necessidade que
há para a instrução da mocidade, de uma cadeira de gramática latina na Villa de
Santo Amaro das Brotas, Comarca de Sergipe de El-Rei”, houve por bem ser criada
a referida cadeira.
É de lembrar que Dona Maria I
faleceu, no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1816. Apelidada de “a Piedosa” e
“a Louca”, foi Rainha de Portugal e Algarves de 1777 até 1815, e também Rainha
do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves a partir do final de 1815 até sua
morte.
De 1792 até seu falecimento, seu
filho Dom João atuou como regente do Reino em seu nome, devido à doença mental
que acometia a rainha. Era a filha mais velha do rei José I e sua esposa, a
infanta Mariana Vitória de Bourbon, da Espanha.
As cadeiras criadas em Sergipe no
tempo de Dom João, regente e rei, somaram-se às existentes, como anotou Maria
Thetis Nunes (in História da Educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Editora Paz e
Terra, 1984, p. 29). Das cadeiras de latim ou de filosofia por certo saíram
alguns dos nossos professores daquele tempo, à falta de escolas normais, que
somente seriam abertas décadas depois.
Os tempos exigiam que a mocidade
tivesse os necessários meios de sair da letargia que lhe era imposta pelo
analfabetismo. E, diga-se de passagem, Dom João criou diversas cadeiras de
primeiras letras, ou de outros níveis de ensino, nas mais diversas Províncias.
O mesmo haveria de fazer Dom Pedro I, príncipe regente e, mais tarde,
imperador, inclusive em Sergipe. Essa parte ficará para outro momento.
Não é de hoje nem de ontem que se diz
que uma Nação digna desse nome e condição deve erguer-se a partir da educação
de seus filhos e filhas. A esse propósito, diria José Antônio Pimenta Bueno, um
dos juristas e administradores públicos mais renomados do Império: “Desde que
se queira fundar uma nacionalidade, uma unidade popular, dever-se-á
necessariamente reconhecer que essa grande condição da integridade, da força
dos Estados está sobretudo na educação das gerações que se sucedem, até que a
ação do tempo e dos hábitos assim animada imprima e transmita a uniformidade
que para isso é indispensável”(in Direito Público Brasileiro e Análise da Constituição
do Império. Rio de Janeiro: Typographia Imp. e Const. De J. Villeneuve e C.,
1857, p. 169).
A educação em Sergipe, nos tempos
coloniais ou imperiais, andou a passos de cágado, como, ademais, assim mesmo
andava a Capitania e, depois, Província. Com a separação em face da Bahia, a
economia sergipana deu um salto e, com isso, a educação foi-se ajustando às
necessidades do povo, como era possível de o governo provincial vir a prover.
*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito das Universidade Federal de Sergipe, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras, da Academia Sergipana de Letras Jurídicas, da Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.